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País que mais cresce no mundo, Guiana deve avançar 38% em 2023

Região deve manter avanço forte nos próximos anos, conforme aumentar o número de campos, estima o FMI

Vendedor de frutas em mercado em Georgetown, capital da Guiana (Eilon Paz/Getty Images)

Vendedor de frutas em mercado em Georgetown, capital da Guiana (Eilon Paz/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 28 de setembro de 2023 às 18h06.

Última atualização em 1 de dezembro de 2023 às 19h20.

Um país vizinho ao Brasil se tornou o que mais cresce no mundo: a Guiana deve ver sua economia aumentar 38% neste ano, projeta o FMI. A alta é puxada pelo forte aumento da exploraçao de petróleo na região equatorial, também perto da Amazônia.

O avanço da Guiana, puxado pela expansão do petróleo, esquenta o debate sobre a possibilidade de o Brasil também explorar reservas no mar próximo à foz do rio Amazonas. Um pedido da Petrobras feito ao Ibama para prospectar campos na região foi negado, mas o tema segue em debate no governo Lula.

Em 2022, o PIB da Guiana foi de 14,52 bilhões de dólares, de acordo com o FMI. Como comparação, o do Brasil foi de 1,9 trilhão de dólares.

No ano passado, a Guiana já havia registrado crescimento recorde, de 62,3%. Com isso, a taxa de pobreza, que era de 60% da população em 2006, é estimada hoje em cerca de 40%. O país tem cerca de 800 mil habitantes. Foi colonizado por holandeses e britânicos e conseguiu a independência em 1966. É o único país que fala inglês na América do Sul.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) avalia que o ritmo de crescimento da Guiana deve seguir forte nos próximos anos. O fundo enviou uma missão ao país e publicou suas conclusões em meados de setembro.

"A produção de petróleo está aumentando na esteira de um terceiro campo de extração, e o crescimento nos setores não-petrolíferos é apoiado pela implantação de um programa investimento público acelerado, focado em prover transporte, habitação e controle de enchentes, e de aumento do capital humano", aponta o FMI.

O fundo aponta que outros setores da Guiana, como agricultura, mineração e serviços, também estão indo bem. A inflação, que atingiu 7,2% no fim de 2022, está em queda. Já o desemprego terminou o ano no país em 12,4%.

A entidade recomendou que o país mantenha a disciplina fiscal para conter uma possível alta da inflação, mas apontou que a dívida pública vem caindo: passou de 43,2% do PIB em 2021 para 26% em 2022. Há expectativa de que as despesas se equiparem às receitas em 2028.

A BMI, unidade de pesquisas da Fitch, também estima que o país seguirá crescendo rápido, em ritmo que será ditado pela expansão da exploração de petróleo. A consultoria estima que o volume de produção, hoje em 390 mil barris por dia, deva superar 1 milhão por dia até 2027, conforme novos campos entrem em operação.

A Exxon Mobil estima que a Guiana tenha reservas, em sua região costeira, de 11 billhões de barris de petróleo. Como comparação, o Brasil tem 14,8 bilhões de barris em reservas comprovadas e mais cerca de 49 bilhões de barris em reservas prováveis ou possíveis, segundo boletim da ANP (Agência Nacional do Petróleo).

Entre 2022 e 2031, só o pré-sal brasileiro deve gerar 8,2 bilhões de barris de petróleo, segundo projeção da Pré-Sal Petróleo, estatal criada para administrar a reserva.

Os países correm para aproveitar as reservas pois a transição energética deve diminuir a demanda por petróleo nos próximos anos. A IEA (Agência Internacional de Energia) estima que o uso global do insumo deve ter crescimento mais lento nos próximos anos e atingir seu ápice até o final desta década. Depois disso, deve vir uma queda, especialmente no uso como combustível, já que a adoção de carros elétricos avança em várias partes do mundo.

Rio Amazonas: área de exploração ficaria a cerca de 500 km da foz do rio  Foto: Leandro Fonseca / Exame (Leandro Fonseca/Exame)

Petróleo na foz do Amazonas

A possibilidade de que o Brasil explore petróleo no mar perto da Amazônia tem gerado debate no governo e na sociedade civil. De um lado, políticos da região e alguns setores do governo federal, como o Ministério de Minas e Energia, querem que a ideia avance, pelo potencial de gerar recursos para a região Norte. O presidente Lula já defendeu publicamente a ideia.

"Você não pode ter as empresas da Noruega, dos Estados Unidos, as maiores petrolíferas do mundo no Suriname, explorando petróleo para fazerem a transição para um modelo de energia limpa e proibir o Brasil de fazer uma exploração na Linha Equatorial. Com todo o cuidado ambiental, o Brasil pode fazer essa transição", disse Jorge Viana, presidente da Apex-Brasil durante entrevista ao programa Macro em Pauta, da EXAME, na segunda-feira, 25. Viana foi prefeito de Rio Branco e governador do Acre.

Vizinho da Guiana, o Suriname, citado por Viana, tem obtido crescimento modesto: deve avançar 2,3% em 2023. O país sofre com inflação alta, que supera 40% ao ano, segundo o FMI, e enfrenta atrasos nos trabalhos para extrair petróleo de suas reservas no mar.

"O petróleo tem que ser explorado com toda rigidez e cuidado, quem sabe criando um fundo soberano que mude a vida do povo que vive na Amazônia. São 29 milhões de pessoas morando na região mais rica do planeta e que passam necessidades básicas. Se o Brasil pegar esse novo pré-sal e fizer direitinho a gente faz a transição para o modelo descarbonizado, mas colocando os brasileiros em um padrão de vida digno. As coisas não são incompatíveis", defendeu.

Em maio, o Ibama negou licença para a perfuração de um poço na região pela Petrobras. O órgão argumentou, entre outros pontos, que era necessária a realização de estudos de caráter estratégico na bacia da foz do Amazonas.

O Ministério de Minas e Energia discordou da avaliação e pediu então o parecer técnico da Advocacia-Geral da União (AGU). No final de agosto, a AGU divulgou parecer técnico favorável a estudos que podem levar à exploração de petróleo na bacia da foz do rio Amazonas. O assunto segue sem conclusão.

Diversos ambientalistas criticam a possibilidade de explorar petróleo perto da Amazônia. Eles alertam que a decisão de abrir novos poços, além de estimular o uso de um combustível fóssil e que gera mais poluentes, pode gerar danos para as populações indígenas e estimular indiretamente o desmatamento, pois a indústria do petróleo atrairá mais moradores para a região, o que demandará a ampliação de cidades e de estradas.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tem feito ponderações sobre o tema. "Nossos líderes políticos e econômicos estão divididos, uma parte entende a necessidade de proteção e outra parte ainda vê a Amazônia como um depositário de recursos a serem explorados como se fossem infinitos", declarou a ministra, em cerimônia de celebração ao Dia da Amazônia, em 5 de setembro.

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