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Pacote não resolve gargalos do setor de etanol

Só uma política estratégica, clara e bem definida de longo prazo para o combustível será capaz de recuperar – e sustentar – a competitividade da indústria sucroenergética

Usina de etanol (Lia Lubambo/EXAME.com)

Vanessa Barbosa

Publicado em 23 de abril de 2013 às 18h18.

São Paulo – As medidas de redução de tributos e facilitação do acesso ao crédito anunciadas pelo governo para estimular a produção nacional de etanol podem, sim, ajudar o setor a renovar o apetite, mas não resolvem o problema no longo prazo.

Só uma política clara e bem definida dentro da estratégia energética do país será capaz de recuperar a competitividade da indústria sucroenergética brasileira e tornar o negócio sustentável no futuro, avaliam especialistas.

“Em linhas gerais, as novas medidas anunciadas são importantes e simbolizam uma fase mais produtiva nas discussões entre o setor e o governo, mas há espaço para mais”, diz Elizabeth Farina, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única).

As pedras no sapato do setor não são poucas, mas duas incomodam bastante. A primeira, já mencionada, é a ausência de uma definição clara do papel do etanol na matriz energética nacional. Essa, inclusive, é uma reclamação antiga.

Na falta de uma política clara, a insegurança reina, o que espanta os investidores. Para se ter uma ideia, os investimentos no aumento de produção de etanol caíram para US$ 256 milhões no ano passado, do auge de US$ 6,4 bilhões em 2008, de acordo com levantamento da Bloomberg New Energy Finance.


“Falta o governo definir o que pretende para o etanol no consumo de combustível do Ciclo Otto [denominação genérica para o que atualmente é comercializado amplamente como gasolina e etanol]. O setor vive uma gangorra há mais de 30 anos”, afirma Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro. Na década de 80, o Brasil representava mais da metade da produção mundial de etanol, mas em 2012 sua participação caiu para 21%.

Imprevisibilidade do preço da gasolina

A definição de uma política previsível de preços da gasolina é outra demanda. Para aumentar os investimentos no setor de etanol no longo prazo, são necessárias regras estáveis e previsíveis para a formação dos preços dos combustíveis no mercado doméstico. Sem isso, medidas de desoneração de tributos tornam-se meros paliativos, avalia Plínio.

“Nos últimos cinco anos, houve uma fortíssima desoneração da Cide na gasolina, num movimento contrário ao que vem acontecendo no mundo, que é de taxação de combustíveis fósseis e desoneração das fontes de energia limpas”, sublinha.

Não para aí. A elevação das importações de gasolina ao mais alto patamar da história ajudou a derrubar os preços de combustíveis alternativo, desestimulando investimentos no setor de etanol.

Segundo um levantamento da Única feito em fevereiro, das 330 usinas de açúcar e etanol do Centro-Sul do Brasil, responsáveis por 90% de toda a cana processada no país, 60 deverão fechar as portas ou mudar de dono nos próximos dois a três anos.

Agora, diante das nova medidas, é hora de esperar para ver se a desoneração e o crédito facilitado vão atrair novos investimentos, como pretende o governo. A conferir.

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São Paulo – As medidas de redução de tributos e facilitação do acesso ao crédito anunciadas pelo governo para estimular a produção nacional de etanol podem, sim, ajudar o setor a renovar o apetite, mas não resolvem o problema no longo prazo.

Só uma política clara e bem definida dentro da estratégia energética do país será capaz de recuperar a competitividade da indústria sucroenergética brasileira e tornar o negócio sustentável no futuro, avaliam especialistas.

“Em linhas gerais, as novas medidas anunciadas são importantes e simbolizam uma fase mais produtiva nas discussões entre o setor e o governo, mas há espaço para mais”, diz Elizabeth Farina, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única).

As pedras no sapato do setor não são poucas, mas duas incomodam bastante. A primeira, já mencionada, é a ausência de uma definição clara do papel do etanol na matriz energética nacional. Essa, inclusive, é uma reclamação antiga.

Na falta de uma política clara, a insegurança reina, o que espanta os investidores. Para se ter uma ideia, os investimentos no aumento de produção de etanol caíram para US$ 256 milhões no ano passado, do auge de US$ 6,4 bilhões em 2008, de acordo com levantamento da Bloomberg New Energy Finance.


“Falta o governo definir o que pretende para o etanol no consumo de combustível do Ciclo Otto [denominação genérica para o que atualmente é comercializado amplamente como gasolina e etanol]. O setor vive uma gangorra há mais de 30 anos”, afirma Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro. Na década de 80, o Brasil representava mais da metade da produção mundial de etanol, mas em 2012 sua participação caiu para 21%.

Imprevisibilidade do preço da gasolina

A definição de uma política previsível de preços da gasolina é outra demanda. Para aumentar os investimentos no setor de etanol no longo prazo, são necessárias regras estáveis e previsíveis para a formação dos preços dos combustíveis no mercado doméstico. Sem isso, medidas de desoneração de tributos tornam-se meros paliativos, avalia Plínio.

“Nos últimos cinco anos, houve uma fortíssima desoneração da Cide na gasolina, num movimento contrário ao que vem acontecendo no mundo, que é de taxação de combustíveis fósseis e desoneração das fontes de energia limpas”, sublinha.

Não para aí. A elevação das importações de gasolina ao mais alto patamar da história ajudou a derrubar os preços de combustíveis alternativo, desestimulando investimentos no setor de etanol.

Segundo um levantamento da Única feito em fevereiro, das 330 usinas de açúcar e etanol do Centro-Sul do Brasil, responsáveis por 90% de toda a cana processada no país, 60 deverão fechar as portas ou mudar de dono nos próximos dois a três anos.

Agora, diante das nova medidas, é hora de esperar para ver se a desoneração e o crédito facilitado vão atrair novos investimentos, como pretende o governo. A conferir.

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