Praça Tahrir no Egito: Irmandade Muçulmana surge como ator político importante (Mohamed Hossam/AFP)
Da Redação
Publicado em 24 de junho de 2012 às 14h03.
Bagdá - A "Primavera Árabe", saudada no mundo inteiro como o amanhecer da democracia numa região dominada por meio século de ditaduras, favoreceu o florescimento do movimento islamita Irmandade Muçulmana, transformado, agora, em força política.
Apresenta-se, inclusive, com possibilidade de sair vitorioso nas próximas eleições - em parte, devido à debilidade de seus adversários -, especialmente no Egito e na Tunísia, mas a maioria dos analistas antecipa que o grupo tratará de compartilhar o poder, pelo menos num primeiro tempo.
"A Irmandade Muçulmana é, hoje, no Egito, na Tunísia ou em outros países como a Líbia, uma peça importante do tabuleiro político", afirma François Burgat, especialista na região.
"(...) Não é impossível que seus integrantes obtenham a maioria (nas eleições legislativas). Mas, tanto na Tunísia como no Egito, não têm no momento a intenção de apresentar um candidato oficial à presidência da República", acrescenta.
A organização, fundada em 1928 pelo egípcio Hassan Al Bana, é o movimento islamita mais influente do mundo árabe. Tem como divisa "Deus é nosso objetivo. O profeta Maomé é nosso chefe. O Corão é nossa lei", mas converteu-se há alguns anos à "democracia".
A Irmandade, reprimida pelos ex-presidentes tunisiano Zine El Abidine ben Ali e o egípcio Hosni Mubarak, aparece agora como um ator político de importância.
Os egípcios votaram em massa (77%) "sim" no referendo sobre a revisão da Constituição proposta pelo Exército e apoiada pela Irmandade Muçulmana.
O movimento, mais bem organizado que os demais, fundou o partido "Liberdade e Justiça", que só entrará na disputa na metade das circunscrições, durante as legislativas do outono (boreal), e não terá candidato à presidência.
No entanto, poderia dominar o cenário político graças a alianças, embora esteja um tanto fragilizado com a dissidência de vários jovens que questionam o conservadorismo de seus dirigentes mais veteranos.
Na Tunísia, o Enahda (Renascimento) adota uma tática semelhante. Seu líder, Rashed Ganuchi, afirmou à AFP que seu partido era "o maior", e que um "governo sem o Enahda seria muito débil". No entanto, é favorável a "compartilhar" o poder.
Segundo as pesquisas, o movimento conta com o maior número de intenções de voto na eleição de 23 de outubro da Assembleia Constituinte, além de contar com meios financeiros significativos.
Para John L. Esposito, professor especialista de religiões e assuntos internacionais da Universidade de Georgetown (Estados Unidos), "a Irmandade Muçulmana, no Egito, e o Enahda, na Tunísia, estão muito bem organizados (...) mas isso não quer dizer que vão governar".
Vários regimes apresentaram estes movimentos islamitas como instigadores da "Primavera Árabe", mas é realmente difícil saber qual foi sua verdadeira influência.
Na Líbia, o vice-ministro das Relações Exteriores, Khaled Kaaim, considera que no seio do Conselho Nacional de Transição (CNT, liderança política dos rebeldes), a Irmandade Muçulmana "é a mais ativa e a mais envolvida".
Na Síria, o poder assegura que a revolta contra o regime pressupõe o ressurgimento da rebelião da Irmandade Muçulmana, esmagada em 1982.
No Iêmen, o principal componente da oposição parlamentar é apresentado pelo regime como a força que estimula as manifestações, acusado de manter vínculos com a Al-Qaeda.
"O objetivo da Irmandade Muçulmana é, nesta fase, participar do governo, mas não governar. (...) A tática é realista, mas é óbvio que a Irmandade Muçulmana tem a ambição de chegar ao poder, embora isso leve tempo", opina o jornalista e escritor libanês Hazem Al-Amin, especialista no assunto.