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Migração venezuelana já é do tamanho da crise no Mediterrâneo

O fluxo de venezuelanos em direção à Colômbia e ao Brasil já se assemelha ao fluxo mensal de migrantes que cruzaram o mar Mediterrâneo no auge da crise

Crise na Venezuela: Há 40 mil pessoas por mês cruzando a fronteira para a Colômbia (Nacho Doce/Reuters)

Crise na Venezuela: Há 40 mil pessoas por mês cruzando a fronteira para a Colômbia (Nacho Doce/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de fevereiro de 2018 às 17h30.

Genebra - O fluxo de migrantes da Venezuela em direção às cidades colombianas e brasileiras já se assemelha ao fluxo mensal de migrantes que cruzaram o mar Mediterrâneo em direção às ilhas italianas no auge da crise. O alerta é de Joel Millman, porta-voz da Organização Internacional de Migrações (OIM).

"Fomos informados de um fluxo de 40 mil pessoas por mês cruzando a fronteira para a Colômbia", disse. "Isso é quase o equivalente ao que vimos no auge da crise na Europa, em 2015, no sul da Itália", explicou. "Trata-se de uma emergência diferente", afirmou Millman. "Mas acompanhamos de perto a situação com atenção", disse o porta-voz da OIM.

Dados oficiais da organização destacam que a Itália, uma das principais portas para a Europa, recebeu 155 mil estrangeiros em 2015 e 181 mil em 2016. Praticamente todos eles partiram de portos líbios ou da Tunísia.

No auge da crise de refugiados, a passagem entre a Turquia e a Grécia chegou a registrar cerca de 1 milhão de pessoas. Mas a rota foi fechada por um acordo entre a Europa e o governo de Ancara. Em 2017, a OIM estima que 186 mil pessoas entraram no continente europeu pelas rotas marítimas, principalmente pela Itália.

No caso sul-americano, os dados da entidade Migración Colômbia apontam que 470 mil venezuelanos entraram no país vizinho em 2017. Ao final do ano passado, existiam cerca de 202 mil cidadãos venezuelanos vivendo de forma irregular na Colômbia.

"Em alguns dos meses, já vemos um fluxo maior de venezuelanos para a Colômbia que o total mensal que a Itália recebe do norte da África", aponta Millman.

Existem, porém, duas classificações no que se refere ao fluxo de pessoas. Aqueles que consideram que estão fugindo de perseguição ou repressão, podem pedir asilo. Um número bem mais elevado, porém, se refere a pessoas que deixam seus países de origem por conta da pobreza, o que não caracterizaria uma condição de refugiado. Nesse caso, são classificados como "migrantes econômicos".

Do lado brasileiro, a cidade de Boa Vista, capital de Roraima, já teria recebido 40 mil venezuelanos e o governo estuda medidas para repartir essa população em outros Estados da federação. O presidente Michel Temer anunciou nesta segunda-feira, 12, um reforço da ação militar ao longo da fronteira, com o envio de 200 soldados por pelotões, além da duplicação dos postos de controle.

O fluxo de venezuelanos tem sido gerado por uma situação cada vez mais dramática da economia do país e de sua crise política. Dados anunciados nesta semana pela Organização dos Estados Americanos (OEA) indicam que em 2014, 48% das famílias da Venezuela estavam em condições de pobreza. Em 2016, esse número já chegava a 81,1%.

Na semana passada, o Tribunal Penal Internacional anunciou que analisará supostos crimes cometidos pelo governo da Venezuela. Mas na ONU, apesar da pressão de certos governos, nenhuma resolução conseguiu sequer ser elaborada para denunciar o governo de Nicolás Maduro nos diferentes órgãos da entidade. Caracas, ao longo de anos, costurou um forte apoio entre governos do Movimento de Países não-alinhados e Maduro ainda tem o apoio chinês e russo.

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Al-Hussein, apontou também em 2017 que as violações cometidas pelo regime chavista poderiam ser considerados como crimes contra a humanidade.

"Minha investigação sugere a possibilidade de que crimes contra humanidade possam ter sido cometidos, o que apenas pode ser confirmado por uma investigação criminal subsequente", disse Al-Hussein.

Ele acusou Maduro de "esmagar instituições democráticas e vozes críticas, incluindo por meio de processos criminais contra líderes da oposição, prisões arbitrárias e em alguns casos tortura".

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