Em maio os EUA deixaram o acordo nuclear do Irã assinado em 2015 (Lisi Niesner/Reuters)
AFP
Publicado em 4 de julho de 2018 às 10h01.
Última atualização em 4 de julho de 2018 às 10h30.
Em busca de sócios para contrabalançar o retorno das sanções americanas, o presidente iraniano, Hassan Rohani, insistiu nesta quarta-feira (4), em Viena, em sua vontade de salvaguardar o histórico acordo, hoje ameaçado, sobre o programa nuclear de seu país.
Considerada por Teerã de "capital importância" para a cooperação entre Irã e Europa depois que os Estados Unidos abandonaram o acordo, a visita foi ofuscada pela recente detenção de um diplomata da embaixada do Irã em Viena, suspeito de estar envolvido em um projeto de atentado frustrado.
Algumas horas antes de receber Rohani, Viena convocou de urgência o embaixador do Irã no país e anunciou que a Áustria retiraria o status de diplomata do funcionário em questão.
Em suas declarações à imprensa, o presidente iraniano e seu colega austríaco, Alexander Van der Bellen, não abordaram o tema. Os dois chefes de Estado insistiram em sua vontade de fazer durar esse acordo obtido a fórceps em 2015, em Viena. O texto impede que o Irã tenha acesso à arma atômica em troca da suspensão das sanções, que isolam e estrangulam sua economia.
"Enquanto for possível para o Irã, continuaremos fazendo parte do acordo. Não sairemos do JCPOA [as siglas oficiais do acordo], com a condição de que também possamos nos beneficiar dele", afirmou Rohani.
"Precisamos de um equilíbrio entre nossos deveres e a hipótese de restrição [...] Esperamos ações decisivas, no que diz respeito ao comércio e à economia", insistiu Rohani, que manteve encontros bilaterais na Suíça antes de viajar para a Áustria.
Sua mensagem se dirigia diretamente aos outros cinco Estados signatários do acordo nuclear (China, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha), cujos ministros das Relações Exteriores vão-se reunir sexta-feira em Viena pela primeira vez desde a saída dos Estados Unidos do acordo, ratificado por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU.
Para Teerã e para as outras potências signatárias, as dúvidas em torno de um representante oficial do Irã em um projeto de atentado frustrado na Europa chegam no pior dos momentos.
Detido no sábado na Alemanha, o diplomata pode ser extraditado em breve para a Bélgica, onde são coordenadas as investigações sobre o plano de atentado, indicou a Procuradoria de Bamberg, no sul da Alemanha, segundo a agência DPA.
Como a suposta infração teria sido cometida em um país diferente do qual está acreditado, ele não pode invocar sua imunidade diplomática, explicaram várias fontes à AFP.
O diplomata é suspeito de ter estado em contado com um casal de belgas de origem iraniana detido em Bruxelas em posse de 500 gramas de explosivos. A dupla pretendia usar esse material para atacar um protesto de opositores iranianos organizado em Villepinte, ao norte de Paris.
A concentração foi convocada pelos Mujahedines do Povo Iraniano (MEK), um partido de oposição iraniano fundado em 1965 e proibido desde 1981.
Na segunda-feira, o Conselho Nacional da Resistência Iraniana, uma entidade ligada aos MEK, afirmou que "o diplomata do regime dos mulás na Áustria detido na Alemanha [...] se chama Asadollah Asadi" e o acusou de ter sido o "principal mentor" do atentado frustrado.
De acordo com a página do Ministério austríaco das Relações Exteriores, Asadi é o terceiro conselheiro na embaixada do Irã.
O Irã disse que essas acusações eram uma conspiração para prejudicá-lo. Hoje, seu Ministério das Relações Exteriores afirmou que os suspeitos detidos na Bélgica são "elementos operacionais conhecidos do MEK".