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Rússia e China denunciam escalada militar após teste de míssil dos EUA

Os Estados Unidos realizaram nesta segunda-feira seu primeiro teste com míssil de médio alcance após deixar tratado com a Rússia

EUA: Putin propõe uma moratória sobre a instalação das armas nucleares proibidas pelo tratado INF (AFP/AFP)
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AFP

Publicado em 20 de agosto de 2019 às 11h33.

Última atualização em 20 de agosto de 2019 às 11h36.

Rússia e China condenaram nesta terça-feira o primeiro teste dos Estados Unidos de um míssil de médio alcance desde a Guerra Fria, ao mesmo tempo que denunciaram o risco de uma "escalada" de tensões militares e de retomada da corrida armamentista.

O teste marca o fim do tratado de desarmamento INF, que aboliu o uso pelos Estados Unidos e Rússia de mísseis terrestres com alcance de 500 a 5.500 quilômetros, oficialmente suspenso há menos de um mês pelas duas potências rivais.

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O teste americano, que teve sucesso, aconteceu no domingo na ilha de San Nicolas, na costa da Califórnia, às 14H30 locais (18H30 de Brasília), segundo o Pentágono. O projétil era uma "variação de um míssil de cruzeiro de ataque terra-terra Tomahawk".

Imagens publicadas pelo exército americano mostram o míssil disparado a partir de um sistema de lançamento vertical Mark 41.

"Lamentamos tudo isto. O governo dos Estados Unidos toma de maneira flagrante o caminho de uma escalada de tensões militares, mas não cederemos à provocação", declarou o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov.

O governo da China criticou uma "escalada de confrontos militares que terá graves consequências negativas para a segurança regional e internacional". Pequim acusou Washington de buscar "a superioridade militar unilateral".

Rússia e Estados Unidos concretizaram no início de agosto o abandono do tratado sobre armas nucleares de médio alcance (INF), cuja assinatura no período final da Guerra Fria em 1987 acabou com a crise dos mísseis europeus, provocada pelo deslocamento na Europa dos SS-20 soviéticos com ogivas nucleares.

O presidente americano Donald Trump criticou o tratado no dia 1 de fevereiro e Moscou fez o mesmo no dia seguinte. Os países trocaram acusações de violação do texto.

Os americanos questionam especialmente o míssil russo 9M729, que tem alcance, segundo Washington, de 1.500 km, o que Moscou nega, insistindo que o novo projétil tem alcance máximo de "480 km".

A Rússia denuncia o sistema de defesa antimísseis americano Aegis Ashore, instalado na Polônia e na Romênia.

As forças dos Estados Unidos posicionam há muito tempo mísseis de cruzeiro de médio alcance a bordo de navios de guerra, que geralmente são disparados a partir de sistemas Mark 41.

A novidade no teste de domingo foi o sistema de lançamento instalado em terra. O míssil era convencional, mas qualquer míssil pode posteriormente ser equipado com uma ogiva nuclear.

Para Riabkov, o "prazo extremamente apertado" que Washington precisou para executar com sucesso o teste demonstra que o governo americano já estava preparado para o fim do tratado.

O diplomata afirmou que o uso do Tomahawk e do Mark 41 significa que "estes sistemas serão utilizados para o lançamento não apenas de mísseis interceptores, mas também de mísseis de cruzeiro", que têm longo alcance.

"Evitar o caos"

O presidente russo, Vladimir Putin, que visitou a França na segunda-feira, acusou Washington de "não ouvir" Moscou. "Os europeus devem nos escutar e reagir", disse.

No início do mês, Putin solicitou a Washington um "diálogo sério" sobre o desarmamento para "evitar o caos". Ele propôs uma moratória sobre a instalação das armas nucleares proibidas pelo tratado INF.

Putin ordenou em fevereiro o desenvolvimento de novos tipos de mísseis terrestres em dois anos, especialmente adaptando aparelhos de médio alcance já existentes mas posicionados no mar ou ar.

Também ameaçou instalar novas armas "invencíveis" desenvolvidas por seu país para atacar os "centros de decisão" nos países ocidentais.

Agora resta em vigor apenas um acordo nuclear entre os dois países: o tratado START, que mantém os arsenais nucleares dos dois países abaixo do nível da Guerra Fria e que expira em 2021.

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