Biólogo do Projeto Tamar : os ativistas têm que estar atentos à data aproximada de nascimento das tartarugas para ajudá-las a se dirigir ao mar (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2012 às 13h41.
Praia do Forte - Os protetores das tartarugas marinhas encaram a nova temporada de desova dos quelônios, que começou no último mês, com um grande desafio: alcançar a meta de 15 milhões de filhotes salvos e soltos no mar.
Esse é o objetivo do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Tartarugas Marinhas (Tamar), organização que em 32 anos salvou cerca de 13,7 milhões de filhotes e que espera conduzir ao mar outros 1,5 milhões na atual temporada de desova, que só terminará em março de 2013.
"Se mantermos a média das últimas temporadas (1,2 milhões de filhotes salvos), poderemos celebrar essa meta ambiciosa e, ao mesmo tempo, fundamental para as cinco espécies de tartarugas marinhas que costumam visitar a costa brasileira, todas ameaçadas de extinção", afirmou à Agência Efe o oceanógrafo Guy Marcovaldi, diretor do Tamar.
A tarefa não é fácil porque exige atenção às milhares de fêmeas que, como se tivessem bússola ou GPS, retornam todos os anos à praia em que nasceram para cavar um ninho e por seus ovos, que depois são cobertos novamente com areia.
A missão também implica a marcação dos ninhos espalhados ao longo dos 900 quilômetros do litoral brasileiro para impedir que os mesmos sejam pisoteados ou destruídos acidentalmente; colocar proteções para evitar o ataque de animais e predadores, e conscientizar pescadores, banhistas e turistas sobre a necessidade de recuperar as povoações de tartarugas.
Os ativistas também têm que estar atentos à data aproximada de nascimento das tartarugas para ajudá-las a se dirigir ao mar, um processo que também precisa da colaboração dos hoteleiros.
Para não desorientar as tartarugas recém-nascidas e, consequentemente, condená-las à morte por desidratação, os estabelecimentos próximos à praia não devem apontar luzes em direção à areia.
"Uma de nossas principais conquistas foi a aprovação das normas que proíbem o uso de luzes artificiais e a passagem de veículos nas praias em que as tartarugas se reproduzem", explicou Marcovaldi na base do Tamar na Praia do Forte, situada a cerca de 100 quilômetros de Salvador.
A região da Praia do Forte, uma antiga vila de pescadores transformada em centro turístico, concentra a maior quantidade de ninhos do país.
O projeto também ajudou a impulsionar as leis que proíbem a caça de tartarugas, a retirada de ovos dos ninhos e o uso dos cascos em artesanatos.
Nesta árdua tarefa, os ativistas do Tamar contam com a ajuda dos pescadores locais, alguns dos quais no passado se dedicavam à caça das tartarugas para vendê-las em restaurantes que as ofereciam como prato exótico.
Agora, os pescadores recebem um subsídio para percorrer todos os dias um trecho da praia, pelo qual cada um é responsável, na busca dos rastros das tartarugas e dos ninhos.
Todos esses esforços permitiram que, na última temporada, a organização conseguisse localizar e proteger 18,5 mil ninhos e colocar 1,4 milhões de filhotes no mar, embora só uma a cada mil chegará a vida adulta reprodutiva.
O Projeto Tamar, uma organização financiada pela Petrobras e associada ao Ministério do Meio Ambiente, também conseguiu observar e marcar 1,5 mil fêmeas em processo reprodutivo na última temporada.
Com 16 bases, distribuídas entre Sergipe, Bahia, Rio Grande do Norte, Espírito Santo e Rio de Janeiro, o Tamar também alcançará a marca dos 15 milhões de visitantes neste ano.
Entre os destaques da última temporada, esteve o significativo aumento do número de desovas das tartarugas de couro (Dermochelys coriacea), cujo número de ninhos passou de 16 em 2011 para 97 em 2012. Esta é a maior tartaruga marinha do mundo, que chega a medir até dois metros, e uma das mais ameaçadas de extinção.
Em relação à última temporada de desova, o Tamar também destacou o aumento de 20% do número de ninhos da tartaruga olivácea (Lepidochelys olivacea), que passou de 6,6 mil a 7,9 mil em um ano.
As outras duas espécies que costumam visitam o litoral brasileiro são a tartaruga boba ou caguama (Caretta caretta) e a tartaruga marinha (Eretmochelys imbricata).
Além disso, o Projeto Tamar também ajuda a cuidar dos ninhos da tartaruga verde (Chelonia mydas), que desova nas ilhas oceânicas em frente à costa brasileira.