Portugal: Centro-direita faz acordo com socialistas para destravar votação para o Legislativo
José Pedro Aguiar-Branco, do PSD, vai presidir a Assembleia Nacional por dois anos, período após o qual deve renunciar para que seja escolhido um candidato de esquerda, com apoio de seu partido
Agência de notícias
Publicado em 27 de março de 2024 às 17h27.
Última atualização em 27 de março de 2024 às 17h40.
Forças rivais na política portuguesa , o Partido Social Democrata ( PSD ), de direita, e o Partido Socialista (PS), de esquerda, chegaram a um acordo para dividir a presidência da Assembleia Nacional pelos próximos quatro anos. O acordo, alcançado nesta quarta-feira, destra um impasse que havia forçado três rodadas de votação sem que nenhum vencedor.
José Pedro Aguiar-Branco, do PSD, foi eleito presidente da Assembleia Nacional nesta quarta-feira, com 160 votos a favor, com apoio da bancada do PS. Pelo acordo costurado entre os partidos, Aguiar-Branco ocupará o cargo por dois anos, devendo, ao fim do período, pedir a renúncia da função e abrir espaço para que um candidato socialista seja escolhido, com apoio do PSD.
A negociação foi a única saída encontrada pelas principais forças da política portuguesa diante de um parlamento fragmentado. Após as eleições do começo de março, nenhum dos partidos garantiu maioria na Assembleia Nacional — e ainda presenciaram um crescimento do Chega, partido de extrema direita, que se consolidou como terceira força da política nacional.
Apesar de também integrar o campo da direita política em Portugal, o PSD afirmou que não negociaria com o Chega, apontando a sigla como antidemocrática. Na votação em que Aguiar-Branco foi eleito — após o PS decidir não apresentar candidatura própria — o segundo colocado foi um integrante da sigla, Rui Paulo Sousa, com 50 votos a seu favor.
Em seu discurso de vitória, Aguiar-Branco disse que seria o representante de todos os deputados e destacou a importância da democracia. Ele foi vaiado por deputados do PS ao cumprimentar o líder do Chega, mas disse esperar que a mesa do Legislativo “seja capaz de unir o que as ideologias separam” e que a “política não separe o que os eleitores quiseram unir”.
"Se alguma coisa o dia de ontem nos ensinou é que não devemos desistir da democracia. Eu não desisto", afirmou o novo presidente da Assembleia em seu primeiro discurso, conforme registrado pelo jornal O Público.
Embora o acordo tenha agradado aos dois principais partidos do país e isolado a extrema direita, deputados por partidos menores reclamaram da falta de uma inclusão das siglas com menor representação na tomada de decisão.
"Depois do que aconteceu aqui ontem [ o entrave na escolha do presidente do Legislativo ], teria sido uma excelente ocasião para os dois maiores partidos virem valorizar o parlamentarismo, recuperar o dialogo democrático com todos os grupos parlamentares democráticos. O que fazem é exatamente o contrário", afirmou Rui Tavares, líder do Livre, citado pelo Diário de Notícias.
A coordenadora da Bancada de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, também questionou a decisão dos partidos centrais na escolha do presidente da Assembleia. De acordo com a deputada, o acordo pode resolver o "impasse institucional" das rodadas de votação, mas não endereça "o problema político da ingovernabilidade".
"A direita não tem quaisquer condições de oferecer ao país um projeto de estabilidade. A dependência da extrema direita, o facto de existirem 50 deputados do Chega na Assembleia da República é um garante de permanente bloqueio, incapacidade de lidar com um problema institucional, uma mostra da instabilidade que se vai viver no parlamento", disse a jornalistas.