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Revolução egípcia acabou com Mubarak, mas a tortura continua

A médica, que desde 2000 examina diferentes casos de torturados no centro onde trabalha

No segundo dia da primeira etapa das eleições egípcias, a praça continuou interditada ao tráfego e os manifestantes lutam para que o ânimo não diminua no local (Peter Macdiarmid/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 25 de janeiro de 2012 às 13h25.

Cairo - Quando os revolucionários egípcios saíram às ruas há um ano para pedir 'pão, liberdade e dignidade', nunca pensaram que muitos deles seriam depois humilhados, torturados e julgados pelos militares.

'Agora há mais brutalidade na tortura, porque o Exército a pratica diante das pessoas nas ruas, no Museu Egípcio e em lugares incomuns. Além disso, os maus-tratos são mais ferozes', diz à Agência Efe Mona Hamed, psiquiatra do Centro El Nadim, que reabilita vítimas da violência.

Mona compara assim os abusos cometidos pelos policiais durante a época do ex-presidente egípcio Hosni Mubarak e os praticados pelos militares aos revolucionários desde que a Junta Militar tomou o poder no país, no dia 11 de fevereiro do ano passado, após a renúncia do então líder.

De acordo com a psiquiatra, o Exército quer divulgar 'uma mensagem de humilhação dirigida aos manifestantes, para castigá-los pela revolução'.

Esta mesma mensagem foi transmitida diretamente aos jovens detidos pelos soldados que lhes maltratavam: ''Levante a cabeça, você é egípcio', lhes diziam enquanto eram espancados', acrescenta Mona, em alusão a um conhecido lema dos revolucionários.

A médica, que desde 2000 examina diferentes casos de torturados no centro onde trabalha, assegura que entre as piores práticas estiveram os chamados 'testes de virgindade', que os militares fizeram em março do ano passado em várias manifestantes.

Alguns detidos foram torturados este ano até a morte antes de serem apresentados à Procuradoria. 'Não esperava este tipo de tratamento por parte do Exército', destaca a psiquiatra.


Outro surpreendido foi o arquiteto Maged al-Samni, de 28 anos, que em novembro do ano passado ia à praça Tahrir diariamente para levar remédios, alimentos e cobertores aos manifestantes ali acampados, até que foi agredido por alguns soldados.

'Os mesmos remédios que eu tinha levado aos manifestantes foram utilizados para me curar quando soldados do Exército me deram uma surra e me arrastaram pelo chão na rua', afirma à Efe Samni, que vive em Alexandria.

'Dois soldados me ataram as mãos, outros dois me bateram com paus na cabeça, um outro me violentou sexualmente e outro esvaziou os bolsos das minhas calças', detalha.

Sem dizer nada, os uniformizados o arrastaram por 300 metros até a presença de um oficial do Exército, que o atingiu com dois golpes na cabeça.

'Nesse momento sangrava pela cabeça e pelos lábios. O oficial me perguntou de onde era e quando respondi que era egípcio, insistiu que eu era estrangeiro e que não falava bem árabe', explica.

Samni passou uma noite em um centro de detenção ao qual foi levado com outros 29 jovens sem nenhuma acusação, e ali foi espancado de novo, sem ser atendido por nenhum médico.

'Com a queda de Mubarak não diminuíram as torturas, mas aumentaram', lamenta o jovem, membro de um grupo contrário aos julgamentos militares aos civis.

Neste movimento, composto por ativistas, advogados e defensores dos direitos humanos, Samni pôde constatar que há milhares de revolucionários detidos, e outros ativistas e blogueiros civis que estão sendo julgados em tribunais militares.

Segundo o Centro El Nadim, nos seis meses posteriores ao dia 25 de janeiro de 2011 houve entre 12 mil e 16 mil casos de julgamentos militares a civis, frente aos 2 mil registrados durante os 30 anos do regime de Mubarak.

Um dos casos mais polêmicos foi o do blogueiro cristão copta Maikel Nabil, que em seu blog denuncia que o Exército torturou manifestantes dentro do Museu Egípcio do Cairo e fez 'testes de virgindade' em várias meninas.

Nabil, que fez greve de fome durante sua detenção, foi apresentado perante um tribunal militar e depois condenado por uma corte civil a dois anos de prisão por injúrias às Forças Armadas.

Pensando nos atos comemorativos do aniversário da Revolução de 25 de Janeiro, a Junta Militar indultou no sábado passado Nabil e outros 1.958 ativistas que estavam sendo julgados por tribunais militares.

Em declarações à Efe, o pai do blogueiro, Nabil Sanai, considera que a 'Junta Militar queria aplacar Maikel para que não escandalizasse'.

'Os militares tratam os revolucionários como se fossem inimigos', sentencia o pai do polêmico blogueiro.

