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Primeira apresentadora de TV transexual rompe barreiras no Paquistão

"Estou orgulhosa de ter feito algo pela comunidade trans e quero fazer mais", declarou

Marvia Malik no estúdio da TV Kohenoor (Zile Huma/Reuters)

Marvia Malik no estúdio da TV Kohenoor (Zile Huma/Reuters)

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EFE

Publicado em 31 de março de 2018 às 12h08.

Islamabad, 31 mar (EFE).- Marvia Malik começou a mudar paradigmas no Paquistão ao se tornar a primeira transexual a apresentar um programa de TV no país, uma conquista que a jovem espera que ajude a integrar uma comunidade que vive relegada à escuridão em uma sociedade conservadora.

A apresentadora do jornal da noite da emissora "Kohenoor" acredita estar "fazendo história", afastando a imagem de que os trans devem trabalhar apenas com prostituição, dança ou cair na mendicância, um destino comum para muitos deles.

"Está acontecendo uma mudança na sociedade e as pessoas estão aceitando agora", disse a jovem, de 21 anos, à Agência Efe.

Malik estreou como apresentadora no último dia 24 e já recebeu inúmeras ligações e mensagens de parabéns, enquanto as redes sociais paquistanesas transbordam de apoio. Em dezembro, ela se apresentou para a entrevista no canal "Kohenoor", na cidade de Lahore, que procurava novos profissionais e, para a sua própria surpresa, foi contratada.

"Consegui uma coisa que achava que nunca iria conseguir. As lágrimas caíram pelo meu rosto", recordou ela, acrescentando que se trans têm oportunidades podem se destacar em qualquer setor.

O país islâmico não oferece oportunidades à comunidade transexual que, discriminada já no âmbito familiar, tem poucas opções para ganhar dinheiro.

Ela mesma já enfrentou muitos problemas e, entre outras situações, não pôde terminar os estudos - por motivos que preferiu não revelar. Há um ano e meio foi expulsa da sua casa pela família. Sofreu assédio, maus-tratos, ouviu piadas de mau gosto e tudo ficou impune.

Depois de largar os estudos aos 16 anos, começou a trabalhar como maquiadora. Com o dinheiro que conseguiu pagou a faculdade de comunicação.

"As pessoas estão convictas de que podem fazer o que quiserem porque sabem que ninguém vai nos defender", destacou.

A rejeição e a violência contra os trans não para por aí. Embora no Paquistão não existam dados oficiais de violência contra esse grupo, a ONG Transaction Alliance, com sede em Khyber Pakhtunkhwa, indicou que só nessa província 54 foram assassinados e 400 sofreram maus-tratos de 2015 para cá.

Para fazer frente a esta situação, o Senado paquistanês aprovou por unanimidade em 7 de março a primeira lei que garante direitos aos transexuais, estabelece que podem herdar propriedades e proíbe a discriminação em instituições de ensino e no âmbito corporativo. O projeto, que ainda tem que passar pelo Congresso, ainda obriga o governo a oferecer empréstimo para a abertura de negócios e a garantir oportunidades de trabalho.

Para Malik, a lei ajudará na aceitação e na garantia de direitos.

Esta determinação se une a uma sentença de 2009 do Tribunal Supremo que reconheceu a existência do "terceiro sexo" para os documentos oficiais e a uma sentença, três anos depois, emitida pelo mesmo órgão, que determinou a igualdade de direitos aos demais cidadãos.

No ano passado, os trans foram incluídos no censo nacional pela primeira vez como uma "categoria à parte", totalizando 10.418 pessoas, de um total de 207 milhões de habitantes do país.

Apesar da evolução na garantia de direitos, a discriminação e a violência continuam. Na última semana de março, um trans e o amigo que a acompanhava foram mortos a tiros na cidade de Peshawar.

Mas tudo isso não assusta mais Malik.

"Estou orgulhosa de ter feito algo pela comunidade trans e quero fazer mais", declarou. EFE

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