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Passaporte roubado mostra falha da segurança aérea pós-11/9

A falta de consistência internacional na verificação de passaportes pode explicar como foi possível que duas pessoas embarcassem com documentos roubados

Montagem mostra os dois homens que, segundo a polícia, estavam viajando com passaportes roubados a bordo do avião desaparecido da Malaysia Airlines (REUTERS/Malaysian Police/Handout via Reuters)

Montagem mostra os dois homens que, segundo a polícia, estavam viajando com passaportes roubados a bordo do avião desaparecido da Malaysia Airlines (REUTERS/Malaysian Police/Handout via Reuters)

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Da Redação

Publicado em 11 de março de 2014 às 15h03.

Hong Kong, Cingapura e Sydney - A descoberta de que dois passageiros embarcaram no avião malaio desaparecido usando passaportes roubados revela que continuam existindo falhas no monitoramento de passageiros mais de 12 anos depois que a segurança mundial foi reforçada em todo o mundo após os ataques terroristas de 11 de setembro.

Mais de 40 milhões de passaportes estão listados como desaparecidos em um banco de dados criado pela Interpol em 2002, embora a agência internacional de polícia informe que ocorreram um bilhão de embarques a aeronaves no ano passado sem que os documentos de viagem tenham sido confrontados com o registro.

A falta de consistência internacional na verificação de passaportes pode explicar como foi possível que duas pessoas embarcassem no voo 370 da Malaysian Airline System Bhd., em Kuala Lumpur, usando passaportes que haviam sido reportados por cidadãos europeus como roubados na Tailândia.

Embora não haja evidência de que os dois passageiros tivessem qualquer conexão com o desaparecimento do avião 777-200 da Boeing Co., no dia 8 de março, a caminho de Pequim, a falha de segurança é a deixa para que os governos atuem, segundo Rohan Gunaratna, diretor do Centro Internacional para a Investigação em Violência Política e Terrorismo, da Escola S. Rajaratnam, em Cingapura.

Buscas sistemáticas

“Certamente a Malásia deveria ter verificado o banco de dados da Interpol sobre passaportes perdidos e roubados”, disse ele.

“Deveria ser obrigatório que os governos ingressassem no sistema todos os passaportes perdidos e roubados e também deveria ser tornado obrigatório que todas as agências de imigração e de segurança batessem os documentos de todos os passageiros com esse banco de dados”.


O uso de passaportes roubados aumentou a preocupação de que o desaparecimento do avião, que transportava 239 pessoas, das telas de radar possa estar ligado ao terrorismo. Os governos da Áustria e da Itália disseram que os passaportes usados pelos dois passageiros do sexo masculino no avião foram roubados de seus cidadãos.

Existem imagens de circuito fechado de televisão das duas pessoas que usaram os passaportes falsos, disse Azharuddin Abdul Rahman, diretor-geral do Departamento de Aviação Civil, no dia 9 de março.

Os homens que usavam os passaportes compraram as passagens no dia 6 de março na agência de viagens Six Star Travel Co., em Pattaya, Tailândia, disse o comandante da polícia da cidade, Supachai Phuykaeokam, por telefone. O destino final de um dos homens era Copenhague, enquanto a última parada do outro, conforme o registro, era Frankfurt, disse o comandante.

“Nós estamos tentando determinar se os dois portadores de passaportes falsos entraram na Malásia legalmente ou ilegalmente”, disse o inspetor-geral de polícia da Malásia, Khalid Abu Bakar, em uma mensagem de texto de celular.

A Tailândia é um “hub global” de falsificação de documentos, a maior parte realizada por grupos criminosos internacionais envolvidos em atividades como tráfico humano, disse Anthony Davis, analista de segurança em Bangkok da empresa IHS-Jane’s.

Poucos países pesquisam sistematicamente os bancos de dados da Interpol para determinar se um passageiro está usando um documento de viagem roubado ou perdido, disse a agência em um comunicado. Mais de 800 milhões de pesquisas são realizadas anualmente e são encontrados uma média de 60.000 passaportes roubados ou desaparecidos por ano, disse a Interpol.


“É uma revelação chocante que em 2014 não tenhamos 100 por cento de uso dos bancos de dados da Interpol em todo o mundo”, disse Louis Sorrentino, diretor-gerente de segurança aérea e compliance regulatório da ICF International para a Flórida, hoje, em entrevista por telefone.

Restrições à revelação

As regras atuais que restringem a revelação de informações da Interpol apenas aos governos -- e não às companhias aéreas ou terceiros -- prejudicam os esforços para descobrir documentos roubados, disse Trevor Long, ex-gerente geral de Group Facilitation da Qantas Airways Ltd.

Os governos australiano, neozelandês e americano fazem um bom trabalho de notificação às companhias aéreas sobre quando impedir uma pessoa de embarcar, disse Long. Outros países, incluindo a Malásia, não seguem o procedimento, disse ele.

Às vezes o procedimento “é mais pró-forma”, porque as companhias aéreas fornecem os dados e os funcionários do governo não fazem nada com eles, disse Long.

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