Em seu relatório anual, apresentado nesta segunda-feira no Cairo, a organização Human Rights Watch denuncia que o Exército recorreu ao longo deste ano à força excessiva e à tortura, e para isso conta com a impunidade outorgada por seu status militar, que lhes protege de serem investigados pelas autoridades civis.

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'Agora há mais brutalidade na tortura, porque o Exército a pratica diante das pessoas nas ruas, no Museu Egípcio e em lugares incomuns. Além disso, os maus-tratos são mais ferozes', diz à Agência Efe Mona Hamed, psiquiatra do Centro El Nadim, que reabilita vítimas da violência.

Mona compara assim os abusos cometidos pelos policiais durante a época do ex-presidente egípcio Hosni Mubarak e os praticados pelos militares aos revolucionários desde que a Junta Militar tomou o poder no país, no dia 11 de fevereiro do ano passado, após a renúncia do então líder.

De acordo com a psiquiatra, o Exército quer divulgar 'uma mensagem de humilhação dirigida aos manifestantes, para castigá-los pela revolução'.

Esta mesma mensagem foi transmitida diretamente aos jovens detidos pelos soldados que lhes maltratavam: ''Levante a cabeça, você é egípcio', lhes diziam enquanto eram espancados', acrescenta Mona, em alusão a um conhecido lema dos revolucionários.

A médica, que desde 2000 examina diferentes casos de torturados no centro onde trabalha, assegura que entre as piores práticas estiveram os chamados 'testes de virgindade', que os militares fizeram em março do ano passado em várias manifestantes.

Alguns detidos foram torturados este ano até a morte antes de serem apresentados à Procuradoria. 'Não esperava este tipo de tratamento por parte do Exército', destaca a psiquiatra.


Outro surpreendido foi o arquiteto Maged al-Samni, de 28 anos, que em novembro do ano passado ia à praça Tahrir diariamente para levar remédios, alimentos e cobertores aos manifestantes ali acampados, até que foi agredido por alguns soldados.

'Os mesmos remédios que eu tinha levado aos manifestantes foram utilizados para me curar quando soldados do Exército me deram uma surra e me arrastaram pelo chão na rua', afirma à Efe Samni, que vive em Alexandria.

'Dois soldados me ataram as mãos, outros dois me bateram com paus na cabeça, um outro me violentou sexualmente e outro esvaziou os bolsos das minhas calças', detalha.

Sem dizer nada, os uniformizados o arrastaram por 300 metros até a presença de um oficial do Exército, que o atingiu com dois golpes na cabeça.

'Nesse momento sangrava pela cabeça e pelos lábios. O oficial me perguntou de onde era e quando respondi que era egípcio, insistiu que eu era estrangeiro e que não falava bem árabe', explica.

Samni passou uma noite em um centro de detenção ao qual foi levado com outros 29 jovens sem nenhuma acusação, e ali foi espancado de novo, sem ser atendido por nenhum médico.

'Com a queda de Mubarak não diminuíram as torturas, mas aumentaram', lamenta o jovem, membro de um grupo contrário aos julgamentos militares aos civis.

Neste movimento, composto por ativistas, advogados e defensores dos direitos humanos, Samni pôde constatar que há milhares de revolucionários detidos, e outros ativistas e blogueiros civis que estão sendo julgados em tribunais militares.

Segundo o Centro El Nadim, nos seis meses posteriores ao dia 25 de janeiro de 2011 houve entre 12 mil e 16 mil casos de julgamentos militares a civis, frente aos 2 mil registrados durante os 30 anos do regime de Mubarak.

Um dos casos mais polêmicos foi o do blogueiro cristão copta Maikel Nabil, que em seu blog denuncia que o Exército torturou manifestantes dentro do Museu Egípcio do Cairo e fez 'testes de virgindade' em várias meninas.

Nabil, que fez greve de fome durante sua detenção, foi apresentado perante um tribunal militar e depois condenado por uma corte civil a dois anos de prisão por injúrias às Forças Armadas.

Pensando nos atos comemorativos do aniversário da Revolução de 25 de Janeiro, a Junta Militar indultou no sábado passado Nabil e outros 1.958 ativistas que estavam sendo julgados por tribunais militares.

Em declarações à Efe, o pai do blogueiro, Nabil Sanai, considera que a 'Junta Militar queria aplacar Maikel para que não escandalizasse'.

'Os militares tratam os revolucionários como se fossem inimigos', sentencia o pai do polêmico blogueiro.

Em seu relatório anual, apresentado nesta segunda-feira no Cairo, a organização Human Rights Watch denuncia que o Exército recorreu ao longo deste ano à força excessiva e à tortura, e para isso conta com a impunidade outorgada por seu status militar, que lhes protege de serem investigados pelas autoridades civis.

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