Parlamento britânico retoma atividades após derrota de Johnson na Justiça
Boris Johnson quer a saída do Reino Unido de qualquer forma em 31 de outubro, com ou sem acordo
AFP
Publicado em 25 de setembro de 2019 às 14h45.
Última atualização em 25 de setembro de 2019 às 14h49.
Os deputados britânicos voltaram ao trabalho nesta quarta-feira (25) após a decisão da Suprema Corte, que declarou "ilegal" e "sem efeito" a suspensão do Parlamento determinada pelo primeiro-ministro Boris Johnson , que enfrenta um terremoto político a um mês do Brexit.
A Câmara dos Comuns retomou as sessões durante a manhã e pediu explicações sobre a suspensão ao procurador-geral, o conselheiro jurídico do governo, Geoffrey Cox.
Johnson, que retornou de Nova York , onde discursou na terça-feira na Assembleia Geral da ONU, comparecerá ao Parlamento à tarde. E os primeiros embates entre o Partido Conservador e a oposição antecipam uma sessão explosiva.
"Este Parlamento é um Parlamento morto", afirmou Cox, ao criticar os deputados que rejeitaram em três oportunidades o acordo de divórcio negociado com Bruxelas pela ex-primeira-ministra Theresa May e se negam a autorizar eleições antecipadas para acabar com o bloqueio político.
"Este Parlamento deveria ter a coragem de enfrentar o eleitorado, mas não o fará", completou.
Alegando que "existem muitas pessoas que querem provocar o fracasso do Brexit", Johnson insistiu na terça-feira em seu apelo por eleições antecipadas, algo que a oposição se recusa a conceder até que o chefe de Governo descarte por completo a ameaça de uma saída sem acordo da União Europeia em 31 de outubro.
Cox indicou que, em breve, será apresentada à Câmara uma nova moção para antecipar as legislativas. Em condições normais, elas aconteceriam apenas em 2022.
Johnson, que perdeu a maioria após a rebelião de 21 de seus deputados, está ganhando popularidade entre os eleitores, segundo as pesquisas, e deseja aproveitar o impulso.
Para convocar eleições antecipadas, porém, o conservador precisa do apoio de dois terços de uma Câmara que já rejeitou duas vezes sua proposta.
"Nossa grande prioridade é prevenir uma saída sem acordo da União Europeia em 31 de outubro", reiterou o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, à rádio BBC. E insistiu em que, até conseguir isto, o país não terá eleições.
"Este governo manipulou cinicamente o procedimento de suspensão para fechar esta Câmara e que não funcionasse como uma assembleia democrática", declarou, exasperado, o deputado trabalhista.
Por decisão do polêmico primeiro-ministro, o Parlamento viu suas atividades suspensas em 10 de setembro, após um longo debate sobre o Brexit, e deveria retomar os trabalhos somente em 14 de outubro, duas semanas antes do Brexit.
Mas, na terça-feira, em um golpe implacável contra Johnson, que se soma às múltiplas derrotas políticas sofridas nas últimas semanas, 11 juízes da Suprema Corte decidiram por unanimidade que a suspensão parlamentar foi "ilegal, nula e sem efeito".
O governo justificou o recesso com a necessidade de preparar e apresentar seu programa de política nacional, uma prática habitual, mas que geralmente dura apenas uma semana. A oposição o acusou de tentar calar os parlamentares diante da ameaça de um Brexit sem acordo.
E a Justiça deu razão aos críticos de Johnson por considerarem que sua decisão "teve o efeito de frustrar, ou impedir a capacidade do Parlamento de cumprir suas funções constitucionais sem uma justificativa razoável".
A sentença, cujo rigor ninguém antecipava, abriu a porta para vários pedidos de renúncia de Johnson.