Putin admite fracasso na Síria e propõe plano para Oriente Médio
Putin lamentou que na Síria "não esteja sendo possível deter o derramamento de sangue e iniciar o processo político"
EFE
Publicado em 27 de outubro de 2016 às 17h40.
Moscou - O presidente da Rússia, Vladimir Putin , admitiu nesta quinta-feira que seus acordos com a presidência dos Estados Unidos fracassaram na hora de deter o derramamento de sangue na Síria e responsabilizou certos "círculos" dos Estados Unidos.
"Não funcionaram nossos acordos pessoais com o presidente dos Estados Unidos (Barack Obama). Em Washington, houve círculos que fizeram o possível para que não fossem levados à prática", garantiu o presidente russo.
Putin, que fez essas afirmações no fórum internacional de debate "Valdai" no balneário de Sochi, às margens do Mar Negro, lamentou que na Síria "não esteja sendo possível deter o derramamento de sangue e iniciar o processo político".
"Parecia que, após longas negociações, enormes esforços e compromissos difíceis, finalmente conseguiríamos articular uma frente única de luta contra o terrorismo, mas isso não aconteceu", acrescentou o chefe do Kremlin.
Putin, que propôs uma frente única contra o terrorismo internacional há um ano na ONU, garantiu que a proposta continua sobre a mesa.
"Tudo isso demonstra o afã inexplicável, eu diria que irracional, dos países ocidentais de repetir várias vezes seus erros ou, como diz o dito popular, de tropeçar sempre na mesma pedra", afirmou Putin.
Além disso, o líder russo advertiu que os que "flertam" com os terroristas sempre perdem, em alusão ao fato de que os EUA, segundo o Kremlin, estariam protegendo a Frente da Conquista do Levante, a antiga Frente al Nusra, que era o braço sírio da Al Qaeda.
"Quero me dirigir mais uma vez a essa gente: neste caso, os extremistas são mais astutos, mais prontos e mais fortes que vocês, e, ao flertar com eles, sempre vão perder", disse Putin.
O líder russo denunciou que "os grupos terroristas continuam sendo armados e instruídos (pelos EUA e os países do ocidente) com a esperança de que possam ser utilizados, como ocorreu no passado, para seus objetivos políticos".
"Esse é um jogo muito perigoso", comentou Putin, que também negou que os bombardeios russos contra a cidade síria de Aleppo tenham provocado um aumento do número de combatentes terroristas.
Para Putin, os terroristas apareceram na Líbia, no Iraque e na Síria apenas depois que o Ocidente destruiu esses Estados, deixando um "vazio de poder" que foi preenchido pelos extremistas.
"Não temos dúvida alguma: a soberania é a ideia principal por trás de todo o sistema de relações internacionais. Seu respeito é a chave para a paz e a estabilidade em nível nacional e internacional", comentou o chefe do Kremlin.
Putin também pediu que a comunidade internacional não focasse apenas nas vítimas civis dos bombardeios em Aleppo, mas também na atual operação ocidental para expulsar o grupo jihadista Estado Islâmico e recuperar o controle da cidade iraquiana de Mossul e suas ações em outros países, como Afeganistão e Iêmen.
"Vamos falar também sobre as campanhas nas quais muitos morrem agora em Mossul? Mais de 200 civis foram fuzilados pelos terroristas com a esperança de conter a ofensiva", disse Putin.
O líder do Kremlin lembrou que as aviações russa e síria já suspenderam há dez dias seus bombardeios contra Aleppo, e que, na reunião do G20 em setembro, Obama prometeu separar a oposição armada síria dos terroristas, sete dias depois do cessar-fogo, algo que não ocorreu.
Sobre isso, Putin garantiu que é "muito difícil" dialogar com a o atual Executivo dos EUA, já que este "quase não cumpre nada de nenhum acordo, inclusive sobre a Síria", e se mostrou disposto a dialogar com o próximo presidente dos Estados Unidos.
Além disso, Putin propôs desenvolver uma espécie de Plano Marshall para a reconstrução dos países do Oriente Médio destruídos pela guerra, como a Síria.
"A magnitude colossal da destruição exige a elaboração de um programa de longo prazo, uma espécie de Plano Marshall para a reconstrução desta região, assolada por guerras e conflitos", comentou o presidente da Rússia.
Putin também ressaltou que "a Rússia está disposta a participar ativamente nesse trabalho conjunto".
Por outro lado, o chefe do Kremlin tachou de "histeria" as denúncias sobre a suposta ingerência da Rússia nas eleições presidenciais nos EUA.
"Por acaso os Estados Unidos são uma república das bananas? Os EUA são uma grande potência. Como a Rússia poderia influenciar nas decisões do povo americano?", perguntou.
Putin também disse que não passa de "bobagem" a afirmação de que o republicano Donald Trump é o "candidato de Moscou". Para o líder russo, o magnata representa os interesses dos norte-americanos que estão "fartos" das elites que governam em Washington há décadas.
O líder russo acrescentou que é "algo muito rentável" aludir à ameaça de "hackers, espiões e agentes de influência russos" como um pretexto para desviar a atenção dos problemas reais da sociedade americana.
"Eles se utilizam permanentemente de ameaças inventadas sobre a ameaça militar russa. Efetivamente, é rentável, já que assim podem aprovar novos orçamentos militares nos países e reunir aliados em torno de uma única grande potência", garantiu Putin.
O presidente russo acrescentou que "é conveniente se apresentar a si mesmo como defensor da civilização, mas a Rússia não tem a intenção de atacar ninguém". "Isto é irrisório", enfatizou.