Por que Israel é um bom (e mau) exemplo na luta contra a covid-19
País já vacinou quase 42% de sua população, mas não tem planos de estender a medida aos palestinos dos territórios ocupados
Ernesto Yoshida
Publicado em 25 de janeiro de 2021 às 14h35.
Última atualização em 25 de janeiro de 2021 às 14h59.
Israel lidera com folga as estatísticas de vacinação contra a covid-19 . Até o último domingo, de acordo com os dados compilados pelo site Our World in Data, os israelenses já haviam vacinado 41,8% de sua população, taxa bem superior à de outros países que estão na linha de frente na aplicação em massa de vacinas contra o novo coronavírus, como os Emirados Árabes Unidos (25,2%) e Reino Unido (10%). O Brasil vacinou até agora menos de 0,3% da população, segundo o levantamento.
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A campanha de vacinação em Israel começou em 19 de dezembro, quando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu recebeu a primeira dose no país da vacina da Pfizer -BioNTech. “Seremos o primeiro país do mundo a sair do coronavírus”, disse o premiê. A prioridade foi dada inicialmente a pessoas com mais de 60 anos, a profissionais de saúde e a qualquer pessoa clinicamente vulnerável. Juntos, esses grupos representam cerca de um quarto da população do país, de pouco mais de 9 milhões. Agora, as vacinas já estão disponíveis para qualquer pessoa com mais de 40 anos ou para jovens com 16 a 18 anos que recebem autorização dos pais.
Apesar dos elogios internacionais à agilidade com que está vacinando sua população, Israel também tem sido criticado por se recusar a compartilhar suas vacinas com cerca de 4,5 milhões de palestinos que vivem na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. É uma postura que pode colocar em risco o esforço de vacinação, segundo Hadas Ziv, chefe de política e ética da ONG Physicians for Human Rights (Médicos pelos Direitos Humanos) em Israel. Ele diz que os palestinos nos territórios ocupados e os israelenses estão em constante movimento e se encontram com frequência. “Temos a obrigação não apenas moral de lhe dar vacinas, mas também por uma questão utilitária de saúde pública”, afirmou Ziv em uma entrevista à revista de tecnologia do MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
Outra crítica ao governo de Israel é a complacência com que tem lidado com os ultraortodoxos, que representam 10% da população, mas 30% dos novos casos de covid-19. Os ultraortodoxos são aliados políticos do partido Likud, de Netanyahu. Por razões religiosas, eles formam o grupo que mais resiste às medidas de distanciamento social e também o que se mostra mais cético em relação à necessidade de vacinação. “Se você deseja alcançar a proteção do rebanho, precisa atingir pelo menos dois terços da sua população. Se não alcançarmos as comunidades que agora não querem a vacinação, não atingiremos esse número”, disse Ziv.
Entre erros e acertos em sua gestão da crise sanitária, Israel teve na semana passada uma boa notícia: a taxa de transmissão do coronavírus no país ficou em 0,99 — foi a primeira vez que caiu abaixo de 1 em quase três meses. Uma taxa inferior a 1 significa que o número de casos ativos está diminuindo e que o surto no país está desacelerando.
Embora o país tenha começado a ver uma tendência de queda no número de infecções, o vice-ministro da Saúde, Yoav Kisch, disse que o declínio foi prejudicado pela disseminação da mutação britânica mais contagiosa do coronavírus. Numa tentativa de barrar a entrada de novas cepas do coronavírus, o governo israelense anunciou no domingo o fechamento dos aeroportos do país para a maioria dos voos. A medida entrou em vigor na noite desta segunda-feira em Israel e deverá prosseguir até 31 de janeiro.
Israel registrou até agora 601.000 casos de covid-19, com 4.437 mortes. Isso corresponde a 482 óbitos por milhão de habitantes. É menos da metade da proporção de óbitos no Brasil (1.017 por milhão de habitantes), mas ainda muito superior à média de países como Singapura (5 óbitos por milhão de habitantes) e Japão (40 óbitos por milhão de habitantes).