Reino Unido manda enviado ao Afeganistão negociar com Talibã
Grupo é acusado de violação de direitos humanos, principalmente das mulheres, e de ligação com o crime organizado global
AFP
Publicado em 5 de outubro de 2021 às 13h37.
Líderes talibãs se reuniram nesta terça-feira (5) em Cabul com o enviado do Reino Unido, Simon Gass, em um momento em que o novo governo busca romper seu isolamento diplomático e tranquilizar a comunidade internacional, sobretudo no que diz respeito à educação das meninas.
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Até agora, nenhum país reconheceu o novo governo islâmico, que tomou o poder no Afeganistão há 50 dias. Diante do temor de uma grave crise humanitária neste país totalmente dependente da ajuda internacional após 20 anos de guerra, as manobras diplomáticas se multiplicam para tentar encontrar compromissos.
O Talibã é acusado de ligações com o crime organizado internacional -- segundo dados da ONU, o grupo domina o cultivo e o comércio de papoula, planta a partir da qual é fabricada a heroína. Além disso, os talibãs costumam impor um rígido código de conduta nas regiões que controla, proibindo mulheres de exercer atividades profissionais e meninas de irem à escola. Nesse contexto, a construção de laços diplomáticos com o grupo não é vista com bons olhos pela comunidade internacional.
O enviado do Reino Unido para o Afeganistão, Simon Gass, reuniu-se com dois funcionários de alto escalão do governo talibã: o ministro das Relações Exteriores, Amir Khan Muttaqi; e o vice-primeiro-ministro, Abdul Ghani Baradar, informou a Chancelaria britânica em um comunicado.
Eles abordaram "a crise humanitária no Afeganistão, a forma de impedir que o país volte a ser um foco do terrorismo internacional e a necessidade de permitir a afegãos e estrangeiros saírem do país, se assim desejarem", disse a diplomacia britânica.
O porta-voz do Ministério afegão das Relações Exteriores, Abdul Qahar Balkhi, publicou tuítes e fotos da reunião. No encontro, segundo ele, houve "discussões detalhadas sobre a reativação das relações diplomáticas bilaterais".
O Ministério britânico das Relações Exteriores foi muito mais prudente, declarando que, durante a conversa, também foi discutido o "tratamento às minorias e os direitos das mulheres e meninas".
Os ocidentais condicionaram qualquer relação duradoura com os talibãs à garantia dos direitos das mulheres. Até agora, alguns gestos mínimos foram feitos nesse sentido.
Na província de Kunduz, no norte do Afeganistão, as meninas retornaram a algumas escolas, anunciaram nesta terça-feira uma autoridade afegã e professores. A medida ainda não se aplica ao restante do país.
Um porta-voz do movimento publicou um vídeo de dezenas de meninas voltando às aulas. A maioria delas usava o uniforme escolar tradicional das meninas afegãs: uma longa túnica preta e um véu branco na cabeça, e outras, um niqab preto.
As escolas afegãs reabriram em meados de setembro, mas apenas para os meninos.
As mulheres têm acesso apenas ao ensino fundamental e a universidades privadas, desde que usem o véu completo e não se misturem com os homens.
A comunidade internacional condenou essas medidas e teme que os talibãs estejam impondo o mesmo tipo de governo fundamentalista e brutal de quando estiveram no poder, entre 1996 e 2001.