Frio: mulher durante nevasca de inverno em janeiro de 2019 no Nepal. (Narayan Maharjan / NurPhoto/Getty Images)
EFE
Publicado em 10 de janeiro de 2019 às 16h55.
Última atualização em 10 de janeiro de 2019 às 17h27.
Katmandu — Uma mulher e os seus dois filhos de 7 e 9 anos morreram dentro de um pequeno galpão no oeste do Nepal depois que ela foi obrigada a deixar sua casa por causa da tradição hindu conhecida como "Chhaupadi", que proíbe as mulheres de participarem das atividades normais da família durante a menstruação porque são consideradas impuras.
O frio, com temperaturas abaixo de zero, levou Amba Bohara, de 35 anos, acendesse uma fogueira em um pequeno galpão sem janelas nem ventilação, no qual se alojou com seus dois filhos pequenos perto de sua casa no vilarejo remoto de Pandusen, explicou nesta quinta-feira à Agência Efe o chefe da administração local, Khadak Bohora.
Na manhã seguinte, "quando a sogra de Amba abriu a porta do galpão, encontrou ela e as duas crianças mortas", indicou Bohora, que assinalou que a provável causa da morte foi "asfixia" por inalação de dióxido de carbono enquanto dormiam.
"Era um galpão minúsculo. Tinha muito pouco espaço para abrigar três pessoas e, devido ao frio, seria impossível dormir nela sem uma fogueira", concluiu o funcionário, que revelou que há mais cabanas reservadas para esse fim no mesmo vilarejo.
Nos últimos anos, vieram à tona notícias de muitas mortes no Nepal relacionadas com essa discriminatória tradição hindu.
Em janeiro do ano passado, uma mulher de 23 anos morreu no oeste do Nepal por asfixia após acender uma fogueira no interior de uma dessas cabanas.
Aquela foi a quarta morte por "Chhaupadi" no Nepal em pouco mais de um ano, depois que duas jovens de 21 e 15 anos morreram de hipotermia, e outra de 18 anos pela mordida de uma serpente, enquanto passavam a noite em estábulos e cabanas precárias.
O parlamento do Nepal aprovou em agosto de 2017 uma lei que estipula que as pessoas que forçarem uma mulher a deixar sua casa pelo "Chhaupadi" enfrentarão uma pena de três meses de prisão e uma multa de 3 mil rupias (cerca de US$ 30).
Além disso, a prática foi proibida pelo Tribunal Supremo em 2005, mas a implementação da lei não foi efetiva nas áreas mais remotas e pobres do país do Himalaia.
Os costumes discriminatórios contra a mulher também são comuns em outros países do sul da Ásia.
Na Índia, as mulheres sofrem limitações durante o seu período menstrual como a proibição de manipular alimentos e cozinhar, e a obrigação de dormir em um quarto ou em camas separadas de seu marido e familiares. EFE