Parlamento de Israel votou contra criação de Estado palestino por considerar 'ameaça existencial'
Texto afirma que Palestina pode desestabilizar a região e perpetuar o conflito; ataques israelenses em Gaza tem se intensificado na última semana
Agência de notícias
Publicado em 19 de julho de 2024 às 08h25.
Última atualização em 19 de julho de 2024 às 08h25.
O Parlamento de Israel votou nesta quinta-feira, dia 18, contra a criação de um Estado palestino, por considerá-lo "uma ameaça existencial", enquanto o Exército israelense continuava atacando a Faixa de Gaza, apesar dos múltiplos apelos internacionais por um cessar-fogo.
O pronunciamento é simbólico, mas gerou condenações internacionais e críticas por parte da Autoridade Palestina, antes da viagem do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a Washington, na próxima semana.
A Casa Branca informou que está prevista uma reunião com o presidente Joe Biden caso ele esteja recuperado da covid-19. O governo democrata adiantou, no entanto, que a criação de um Estado palestino "não é algo a que o presidente Biden vá renunciar", ressaltou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.
Netanyahu enfrenta há meses a pressão do seu principal aliado, os Estados Unidos, que, juntamente com Catar e Egito, mediam as negociações para obter uma trégua em Gaza e a libertação de reféns. Mas o premiê israelense insistiu nesta semana em que "é o momento de aumentar ainda mais a pressão" sobre o movimento islamista palestino Hamas.
Suas tropas intensificaram nos últimos dias os bombardeios sobre a Faixa de Gaza, que deixaram centenas de mortos na última semana, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas.
'Risco existencial'
A resolução aprovada durante a madrugada pelo Parlamento israelense (Knesset) afirma que a criação de um Estado palestino, em territórios ocupados por Israel, "perpetuaria o conflito" e "desestabilizaria a região".
"A Knesset de Israel se opõe firmemente à criação de um Estado palestino a oeste do rio Jordão", porque "representaria um risco existencial para o Estado de Israel e seus cidadãos".
O texto foi aprovado por 68 votos, em um Parlamento de 120 cadeiras, e afirma que "promover" um Estado palestino encorajaria "o Hamas e seus apoiadores", após o ataque do movimento islamista em 7 de outubro, quando comandos do Hamas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo uma contagem baseada em dados oficiais israelenses.
O Ministério da Saúde do governo do Hamas em Gaza anunciou nesta quinta-feira que 38.848 pessoas morreram no território palestino desde o início da guerra.
A Autoridade Palestina, que exerce administração parcial na Cisjordânia ocupada, afirmou que "não haverá paz nem segurança para ninguém sem o estabelecimento de um Estado palestino", e acusou a coalizão de extrema direita que governa Israel de "mergulhar a região em um abismo".
A França expressou sua "consternação" pelo voto que afirmou "contradizer as resoluções adotadas pelo Conselho de Segurança da ONU". Egito e Jordânia também condenaram a aprovação do texto.
'Ponto de ruptura'
A criação de um Estado palestino nos territórios ocupados por Israel após a Guerra dos Seis Dias em 1967 se manteve por décadas como um símbolo dos esforços diplomáticos da comunidade internacional para resolver o conflito.
Os Acordos de Oslo na década de 1990 permitiram a criação da Autoridade Palestina e seu objetivo era avançar uma negociação para a criação de um Estado palestino. O secretário-geral da ONU, António Guterres, manifestou-se decepcionado com a resolução.
Todas as instalações de saúde no sul da Faixa de Gaza estão em um "ponto de ruptura" devido ao fluxo de vítimas dos bombardeios israelenses, declarou hoje o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
A guerra também destruiu grande parte das casas e infraestrutura do território, deixando quase toda a população sem comida ou água potável, e levou ao ressurgimento do vírus causador da poliomielite. Autoridades sanitárias da Faixa de Gaza e de Israel confirmaram a detecção do vírus em águas residuais.
O cheiro de esgoto toma conta da barraca de campanha em Deir el Balah onde vive a família de Umm Nahed Abu Shar, exposta a doenças constantes. "O calor, as doenças, os insetos, tudo isso nos faz mal", disse à AFP essa palestina, 45. "Não fazemos nada além de sofrer, isto não é vida."