Santos diz que deixará governo da Colômbia orgulhoso, mas também frustrado
Presidente do país deixa o cargo na semana que vem lamentando não ter conseguido fazer mais para unir a nação e reduzir a desigualdade
Reuters
Publicado em 31 de julho de 2018 às 17h53.
Bogotá - O presidente da Colômbia , Juan Manuel Santos, que apostou seu legado no encerramento de uma guerra de cinco décadas com rebeldes marxistas, deixa o cargo na semana que vem satisfeito por ter supervisionado um acordo de paz histórico, mas frustrado por não ter conseguido fazer mais para unir a nação e reduzir a desigualdade.
Aclamado internacionalmente por negociar a paz com as antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia ( Farc ), Santos foi criticado por muitos colombianos que dizem que ele se vendeu aos rebeldes em troca do Prêmio Nobel da Paz e deixou o país mais perigoso.
Mas Santos, de 66 anos, diz que dorme bem de noite, orgulhoso de ter silenciado as armas das Farc e ter iniciado negociações com o Exército de Libertação Nacional (ELN), o último grupo rebelde ainda ativo na Colômbia.
"Tenho mais cabelos brancos agora e sou avô, mas estou calmo e muito satisfeito com os resultados", disse o presidente de dois mandatos à Reuters antes de passar a faixa para o presidente eleito de direita Iván Duque em 7 de agosto.
"Politicamente me sinto um pouco frustrado, gostaria de ter deixado o país mais unido. Acreditem, eu tentei, mas não foi possível."
Descendente de uma das famílias mais prósperas da nação, Santos não levava a crer que lideraria um processo de paz com as Farc, que confrontaram uma dúzia de governos durante um conflito que matou mais de 220 mil pessoas e deslocou milhões.
Ele foi um dos ministros da Defesa mais rígidos do país no governo do ex-presidente linha-dura Álvaro Uribe, infligindo alguns dos golpes mais duros no grupo e obrigando-o a se refugiar cada vez mais nas selvas antes de levá-lo à mesa de negociação.
Sua decisão pegou Uribe de surpresa e o transformou em um inimigo, que acusou seu antigo protegido de trair as vítimas das Farc e se mostrar incapaz de prender criminosos de guerra. Uribe afirma que o acordo com os guerrilheiros abriu caminho para novas gangues de criminosos.
Os antigos aliados passaram anos trocando farpas em confrontos públicos nos quais o poderoso Uribe e seu partido repudiaram o processo de paz, quase o inviabilizando completamente quando Santos convocou um referendo sobre o acordo final.
A rejeição na votação se tornou a maior crise política e frustração de Santos, que conseguiu aprovar um pacto renegociado no Congresso.
"Aquilo foi um balde de água fria que afetou todos nós", disse.
Embora a negociação de paz seja a parte mais duradoura de seu legado presidencial, Santos também observou uma queda no desemprego e um declínio na pobreza.
"Nós fomos o país latino-americano que mais reduziu a desigualdade, mas, ainda assim, a desigualdade aqui é vergonhosa", disse ele.
Santos pretende se afastar totalmente da política, escrever um livro e usar seu Prêmio Nobel para viajar o mundo fazendo palestras em prol da paz.