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Ministro mais polêmico de Portugal pede renúncia

Relvas era considerado o braço direito de Passos Coelho e também o membro mais questionado de seu governo


	A renúncia foi "por vontade própria", garantiu Relvas, que explicou que tomou a decisão "há várias semanas, conjuntamente com o primeiro-ministro"
 (REUTERS/Hugo Correia)

A renúncia foi "por vontade própria", garantiu Relvas, que explicou que tomou a decisão "há várias semanas, conjuntamente com o primeiro-ministro" (REUTERS/Hugo Correia)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2013 às 18h27.

Lisboa - Considerado o mais polêmico ministro de Portugal por protagonizar vários escândalos nos últimos dois anos, o titular da pasta de Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, apresentou nesta quinta-feira sua renúncia ao primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.

Relvas fez uma declaração aos jornalistas na qual apresentando as conquistas de sua gestão, mas não quis responder às perguntas sobre uma possível anulação de seu título universitário, obtido mediante convalidações anômalas, e que a imprensa portuguesa relaciona com a renúncia.

Relvas era considerado o braço direito de Passos Coelho e também o membro mais questionado de seu governo.

O ministro foi o protagonista de um dos mais famosos escândalos do atual governo português pelas circunstâncias anômalas nas quais obteve o título de graduação em Política e Relações Internacionais (em apenas um ano), suas polêmicas com jornalistas, que o acusaram de pressões e ameaças, e suas relações com um antigo chefe dos serviços secretos acusado de espionar personalidades e empresas.

Vários porta-vozes de partidos da oposição de esquerda, que tinha pedido sua renúncia no Parlamento, avaliaram positivamente sua saída do Executivo e uma das figuras do Partido Social Democrata (PSD, centro-direita), Antônio Capucho, disse que a renúncia é um "alívio" para o primeiro-ministro.

Em seu comparecimento diante da imprensa, Relvas defendeu a gestão governamental de Passos Coelho e lembrou seu trabalho com ele no PSD, dois anos antes de chegarem ao governo.

A renúncia foi "por vontade própria", garantiu Relvas, que explicou que tomou a decisão "há várias semanas, conjuntamente com o primeiro-ministro".

"Já não tenho condições psicológicas para continuar", afirmou Relvas, após destacar as economias e a eficiência conseguidas para o Estado com uma reforma administrativa que reduziu as prefeituras e as empresas municipais e uma reestruturação da televisão pública RTP que diminuiu seu orçamento em 22%.


Sua renúncia foi aceita imediatamente, informou o Executivo, que elogiou o demissionário.

Relvas foi também uma das autoridades mais perseguidas pelos manifestantes que protestam contra as medidas de austeridade do governo e boicotam seus atos e interrompem os discursos com o "hino" da revolução portuguesa de 1974.

A renúncia obrigará Passos Coelho a realizar a primeira remodelação significativa no governo, no qual só havia mudado até agora os secretários de Estado.

Nascido em Lisboa em 1961, foi o número 2 de Passos Coelho em sua rápida corrida à presidência do PSD, após a derrota eleitoral do partido em 2009, e depois ao posto de primeiro-ministro, com a vitória nas eleições antecipadas de 2011, um mês depois do resgate financeiro de Portugal.

A licenciatura em Ciências Políticas e Relações Internacionais que Relvas obteve em apenas um ano (2006-2007) na Universidade Lusófona, uma instituição privada de Lisboa, suscitou um escândalo no país.

Os critérios de convalidação, entre eles o curriculum do político, levaram ao Ministério da Educação a realizar uma investigação que encontrou irregularidades e que, segundo à imprensa do país, poderia levar à anulação do título.

Vinculado ao setor empresarial desde jovem, Relvas também foi questionado por sua relação com o antigo responsável pelo serviço secreto português Jorge Silva Carvalho, investigado por atividades suspeitas na relação com empresas privadas.

Nesse mesmo caso, o jornal "Público", um dos mais críticos com Relvas, o acusou de ameaçar uma de suas jornalistas com a divulgação de dados pessoais na internet se publicasse uma notícia que vinculava o ministro com o antigo chefe da espionagem.

O episódio foi analisado pela Entidade Reguladora da Comunicação Social portuguesa, mas nenhum parecer foi emitido contra Relvas.

O processo de reestruturação da RTP, que pode levar a demissões de cerca de 620 funcionários de um total de 2.069, também causou uma chuva de críticas a Relvas, cujo propósito inicial de privatizar o canal não chegou a se realizar.

Relvas era um dos principais aliados de Passos Coelho desde que ingressaram nas juventudes do PSD na década de 1980. O ministro demissionário foi deputado em sete legislaturas e sua estreia parlamentar aconteceu quando tinha apenas 23 anos.

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