Relatório denuncia manuais "medievais" da mesquita de Bruxelas
Manuais são usados pelos cursos em árabe dados a estudantes da escola islâmica da Grande Mesquita de Bruxelas
AFP
Publicado em 11 de maio de 2018 às 21h51.
A agência belga encarregada de analisar a ameaça terrorista está preocupada com os meios "ilimitados" disponíveis para alguns países do Golfo, entre eles a Arábia Saudita, para difundir um Islã radical "medieval", hostil em relação aos judeus e aos homossexuais, segundo um informe que será debatido no Parlamento belga.
Este relatório do Órgão de coordenação para a análise das ameaças (Ocam), do qual à AFP obteve uma cópia nessa sexta-feira (11), se baseia nos manuais utilizados pelos cursos em árabe dados aos estudantes da escola islâmica da Grande Mesquita de Bruxelas, uma instituição que está na mira do governo.
Neste espaço financiado pela Arábia Saudita através da Liga Islâmica Mundial, o Ocam aponta o "conteúdo conflitivo no plano do radicalismo, da xenofobia e do antissemitismo" desse material pedagógico que serve para formar os futuros imãs.
Além das escrituras que descrevem os judeus como "pessoas corruptas, malvadas e traidoras", outros também descrevem "a guerra" que supõe que cada muçulmano sunita deve enfrentar aqueles que não são. Os textos propõem ainda formas para matar homossexuais, como "apedrejar", "disparar" ou lançá-los "do telhado do edifício mais alto do povoado".
"Os manuais religiosos de orientação salafista são distribuídos amplamente na Bélgica e em seus países vizinhos, tanto na versão impressa como digital, graças às possibilidades financeiras e tecnológicas ilimitadas disponíveis para o aparato de proselitismo da Arábia Saudita e os países do Golfo", afirma o documento.
O relatório será debatido na quarta-feira à portas fechadas pela comissão parlamentar que acompanhou a investigação dos atentados extremistas da Bruxelas que deixaram 32 mortos em 22 de março de 2016. No debate estará o mais alto funcionário da Ocam, Paul Van Tigchelt, informaram dois deputados à AFP.
No final de 2017, em suas conclusões, a comissão de investigação criticou o islã "salafo-wahabita" da Grande Mesquita. Em resposta a seu pedido, o governo anunciou em março a ruptura da concessão de meio século.
No entanto, a implementação desta decisão é lenta de acordo com o deputado centrista Georges Dallemagne. "É urgente fechar esta instituição escolar", disse.
Este relatório de cerca de 40 páginas, classificado como "muito chocante" pela comissão, indica que França e Holanda também figuram entre os países onde livrarias e sites vendem livremente "O caminho do muçulmano", uma obra que afirma que a "jihad armada é a expressão mais nobre da prática religiosa" e que há que se preparar para isso.