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Pico de covid-19 no Haiti pode coincidir com temporada de furacões

Médicos alertam que frágil sistema de saúde do país não conseguiria lidar com um grande surto de coronavírus; FMI e EUA anunciaram ajuda ao governo haitiano

Haiti: "Pessoas precisam ver muitas mortes para acreditarem na pandemia", disse o estudante de medicina Johane Josema, sobre coronavírus no país (Andres Martinez Casares/Reuters)
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Reuters

Publicado em 15 de maio de 2020 às 12h03.

Última atualização em 15 de maio de 2020 às 13h56.

Até o momento, o Haiti relatou menos de 20 mortes decorrentes do novo coronavírus , mas o estudante de medicina Johane Josema teme que o número baixo seja o que torna a covid-19 tão perigosa na nação caribenha.

"As pessoas precisam ver muitas mortes para acreditarem na pandemia. Elas dizem que a covid-19 não é um problema porque não há muitas", disse o estudante de 25 anos à Thomson Reuters Foundation.

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Jean 'Bill' Pape, médico e copresidente de uma comissão presidencial criada para combater a covid-19, disse que as atitudes sociais e o estigma contra os doentes prejudicam os esforços para limitar sua disseminação.

"Os haitianos não acreditam que esta doença é real e não estão adotando nenhuma precaução", disse Pape, acrescentando que "a população não quer centros de tratamento do coronavírus perto de suas zonas residenciais".

O Haiti, que tem 11 milhões de habitantes e é o país mais pobre das Américas, está enfrentando um "tempestade perfeita", já que a pandemia chega em meio a uma série de outras crises, incluindo a temporada de furacões iminente, explicou Pape.

A instabilidade política e distúrbios sociais provocaram protestos de rua violentos, e a nação está lutando contra o temor de uma piora econômica e uma inflação exacerbada pela seca deste ano.

"Temos um país dividido em um momento no qual deveríamos estar todos unidos contra esta epidemia poderosa", disse Pape.

O Haiti desenvolveu um plano nacional de reação à covid-19 "muito bom", que inclui campanhas de conscientização pública, mas carece de fundos e de ajuda estrangeira para colocá-lo plenamente em ação, segundo Pape.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o governo dos Estados Unidos anunciaram, respectivamente, 111 milhões de dólares e 16 milhões de dólares de fundos para ajudar o Haiti a administrar o surto e suas consequências financeiras.

Médicos alertam que o sistema de saúde já frágil do país não conseguiria lidar com um grande surto de coronavírus, já que só tem 100 ventiladores e poucos leitos hospitalares.

O pico previsto do coronavírus, que seria em junho, também coincide com o início da temporada anual de furacões, que vai até novembro.

Mesmo antes disso, médicos alertam que a covid-19 provavelmente se alastrará pelo Haiti.

Imigrantes haitianos que trabalham na vizinha República Dominicana, muitas vezes como operários e cortadores de cana, estão voltando para casa por terem perdido o emprego devido ao isolamento do coronavírus e à retração econômica, e "trarão a infecção para o país todo", disse Pape.

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