Palestinos libertados ganham nova vida após a prisão
Khaled Asqara, que saiu de prisão após 23 anos, é um dos 26 afortunados que entraram no primeiro rodízio dos 103 palestinos presos que Israel libertará
Da Redação
Publicado em 16 de agosto de 2013 às 10h48.
Cisjordânia - Khaled Asqara veste camisa cinza e calças jeans novas, botas recém compradas e um sorriso que não sai do rosto: na madrugada da última quarta-feira ele saiu de prisão após 23 anos e agora começa uma nova vida.
O homem é um dos 26 afortunados que entraram no primeiro rodízio dos 103 palestinos presos desde antes dos Acordos de Oslo de 1993 que Israel libertará em troca do reinício das negociações de paz.
Seus familiares e amigos o tiraram da Muqata, a residência onde o presidente Mahmoud Abbas recebeu os presos, e centenas de pessoas lhes deram boas-vindas como se fossem heróis.
Khaled foi preso em 1991, durante a Primeira Intifada, por matar uma turista francesa, Annie Ley, no restaurante no qual trabalhava em Belém; um crime que reconheceu para a corte militar que o julgou e do qual assegura que não se arrepende, apesar do preço que pagou.
"A Palestina e a luta são mais importantes que meu tempo na prisão", disse à Agência Efe este homem de 42 anos, que era um rapaz de 18 quando o condenaram à prisão perpétua.
Quando perguntado se pensa em sua vítima, Khaled assegura que "os dois lados tiveram vítimas. Todos perderam, era a Intifada, era uma guerra".
No entanto, depois de mais de meia vida na prisão, o homem acredita que não é momento de continuar a luta, mas de apostar na paz.
"Eu fiz muito pela causa palestina no passado, quando foi necessário. Mas há um tempo para tudo e agora é tempo de se sentar para negociar. Quero me dedicar a contribuir para unir palestinos e israelenses no processo de paz", assegura.
Ele sabe das limitações e afirma que "com o atual Governo israelense de direita é muito difícil negociar", mas tem esperanças porque acredita que "a paz fará bem tanto para israelenses quanto para palestinos. Eles também precisam dela".
Khaled se sente "muito, muito feliz de recuperar a liberdade, de poder começar de novo, viver como uma pessoa normal e criar uma família", mas, ao mesmo tempo, assegura que também é difícil deixar os companheiros de 23 anos de prisão, que foram para ele uma verdadeira família.
As condições de sua liberdade o proíbem de sair do distrito de Belém, onde fica sua cidade, durante o próximo ano. Se as violar, Israel poderia forçá-lo a cumprir de forma completa sua pena.
Nos próximos meses, espera a visita de outros presos que saíram antes que ele e aos quais não poderá ir ver devido a suas limitações de movimentação.
Nos arredores da casa de sua irmã Saada, onde se instalou, a família colocou uma tenda enfeitada com bandeiras e cartazes com sua foto, além de uma centena de cadeiras nas quais continuam recebendo dezenas de vizinhos que chegam para cumprimentar a família e o preso libertado.
Entre os visitantes não faltam algumas candidatas a casamento e Saada assegura que as mulheres da família "já estão selecionando uma boa companheira para ele".
"Muitas querem se com ele, é um orgulho se casar com um preso", assegura a irmã.
"Tínhamos um grande sonho e ele se cumpriu, Alá está conosco porque temos razão. Durante anos sonhava abraçá-lo, porque as visitas são sempre por trás de um vidro e falando por um telefone", se queixou Saada, sem abandonar seu sorriso.
"Ele disse que a comida na prisão é muito ruim" e que para recebê-lo cozinhou, entre outras delícias, o "warak dawali", folhas de parreira recheadas de arroz, um dos pratos palestinos mais típicos que, assegura ele, lhe pareceram divinos após duas décadas de comida de rancho.
A primeira coisa que os 11 presos que foram postos em liberdade na Cisjordânia (os outros 15 foram em Gaza) fizeram foi visitar o túmulo do histórico líder palestino Yasser Arafat na Muqata de Ramala, um momento no qual mais de um chorou, segundo disse Khaled.
Depois, ele foi levado para sua cidade, acompanhado de familiares e amigos eufóricos por contar com sua presença outra vez.
Desde então não deixou de receber pessoas, muitas das quais - incluindo todos os seus sobrinhos - já não reconhece, porque Israel só permite visitas de parentes de primeiro grau.
Um de seus oito irmãos, Ali Hamad, só pôde visitá-lo três vezes em 23 anos, por causa de limitações impostas pelos serviços de segurança israelenses, assegurou.
"Khaled não está com boa saúde, está muito magro e tem problemas de estômago. Esta semana o levaremos a um médico para que faça todos os exames", explicou Ali, ressaltando que "suportar sua ausência foi muito difícil".
O homem recém libertado disse que, das condições na prisão, o pior era a falta de assistência médica de qualidade, e se queixou também da falta de livros e de possibilidade para estudar, a proibição de telefonar para a família, a impossibilidade de tocá-los durante as visitas e o mal tratamento dos carcereiros.
