Crianças: na fronteira, as mais velhas cuidam das mais novas (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de agosto de 2019 às 10h30.
Última atualização em 22 de agosto de 2019 às 11h01.
São Paulo — “Quem quer cuidar deste garotinho?”, perguntou a agente de imigração trazendo para a sala uma criança de 2 anos. No local, a agente se dirige a outras crianças, um pouco mais velhas, na faixa dos 7 ou 8 anos.
Essa é a realidade que a advogada Warren Binford, professora da Universidade de Willamette (Oregon) encontrou em um centro de detenção dos EUA próximo de El Paso, na fronteira com o México.
Warren fez parte de um grupo de advogados especializados em imigração que conduziu no fim de junho entrevistas com 60 crianças no abrigo onde ficam detidas. A realidade, afirma em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, é de péssimas condições de tratamento aos menores, com crianças sujas, sem supervisão de adultos e assustadas. Choro e mau cheiro são constantes.
“Deveria haver um máximo de quatro crianças para um cuidador adulto, mas, basicamente, o que vimos é que há salas com 25 e até 50 crianças sem um adulto para tomar conta”, afirma a advogada.
A crise migratória na fronteira dos EUA com o México, por onde imigrantes de várias partes do mundo, especialmente na América Central, tentam entrar em solo americano, já causou mortes trágicas de crianças que chegam desacompanhadas, com os pais ou adultos que não são seus parentes.
A política de tolerância zero do governo Donald Trump, que previa a separação de famílias na fronteira, foi proibida pelos tribunais, mas, até o início deste ano, ainda havia registro da prática na região fronteiriça para colocar as crianças em abrigos ou lares provisórios. Ao menos cinco crianças sob custódia dos EUA após entrarem de forma ilegal no país morreram desde dezembro.
O procedimento nesse tipo de inspeção é não relatar as condições dos centros à mídia, pois são informações levadas aos tribunais, no processo de imigração das famílias. No caso da detenção de crianças, no entanto, o grupo mudou o procedimento. “São vidas de crianças que estão em risco”, conta.
Os menores devem permanecer até 72 horas sob custódia do governo americano nos casos de detenção na fronteira, até que as autoridades identifiquem um parente para tomar conta da criança. Mas, na prática, as detenções acabam se estendendo por até 9 meses.