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Quem é a jornalista da CNN cobrindo a guerra no Afeganistão

A jornalista americana Clarissa Ward, correspondente chefe da CNN, tem chamado atenção com sua cobertura em solo no Afeganistão, apesar do risco frente ao Talibã

Clarissa Ward em cobertura em Cabul: a jornalista começou a carreira pouco após o 11 de setembro (CNN/Reprodução)
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Carolina Riveira

Publicado em 18 de agosto de 2021 às 16h33.

Última atualização em 20 de agosto de 2021 às 12h27.

Enquanto o mundo assistia às trágicas cenas em Cabul, capital do Afeganistão , uma jornalista de 41 anos, coberta com véu, um manto " abaya" preto e celular em punho, percorria as ruas da cidade de 4 milhões de habitantes.

Não é um fato trivial. O Afeganistão ficou ainda mais perigoso para mulheres desde o retorno do Talibã que, da última vez que esteve no poder, as proibiu de circular desacompanhadas e ir à escola.

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Mas sempre com precisão e uma calma surpreendente diante da situação, a jornalista Clarissa Ward segue descrevendo a milhões de espectadores os desdobramentos no Afeganistão, que no domingo, 15, foi reconquistado pelo Talibã após a retirada das tropas americanas.

"Esta é uma cena que eu achava que nunca veria. Dezenas de soldados do Talibã e, logo atrás de nós, a embaixada dos EUA", reportava Ward em vídeo logo após a queda de Cabul, falando em frente aos próprios militantes do Talibã que a observavam (veja abaixo).

Nesta quarta-feira, 18, outra de suas aparições ao vivo chamou atenção depois que ela reportou que tiros estavam sendo disparados no perímetro onde estava, perto do aeroporto de Cabul.

O aeroporto é palco de cenas de caos nos últimos dias com civis afegãos e membros de embaixadas estrangeiras tentando deixar o país. "Definitivamente está perigoso", disse.

Veterana da cobertura de guerras e política externa americana no Oriente Médio, Clarissa Ward cobre a situação no Afeganistão pela emissora de TV americana CNN, onde trabalha desde 2015.

Ward tem experiência em situações do tipo, já tendo coberto guerras como no Iraque, na Síria e no Iêmen e trabalhado pelas principais redes de TV americanas, como ABC, CBS e Fox.

No ano passado, por exemplo, ela passou 36 horas com o próprio Talibã para uma reportagem especial da CNN.

Mas em cada aparição reportando as cenas em Cabul, a desenvoltura e a coragem de Ward são elogiadas pelos espectadores. "Estamos preocupados com sua segurança!", disse um usuário no Twitter.

Formação e experiência

Ward é mãe de dois filhos (de 1 e 3 anos) e casada com o alemão Philipp von Bernstorff. Quando não está no exterior a trabalho, mora em Londres, no Reino Unido.

A jornalista oficialmente nasceu em Londres, onde parte de sua família vivia, embora também seja considerada uma nativa de Nova York, nos Estados Unidos, onde ficaria baseada em boa parte da vida.

Na faculdade, Ward se formou em literatura comparada na Universidade de Yale, umas das mais prestigiadas dos EUA (é comum, no país, estudar temas diversos durante a graduação). Após se formar, no entanto, começou a carreira trabalhando com jornalismo.

Seu primeiro emprego foi como assistente na Fox News, trabalhando no horário da madrugada em Nova York. Depois, virou editora, quase sempre nas coberturas de assuntos internacionais do veículo.

A carreira jornalística de Ward começou pouco depois do 11 de setembro, atentados que marcariam a história dos EUA e fariam o governo George W. Bush iniciar a "guerra ao terror", invadindo países como Afeganistão e Iraque.

Quando a Al Qaeda orquestrou os ataques, ela estava no último ano de faculdade.

Neste cenário movimentado da política externa americana, Ward acabou se consolidando na cobertura dos assuntos além da fronteira, com grande foco nas guerras americanas no Oriente Médio.

Assim, anos depois de ingressar no jornalismo, a repórter saiu de Nova York e começou uma bem-sucedida carreira como correspondente internacional.

Ward fala ou tem algum conhecimento em sete línguas, no geral nativas de lugares pelos quais ela já passou.

A jornalista é fluente em inglês, francês e italiano e fala razoavelmente árabe, russo (ela já foi correspondente em Moscou entre 2007 e 2010) e espanhol, além de algum conhecimento em mandarim (que aprendeu após ser correspondente em Pequim até 2011).

Na CNN desde 2015, Ward se tornou em 2018 correspondente chefe internacional, no lugar da também renomada jornalista Christiane Amanpour.

Apesar da experiência elogiada no Afeganistão, o trabalho de Ward já sofreu críticas, muitas relativas à visão focada nos interesses dos EUA em suas coberturas de guerras no Oriente Médio.

Neste ano, na cobertura da crise em Myanmar, ela também foi criticada por jornalistas locais por estar fazendo, segundo eles, jornalismo "de paraquedas" e colocando em risco a segurança de algumas fontes que apareceram em suas reportagens.

Já o senador republicano Ted Cruz a chamou de cheerleader do Talibã, fazendo referência a uma "líder de torcida" e acusando a jornalista de fazer reportagens positivas ao humanizar o grupo.

Jornalistas sob o Talibã

Ward se tornou um dos símbolos de uma série de jornalistas mulheres que ainda seguem trabalhando em reportagens em Cabul, apesar de todos os riscos envolvidos.

Em uma cena histórica desse movimento, a jornalista Beheshta Arghand, da rede de televisão Tolo News, disponível em todo o território do Afeganistão, entrevistou presencialmente o líder talibã Mawlawi Abdulhaq Hemad nesta semana.

Analistas têm comentado que a autorização do Talibã para a entrevista com uma jornalista mulher pode ser sinal de que o grupo esteja tentando moderar as ações, ao contrário do que ocorreu da última vez em que comandou o Afeganistão, de 1996 a 2001, período marcado por graves ataques aos direitos das mulheres.

No entanto, organizações de direitos humanos e as próprias mulheres afegãs ainda têm dúvidas sobre como serão as condições a partir de agora.

Em uma entrevista na terça-feira, 17, em Doha, no Catar, Suhail Shaheen, outro porta-voz dos talibãs, disse ao canal Sky News que as meninas "podem receber educação do nível básico até a universidade".

Porta-vozes afirmaram que a burca não será obrigatória e que outro tipo de hijab (véu que cobre os cabelos) poderia ser suficiente, ao mesmo tempo que indicaram que as mulheres teriam autorização para trabalhar "respeitando os princípios do Islã" - embora sem especificar quais princípios são esses.

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