"Ontem pela manhã, pela primeira vez após 23 anos, me sentei à mesa para desjejuar com todos os meus irmãos e irmãs", disse sorridente para, em seguida, destacar que o que mais lamenta é que seus pais tenham morrido antes de vê-lo sair da prisão.
Cisjordânia - Khaled Asqara veste camisa cinza e calças jeans novas, botas recém compradas e um sorriso que não sai do rosto: na madrugada da última quarta-feira ele saiu de prisão após 23 anos e agora começa uma nova vida.
O homem é um dos 26 afortunados que entraram no primeiro rodízio dos 103 palestinos presos desde antes dos Acordos de Oslo de 1993 que Israel libertará em troca do reinício das negociações de paz.
Seus familiares e amigos o tiraram da Muqata, a residência onde o presidente Mahmoud Abbas recebeu os presos, e centenas de pessoas lhes deram boas-vindas como se fossem heróis.
Khaled foi preso em 1991, durante a Primeira Intifada, por matar uma turista francesa, Annie Ley, no restaurante no qual trabalhava em Belém; um crime que reconheceu para a corte militar que o julgou e do qual assegura que não se arrepende, apesar do preço que pagou.
"A Palestina e a luta são mais importantes que meu tempo na prisão", disse à Agência Efe este homem de 42 anos, que era um rapaz de 18 quando o condenaram à prisão perpétua.
Quando perguntado se pensa em sua vítima, Khaled assegura que "os dois lados tiveram vítimas. Todos perderam, era a Intifada, era uma guerra".
No entanto, depois de mais de meia vida na prisão, o homem acredita que não é momento de continuar a luta, mas de apostar na paz.
"Eu fiz muito pela causa palestina no passado, quando foi necessário. Mas há um tempo para tudo e agora é tempo de se sentar para negociar. Quero me dedicar a contribuir para unir palestinos e israelenses no processo de paz", assegura.
Ele sabe das limitações e afirma que "com o atual Governo israelense de direita é muito difícil negociar", mas tem esperanças porque acredita que "a paz fará bem tanto para israelenses quanto para palestinos. Eles também precisam dela".
Khaled se sente "muito, muito feliz de recuperar a liberdade, de poder começar de novo, viver como uma pessoa normal e criar uma família", mas, ao mesmo tempo, assegura que também é difícil deixar os companheiros de 23 anos de prisão, que foram para ele uma verdadeira família.
As condições de sua liberdade o proíbem de sair do distrito de Belém, onde fica sua cidade, durante o próximo ano. Se as violar, Israel poderia forçá-lo a cumprir de forma completa sua pena.
Nos próximos meses, espera a visita de outros presos que saíram antes que ele e aos quais não poderá ir ver devido a suas limitações de movimentação.
Nos arredores da casa de sua irmã Saada, onde se instalou, a família colocou uma tenda enfeitada com bandeiras e cartazes com sua foto, além de uma centena de cadeiras nas quais continuam recebendo dezenas de vizinhos que chegam para cumprimentar a família e o preso libertado.
Entre os visitantes não faltam algumas candidatas a casamento e Saada assegura que as mulheres da família "já estão selecionando uma boa companheira para ele".
"Muitas querem se com ele, é um orgulho se casar com um preso", assegura a irmã.
"Tínhamos um grande sonho e ele se cumpriu, Alá está conosco porque temos razão. Durante anos sonhava abraçá-lo, porque as visitas são sempre por trás de um vidro e falando por um telefone", se queixou Saada, sem abandonar seu sorriso.
"Ele disse que a comida na prisão é muito ruim" e que para recebê-lo cozinhou, entre outras delícias, o "warak dawali", folhas de parreira recheadas de arroz, um dos pratos palestinos mais típicos que, assegura ele, lhe pareceram divinos após duas décadas de comida de rancho.
A primeira coisa que os 11 presos que foram postos em liberdade na Cisjordânia (os outros 15 foram em Gaza) fizeram foi visitar o túmulo do histórico líder palestino Yasser Arafat na Muqata de Ramala, um momento no qual mais de um chorou, segundo disse Khaled.
Depois, ele foi levado para sua cidade, acompanhado de familiares e amigos eufóricos por contar com sua presença outra vez.
Desde então não deixou de receber pessoas, muitas das quais - incluindo todos os seus sobrinhos - já não reconhece, porque Israel só permite visitas de parentes de primeiro grau.
Um de seus oito irmãos, Ali Hamad, só pôde visitá-lo três vezes em 23 anos, por causa de limitações impostas pelos serviços de segurança israelenses, assegurou.
"Khaled não está com boa saúde, está muito magro e tem problemas de estômago. Esta semana o levaremos a um médico para que faça todos os exames", explicou Ali, ressaltando que "suportar sua ausência foi muito difícil".
O homem recém libertado disse que, das condições na prisão, o pior era a falta de assistência médica de qualidade, e se queixou também da falta de livros e de possibilidade para estudar, a proibição de telefonar para a família, a impossibilidade de tocá-los durante as visitas e o mal tratamento dos carcereiros.
"Ontem pela manhã, pela primeira vez após 23 anos, me sentei à mesa para desjejuar com todos os meus irmãos e irmãs", disse sorridente para, em seguida, destacar que o que mais lamenta é que seus pais tenham morrido antes de vê-lo sair da prisão.