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'Por quem os sinos dobram' após Kadafi? Questiona o mundo árabe

Manifestantes usaram as redes sociais para preverem a queda dos próximos ditadores da região

Iemenitas mostram as palmas de suas mãos com as bandeiras de Líbia,Iêmen e Síria (Marwan Naamani/AFP)

Iemenitas mostram as palmas de suas mãos com as bandeiras de Líbia,Iêmen e Síria (Marwan Naamani/AFP)

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Da Redação

Publicado em 21 de outubro de 2011 às 14h22.

Beirute - "Kadafi partiu, é a sua vez Bashar", tuitou um internauta no dia seguinte à morte do líder líbio. Para a blogosfera e a imprensa árabe, o fim de Kadafi soou o sino da morte dos tiranos da região.

As redes sociais se embalaram nesta sexta-feira para prever, sem rodeios, o fim dos regimes opressores que ainda lutam para sobreviver.

"Kadafi chamou seu povo de ratos, ele acabou sua vida em um buraco como um rato. Tiranos, aprendam a lição (...). O fim é inevitável", afirmou um outro internauta no Twitter.

Ainda chocados com as imagens -- inimagináveis há alguns meses -- de Kadafi assassinado, os internautas se manifestam contra os presidentes sírio e iemenita, Bashar al-Assad e Ali Abdullah Saleh, que continuam no poder após meses de revoltas reprimidas violentamente.

"Ben Ali fugiu, Mubarak será julgado e Kadafi foi morto. Quanto mais tempo o tirano resiste mais seu destino é cruel", disse um deles. "Bashar será crucificado no centro de Damasco".

Nas páginas do Facebook, os contestadores sírios se referem ao seu presidente e perguntam: "Será que você fugirá como Kadafi e seu povo te perseguirá de casa em casa?".

"Kadafi no inferno, Bashar se prepare", afirma "lawyer_aj" no Twitter.

Segundo "@Noufita5", "os habitantes de Homs (centro da Síria) carregam a bandeira líbia e gritam: Kadafi, acabou, Bashar, é sua vez".

"Habitantes de Iêmen e Síria, espero que Bashar e Saleh caiam entre suas mãos", acrescentou "Motamayez".

Alguns ironizam: "Após a morte de Kadafi, a Síria e o Iêmen estão na final, mabruk! (parabéns, em árabe)", tuitou "Saomadaad".

"A televisão do Estado sírio nega a morte de Kadafi", escreveu "lissnup". O canal público da Síria é acusado pelos opositores de mentir sobre o movimento de contestação no país.

"Saleh, você dormiu bem ontem?", pergunta "Falihalhajri" ao presidente iemenita.


Do Cairo a Rabat, a imprensa árabe publicou na primeira página as fotos do corpo inerte de Kadafi, e ressaltou a ironia do destino dos ditadores: antes todo-poderosos e agora, massacrados pela onda da Primavera Árabe.

"Quarenta e dois anos de Kadafi no poder acabam com duas balas", disse o jornal libanês An Nahar. "É uma lição para os povos, não se pode mais aplaudir chefes que são assassinos".

Segundo o As Safir, "seu corpo ensanguentado foi fotografado para imortalizar o fim da era dos tiranos".

"O terceiro tirano, morto em um buraco", foi a manchete do jornal egípcio Al-Masry Al-Youm.

Para o palestino Al-Qods, "estes tiranos precisam saber que, no momento em que apontam as armas contra o próprio povo, perdem a legitimidade".

Os analistas acreditam que o fim de Kadafi dará fôlego às revoltas, principalmente na Síria.

"A mensagem é que a repressão contra o povo com uma mão de ferro, não leva a nada", afirma Hilal Kashan, professor de ciências políticas da Universidade americana de Beyrouth.

Para ele, os ditadores são "cegos", por definição. "Eles não enxergam as coisas da mesma maneira que o povo. Eles são desconectados da realidade. Pensam que são diferentes e que vão sobreviver", explicou.

"Eles dizem: aqui não é o Egito, não é a Tunísia. Mas no fim das contas, são todos iguais".

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