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O assassino que faz o Japão refletir sobre pena de morte

Após assassinar quatro pessoas e ser executado na forca em 1997, apesar de seu arrependimento público, Norio Nagayama é o símbolo da luta contra a pena de morte

Japoneses: Nagayama passou três décadas no corredor da morte escrevendo livros para conscientizar o país que, majoritariamente, apoia esse tipo de pena (Flickr/freedomiiphotography)
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Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2013 às 11h39.

Tóquio  - Após assassinar quatro pessoas e ser executado na forca em 1997, apesar de seu arrependimento público, Norio Nagayama é o símbolo da luta contra a pena de morte ainda vigente no Japão .

Nascido em um ambiente de extrema pobreza e desamparo social, Nagayama cometeu os crimes em 1968, quanto tinha 19 anos, e passou três décadas no corredor da morte escrevendo livros para conscientizar o país que, majoritariamente, apoia esse tipo de pena.

Sua autobiografia "Muchi no namida", sem tradução no Brasil, publicada em 1971, foi seu primeiro sucesso de vendas e, em suas páginas, o preso se arrependia dos crimes cometidos, além de criticar duramente a pena capital como forma de condenação.

Contudo, apesar de sua fama e reconhecimento como escritor, foi enforcado em uma manhã de 1997.

Michie Ichihara agora é sua voz. Esta japonesa, que visitou várias vezes Nagayama na prisão, explicou em entrevista à Agência Efe que o caso "impactou" a sociedade japonesa, já que seus livros foram e continuam sendo muito vendidos no país.

Ichihara contou que a juventude difícil e a pobreza de Nagayama foram as principais razões que o levaram a cometer os crimes em 1968. Por isso, deveria ter sido encontrado um castigo diferente da pena de morte.

"Os japoneses pensam que devemos eliminar as minorias de nosso país, que devemos acabar com os mais desfavorecidos em vez de ajudá-los", afirmou.


Após ler vários de seus livros, Ichihara foi à prisão para conhecer Nagayama e, com o passar do tempo, se tornaram amigos. A amizade foi tamanha que, dias antes de ser executado, o preso lhe deu de presente vários objetos pessoais como rascunhos de alguns de seus livros, fotos do julgamento e imagens de sua juventude.

São estes objetos que podem ser vistos em uma exposição permanente montada por ela na sua casa para conscientizar sobre a necessidade de extinguir a pena de morte do sistema japonês. Na semana passada, a mostra também pôde ser visitada na sede da União Europeia em Tóquio como parte de atos organizados contra a pena capital.

"Penso que a pena de morte não deve resistir por muito mais tempo no Japão", expressou otimista Ichihara.

Somente o Japão e os EUA, nações industrializadas e democráticas, ainda aplicam a pena capital. Atualmente, 85% da população apoia a pena de morte, segundo dados oficiais de 2010.

Apesar do grande apoio, a pena capital é motivo de debate no Japão e em várias ocasiões as autoridades impuseram moratórias como a de 1964, ano dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Ichihara acredita que os Jogos de 2020, que novamente acontecerão capital japonesa, sejam uma "boa oportunidade" para que o Japão elimine de vez a pena de morte de seu sistema legal.

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Tóquio  - Após assassinar quatro pessoas e ser executado na forca em 1997, apesar de seu arrependimento público, Norio Nagayama é o símbolo da luta contra a pena de morte ainda vigente no Japão .

Nascido em um ambiente de extrema pobreza e desamparo social, Nagayama cometeu os crimes em 1968, quanto tinha 19 anos, e passou três décadas no corredor da morte escrevendo livros para conscientizar o país que, majoritariamente, apoia esse tipo de pena.

Sua autobiografia "Muchi no namida", sem tradução no Brasil, publicada em 1971, foi seu primeiro sucesso de vendas e, em suas páginas, o preso se arrependia dos crimes cometidos, além de criticar duramente a pena capital como forma de condenação.

Contudo, apesar de sua fama e reconhecimento como escritor, foi enforcado em uma manhã de 1997.

Michie Ichihara agora é sua voz. Esta japonesa, que visitou várias vezes Nagayama na prisão, explicou em entrevista à Agência Efe que o caso "impactou" a sociedade japonesa, já que seus livros foram e continuam sendo muito vendidos no país.

Ichihara contou que a juventude difícil e a pobreza de Nagayama foram as principais razões que o levaram a cometer os crimes em 1968. Por isso, deveria ter sido encontrado um castigo diferente da pena de morte.

"Os japoneses pensam que devemos eliminar as minorias de nosso país, que devemos acabar com os mais desfavorecidos em vez de ajudá-los", afirmou.


Após ler vários de seus livros, Ichihara foi à prisão para conhecer Nagayama e, com o passar do tempo, se tornaram amigos. A amizade foi tamanha que, dias antes de ser executado, o preso lhe deu de presente vários objetos pessoais como rascunhos de alguns de seus livros, fotos do julgamento e imagens de sua juventude.

São estes objetos que podem ser vistos em uma exposição permanente montada por ela na sua casa para conscientizar sobre a necessidade de extinguir a pena de morte do sistema japonês. Na semana passada, a mostra também pôde ser visitada na sede da União Europeia em Tóquio como parte de atos organizados contra a pena capital.

"Penso que a pena de morte não deve resistir por muito mais tempo no Japão", expressou otimista Ichihara.

Somente o Japão e os EUA, nações industrializadas e democráticas, ainda aplicam a pena capital. Atualmente, 85% da população apoia a pena de morte, segundo dados oficiais de 2010.

Apesar do grande apoio, a pena capital é motivo de debate no Japão e em várias ocasiões as autoridades impuseram moratórias como a de 1964, ano dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Ichihara acredita que os Jogos de 2020, que novamente acontecerão capital japonesa, sejam uma "boa oportunidade" para que o Japão elimine de vez a pena de morte de seu sistema legal.

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