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Revolução de Jasmim ganha adeptos no mundo árabe

Revolta na Tunísa leva países vizinhos a terem ondas de protestos contra ditaduras; Egito, Argélia, Jordânia e Iêmen têm manifestações

A Revolução de Jasmin, na Tunísia, derrubou Ben Ali do poder depois de 24 anos (Fred Dufour/AFP)

A Revolução de Jasmin, na Tunísia, derrubou Ben Ali do poder depois de 24 anos (Fred Dufour/AFP)

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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2011 às 13h32.

Dubai - Do Egito à Jordânia, passando pelo Iêmen, a "Revolução de Jasmim" começa a alcançar regimes árabes que estão no poder há décadas graças ao predomínio do medo, consideram analistas.

Depois de Túnis, "o assunto já não é qual será o seguinte, mas sim qual (regime) se salvará", afirma Amr Hamzawy, diretor de pesquisas da fundação Carnegie no Oriente, para quem as manifestações populares poderão alcançar a maioria dos países árabes, exceto as monarquias petroleiras do Golfo.

"Trata-se de uma verdadeira tendência regional, no Egito, Argélia, Jordânia, Iêmen, onde os cidadãos saem às ruas para exigir seus direitos sociais, econômicos e políticos", completou o analista.

"É uma dinâmica desencadeada no mundo árabe", disse o universitário Bourhan Ghalioun, autor em 1977 de um "Manifesto para a democracia" no mundo árabe.

"O que ocorreu em Túnis rompeu o costume do medo e mostrou que era possível - com uma velocidade surpreendente - derrubar um regime e que isso não é tão difícil como se imaginava", completou Ghalioun, diretor do Centro de Estudos sobre o Oriente Contemporâneo (CEOC), em Paris.

O Egito é palco desde terça-feira dos maiores protestos desde a chegada ao poder, em 1981, do presidente Hosni Mubarak, que podem intensificar-se ainda mais nesta quinta-feira à noite com o retorno do opositor Mohamed ElBaradei.

A febre chegou ao Iêmen, onde milhares de pessoas protestaram nesta quinta-feira para exigir a saída do presidente Ali Abdullah Saleh, no poder há 32 anos, enquanto a Irmandade Muçulmana da Jordânia - a principal força de oposição - chamaram a uma nova manifestação na sexta-feira.

Ghalioun descartou, no entanto, a possibilidade de um "contágio mecânico" por conta das especificidades de cada país, e afirmou "que nenhum processo de mudança parecerá com os outros".

Mas os movimentos de protesto que começaram a alcançar os regimes árabes têm um ponto em comum: são conduzidos em especial por jovens e pela classe média, através da Internet e das redes sociais.

"É o resultado do que os regimes autocráticos fizeram à política no mundo árabe: os partidos de oposição foram debilitados ou sistematicamente isolados, e são então os cidadãos os que se mobilizam agora", completou Hamzaui.

Os protestos revelaram sobretudo até que ponto muitos regimes, cujos líderes estabelecem recordes de longevidade no poder, carecem de legitimidade popular.

"A legitimidade não pode ser construída com repressão nem com a negação dos direitos políticos e sociais", assegurou Hamzaui.

"Ninguém pode aceitar isso no século XXI, e os árabes não são a exceção".

Em alguns países, os dirigentes começaram a ceder, como na Jordânia, onde o rei Abdullah II prometeu "adiantar-se" nas reformas políticas e econômicas, ou no Iêmen, onde o presidente Saleh assegurou que não pensava transmitir o poder a seu filho.

Mas no mundo árabe, onde "a maioria dos regimes são vistos pela maioria da população como máquinas de opressão, corrupção e destruição", para retomar as palavras de Ghalioun, ainda não se sabe se essas reformas serão suficientes.

Para Ghassan Charbel, redator-chefe do influente jornal pan-árabe Al Hayat, os "regimes árabes escutam as reivindicações populares e decidem comprometer-se com verdadeiras reformas, ou continuam apoiando-se nos aparatos de segurança, e nesses casos, os regimes poderão ser derrubados" um após o outro.

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