Nicarágua: governo do Brasil condenou a morte de Raynéia Gabrielle Lima e cobrou das autoridades nicaraguenses a missão de "identificar e punir" os responsáveis (Oswaldo Rivas/Reuters)
EFE
Publicado em 24 de julho de 2018 às 16h51.
Manágua - A polícia da Nicarágua negou nesta terça-feira que um grupo de paramilitares tenha assassinado a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima, como havia informado o reitor da Universidade Americana (UAM), Ernesto Medina.
"Um vigilante de segurança privada, em circunstâncias ainda não determinadas, realizou disparos com arma de fogo, um dos quais a impactou e causou ferimentos", informou a Polícia Nacional, que não identificou o autor dos tiros.
Horas antes, Medina tinha dito que "paramilitares que estavam na casa de Chico (Francisco) López, foram os que dispararam" contra a brasileira, que estudava Medicina na UAM.
López, tesoureiro do partido governante, Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), e até pouco tempo atrás gerente de duas grandes empresas estatais relacionadas com o petróleo e o setor construção, foi afetado pelo Global Magnitsky Act, dos Estados Unidos, que o acusou de graves violações aos direitos humanos.
Os paramilitares na Nicarágua atuam em conjunto com a polícia em ataques à população civil, segundo diversas denúncias acompanhadas de vídeos.
O governo do Brasil condenou a morte de Lima e cobrou das autoridades nicaraguenses a missão de "identificar e punir" os responsáveis.
"O governo brasileiro exorta as autoridades nicaraguenses a envidarem todos os esforços necessários para identificar e punir os responsáveis pelo ato criminoso", afirma a nota do Ministério de Relações Exteriores.
A polícia da Nicarágua informou que o "guarda de vigilância privada está sendo investigado para o esclarecimento do fato".
O assassinato da brasileira ocorreu horas depois de Medina participar de um fórum, no qual disse que o crescimento econômico e a segurança na Nicarágua antes dos protestos contra o presidente Daniel Ortega em abril "eram parte de uma farsa" porque "nunca houve um plano que acabasse com a pobreza e a injustiça".
O assassinato ocorre em meio a uma crise sociopolítica com manifestações contra o presidente Daniel Ortega. A repressão governamental aos protestos já deixou entre 277 e 351 mortos, de acordo com organizações humanitárias locais e internacionais.
Nicarágua está imersa na crise mais sangrenta da história do país em tempos de paz e a mais forte desde a década de 80, quando Ortega também foi presidente (1985-1990).
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh) responsabilizaram o governo da Nicarágua por "assassinatos, execuções extrajudiciais, maus tratos, possíveis atos de tortura e prisões arbitrárias".
Os protestos contra Ortega e sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, começaram no dia 18 de abril devido a fracassadas reformas na Previdência Social e se transformaram em um grande pedido de renúncia ao presidente, que acumula 11 anos no poder em meio a acusações de abuso e corrupção.