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Sem milk-shake no McDonald’s e frango no KFC: a crise no Reino Unido

Com a escassez de produtos e serviços aumentando a cada dia, o país passa por uma crise que vai muito além do que pode ser visto nas prateleiras

Reino Unido: país passa por uma crise de abastecimento sem precedentes.  (Matthew Horwood/Getty Images)

Reino Unido: país passa por uma crise de abastecimento sem precedentes. (Matthew Horwood/Getty Images)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 14 de setembro de 2021 às 13h07.

Última atualização em 15 de setembro de 2021 às 18h33.

Supermercados com prateleiras vazias, pubs sem cerveja, McDonald's sem milk-shake, KFC sem frango. Isso pode parecer uma cena de filme mas é, na verdade, a nova realidade do Reino Unido. Com a escassez de produtos e serviços aumentando a cada dia, o país passa por uma crise que vai muito além do que pode ser visto nas prateleiras -- ou a falta disso -- afetando toda uma cadeia de abastecimento.

As vagas de emprego cresceram 20% se comparadas ao nível pré-pandemia. A necessidade de mão de obra atingiu quase todas as profissões, incluindo programadores de computador, assistentes de saúde e trabalhadores agrícolas -- já que é um momento chave para as colheitas e os alimentos estão apodrecendo nos campos.

No entanto, o Reino Unido também tem quase 250 mil desempregados a mais do que antes da pandemia. E isso sem contar os cerca de um milhão de pessoas que ainda têm licença -- não trabalhando ou trabalhando meio período enquanto recebem subsídios salariais do governo. Muitos provavelmente perderão seus empregos quando o programa terminar neste mês.

O mercado de trabalho está em um impasse: os empregadores têm vagas para preencher e muitas pessoas estão procurando trabalho, mas as vagas não correspondem ao que as pessoas estão preparadas ou querem fazer. Os Estados Unidos estão passando pelo o mesmo problema e já ameaçam os enormes planos de construção de infraestrutura do presidente Biden.

Prateleiras vazias: problema passou a fazer parte do cotidiano no Reino Unido. (Matthew Horwood)

Mas qual a explicação desse cenário? Para especialistas, é uma combinação do Brexit com a pandemia, que acabou contribuindo para a escassez de trabalhadores e introduziu novas barreiras comerciais com a União Europeia.

A pandemia pressionou os produtores de alimentos e restaurantes para encontrar trabalhadores. Nos últimos meses, a falta de funcionários foi reforçada pelas regras do Reino Unido -- que foram derrubadas na última semana -- que exigem que as pessoas se isolem se entrarem em contato com alguém que tenha sido infectado com o coronavírus.

Mesmo sem essa regra, outros fatores mostram que o problema não desapareceu, como a falta de motoristas de caminhão que contribuiu para a interrupção do fornecimento de produtos. Segundo a Road Haulage Association, faltam no Reino Unido cerca de 100.000 caminhoneiros, 20.000 dos quais são cidadãos da UE que deixaram o país após o Brexit.

Para driblar esse obstáculo, cada empresa tenta encontrar uma saída. A varejista Tesco, por exemplo, tem oferecido aos motoristas de caminhão um bônus de adesão de mil libras. Já a Morrisons, informou que está trabalhando para treinar funcionários que podem se tornar motoristas de caminhão.

E as empresas já começaram a sentir os impactos. Dados da produção de agosto, divulgados pla IHS Markit, mostraram uma forte desaceleração da economia do Reino Unido. As empresas relataram restrições generalizadas à atividade empresarial devido à falta de funcionários e problemas da cadeia de abastecimento, com problemas principalmente nos setores de manufatura e serviços.

"A análise da pesquisa sugeriu que as incidências de redução da produção devido à escassez de pessoal ou materiais foram 14 vezes maiores do que o normal e as maiores desde o início da pesquisa em janeiro de 1998", afirmou a IHS Markit.

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