O ataque ao Vale do Bekaa foi a mais importante incursão militar de Israel desde janeiro (Mahmoud ZAYYAT/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 26 de fevereiro de 2024 às 18h29.
O Exército israelense atacou posições do Hezbollah no Leste do Líbano, pela primeira vez desde o início da guerra travada na Faixa de Gaza com o grupo terrorista Hamas. Até agora, apenas áreas próximas à fronteira tinham sido diretamente atacadas, com exceções pontuais, como o assassinato de um líder do Hamas em Beirute, e a expansão das ações de Israel eleva os riscos de uma expansão do conflito para além do território palestino.
De acordo com os militares israelenses, caças entraram em espaço aéreo libanês e atacaram áreas do Vale do Bekaa, a mais de 100km da fronteira, em resposta à derrubada de um drone de Israel no Sul do Líbano, onde acontece a maior parte dos confrontos entre os dois lados. Representantes das comunidades locais disseram que os ataques atingiram um depósito do Hezbollah, deixando duas pessoas mortas — imagens em redes sociais mostram escombros e uma coluna de fumaça no local.
Em resposta, o Hezbollah lançou "60 mísseis" do tipo Katyusha contra uma base nas Colinas de Golã, anexadas por Israel após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, em uma ação considerada ilegal por boa parte da comunidade internacional. O Exército israelense confirmou o ataque, mas não comentou se ele deixou vítimas ou estragos.
O ataque ao Vale do Bekaa foi a mais importante incursão militar de Israel desde janeiro, quando um drone matou Saleh al-Arouri, vice-chefe da ala política do Hamas, em um bairro de Beirute. A região fica próxima à fronteira com a Síria, e é considerada um bastião do Hezbollah, e uma eventual expansão dos ataques israelenses dentro do território libanês volta a destacar a possibilidade da abertura de uma nova frente de combates na guerra hoje concentrada em Gaza.
No domingo, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que seu país está planejando "aumentar o poder de fogo contra o Hezbollah", afirmando que um eventual acordo de cessar-fogo em Gaza, hoje negociado em várias frentes diplomáticas, não significaria a suspensão das operações na fronteira com o Líbano.
Desde o início da guerra, o grupo libanês, aliado e financiado pelo Irã, tem realizado ataques de baixa intensidade contra Israel, que responde através de ações contra vilas e locais apontados como bases operacionais da milícia. Segundo Gallant, a ofensiva contra o grupo só será suspensa "com a saída total do Hezbolah" da região.
Lidando com uma série de crises econômicas, sociais e sanitárias, em parte ainda "herdadas" da guerra contra Israel em 2006, lideranças políticas no Líbano tem criticado as ações israelenses dentro de seu território, mas também reservado críticas ao Hezbollah. Em janeiro, o líder do Forças Libanesas, o cristão Samir Geagea, disse que o grupo estava transformando seu país "em um campo de batalha", e atacou o que considera ser "poder excessivo" dado ao Hezbollah pelo governo interino
"Ao invés de cumprir seu dever de servir ao Líbano e seu povo, ele (governo interino) delegou a tomada de decisões a uma facção (Hezbollah), permitindo transformar o país em um campo de batalha, uma mera commodity em uma cena regional volátil", disse Geagea, citado pela rede libanesa LBCI.