Mundo

Mundo se vê diante de incógnita da política externa de Trump

"Eu quero ser imprevisível", lançou o futuro presidente da primeira potência mundial no seu único discurso de política externa, em abril

Donald Trump: especialistas relacionam Trump a uma corrente isolacionista (Carlo Allegri/Reuters)

Donald Trump: especialistas relacionam Trump a uma corrente isolacionista (Carlo Allegri/Reuters)

A

AFP

Publicado em 10 de novembro de 2016 às 15h00.

A política externa do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, assemelha-se a um grande salto no desconhecido tanto as declarações de campanha do bilionário foram pouco claras, brutais e contraditórias.

"Eu quero ser imprevisível", lançou o futuro 45º comandante em chefe da primeira potência mundial no seu único discurso de política externa em abril.

O secretário de Estado John Kerry prometeu uma transição suave com a próxima administração. "Trata-se de ajudá-los, tanto quanto possível (...) sem perder o ritmo dos principais problemas que enfrentamos", acrescentou.

Especialistas relacionam Donald Trump, totalmente novato na política, a uma corrente isolacionista, um dos dois ciclos de política externa da América desde o século 19. Hillary Clinton teria sidoprovavelmente uma presidente mais intervencionista no palco internacional.

Sob a presidência Trump, "os Estados Unidos poderiam sair de seu papel de liderança na ordem internacional" ocidental, temia antes mesmo da eleição o pesquisador Thomas Wright da Brookings. Se esta "ordem entrar em colapso, ninguém sabe onde isso vai acabar e as condições talvez estariam reunidas para uma grande guerra", escreveu na segunda-feira no site do seu centro de investigação.

Para Donald Trump, os Estados Unidos não podem ser os policiais do mundo e eles têm de reduzir a sua ajuda internacional.

Durante 16 meses de campanha, o candidato republicano prometeu fazer o contrário que o presidente Barack Obama: reconciliação com a Rússia do presidente Vladimir Putin, envio de dezenas de milhares de soldados na Síria e no Iraque para aniquilar o grupo Estado Islâmico (EI), guerra comercial com a China, questionamento dos princípios da Otan e dos acordos internacionais sobre o clima, o livre comércio e o acordo nuclear iraniano.

Reconciliar Washington e Moscou

Donald Trump tem repetidamente elogiado as qualidades de "líder" de Vladimir Putin, acusando Barack Obama de ser frouxo.

Putin, que também qualificou Trump de "homem brilhante e muito talentoso", foi de fato o primeiro na quarta-feira a parabenizá-lo, expressando sua "esperança" de melhorar as relações russo-americanas, atualmente em seu mais baixo nível desde a Guerra Fria.

Por sua parte, o próximo presidente dos Estados Unidos também considerou que seria "bom" ter uma "relação muito boa" com o líder do Kremlin. Mas nunca detalhou como iria conciliar Washington e Moscou.

Este degelo entre os dois países prenunciam uma cooperação na Síria contra o grupo Estado Islâmico? O candidato Trump nunca se estendeu sobre o assunto, mas havia considerado em outubro de 2015 que os primeiros ataques da Rússia para apoiar seu aliado sírio tinham sido "positivos".

'EI K.O.'

O candidato Trump tem variado bastante sobre sua estratégia contra o EI. Em setembro de 2015, ele defendeu uma "espera", sugerindo que o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, e os extremistas iriam se matar.

Mas em março passado, ele de repente se comprometeu em "colocar o EI K.O", enviando entre "20.000 a 30.000" soldados americanos para a Síria e o Iraque.

No mês passado, também calou seu companheiro de chapa Mike Pence, que havia clamado por ataques contra Damasco.

Quanto a ofensiva contra o reduto extremista de Mossul no Iraque, planejada por meses, "tanto faz o efeito surpresa. Que bando de perdedores nós temos", declarou no sábado na Flórida.

China "inimiga" da América

Em campanha, Donald Trump acusou várias vezes a China, "inimiga" da América, de "roubar" os empregos de seu país, de manipular sua moeda e ameaçar uma guerra comercial contra a segunda potência mundial.

E durante o teste nuclear realizado pela Coreia do Norte em janeiro, ele havia exigido que Pequim pressionasse seu aliado comunista. Na falta disso, "deveríamos tornar mais difíceis as trocas comerciais com a China", advertiu.

Otan 'obsoleta'

Ele que será investido em 20 de janeiro de 2017 para entrar na Casa Branca provocou na última primavera consternação no outro lado do Atlântico ao considerar a Otan "obsoleta" e advertir que o compromisso de Washington ao lado de seus aliados europeus em caso de agressão russa dependeria de contribuições financeiras da UE para a Aliança.

Ele expressou o mesmo tipo de ameaças sobre as alianças militares históricas dos Estados Unidos com o Japão e a Coreia do Sul.

O aquecimento climático, uma 'onda de calor'

Para o candidato Trump, o aquecimento climático não é nada mais do que "uma onda de calor" e chegou a evocar a "anulação" do acordo de Paris.

E em nome do protecionismo, ele atacou o acordo de livre comércio entre os Estados Unidos, o México e o Canadá (Alena, 1994) e a parceria transpacífica (TPP, 2015) entre Washington e 11 países da Ásia-Pacífico.

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEleições americanasPolítica

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia