Machu Picchu é o primeiro destino turístico carbono neutro do mundo
A cidade perdida dos incas, principal atração peruana, recebeu a certificação após colocar em prática uma série de compromissos com o meio ambiente nos últimos anos
Gabriella Sandoval
Publicado em 13 de outubro de 2021 às 20h02.
Última atualização em 13 de outubro de 2021 às 20h04.
Agora, além de ser uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno e Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade, Machu Picchu exibe o título de primeiro destino turístico carbono neutro do planeta. A conquista – fruto do trabalho articulado dos setores público e privado e da sociedade civil – posiciona o Santuário Histórico na vanguarda da sustentabilidade e do combate às mudanças climáticas.
A certificação foi concedida no dia 2 de setembro pela Organização Mundial do Turismo, por meio da empresa certificadora Green Initiative. O compromisso assumido é reduzir as emissões de carbono em 45% até 2030 e atingir zero emissões líquidas até 2050, seguindo as diretrizes do Acordo de Paris.
O governo peruano trabalha na descarbonização de Machu Picchu desde 2016, após uma crise no gerenciamento de resíduos que fez a UNESCO considerar a inclusão da cidade inca na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo. De lá para cá, foi planejada uma série de ações relevantes que levaram à certificação inédita.
Principais iniciativas
Uma das ações para reduzir a pegada de carbono foi a implantação de uma compactadora de resíduos plásticos, que processa sete toneladas por dia. A infraestrutura garante que os resíduos deixados pela atividade turística não comprometam a paisagem e o ecossistema da região. Desde dezembro de 2018, também é proibida a entrada de plásticos não reutilizáveis no Santuário Histórico.
Outra iniciativa relacionada à economia circular foi a inauguração de uma fábrica de transformação de óleo em biodiesel e glicerina, instalada no Hotel Inkaterra Machu Picchu Pueblo, com o objetivo de evitar o vazamento de óleo no rio Vilcanota.
O distrito de Machu Picchu ganhou ainda um projeto pioneiro no Peru: a primeira estação de tratamento de resíduos orgânicos por pirólise do país. Com capacidade para processar oito toneladas de material, a estrutura usa a tecnologia inovadora para realizar a decomposição química em altas temperaturas na ausência de oxigênio, sem emissão de carbono.
O processo transforma o lixo em biocarvão, um fertilizante natural que será usado no reflorestamento do Santuário, outra ação importante em curso. Serão plantadas um milhão de árvores, a maioria de espécies nativas.
O desafio é recuperar espaços degradados no ecossistema da região, numa área equivalente a 779,42 hectares, a fim de prevenir desastres naturais e restaurar a biodiversidade. As primeiras 100 mil mudas já foram plantadas na bacia do rio Salkantay.
Paralelamente, a prefeitura da cidade estimula a responsabilidade ambiental no dia a dia da população, por meio de ações como campanhas de reciclagem, educação ambiental para as crianças, incentivo à locomoção a pé ou de bicicleta, prevenção de incêndios e eventos com foco em sustentabilidade.
Todas as iniciativas estão alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, principalmente com o Objetivo 12 (Produção e Consumo Responsáveis) e o Objetivo 13 (Ação Climática), que promove a mitigação de CO2 por meio da compensação e redução de emissões.
A Organização Mundial do Turismo estima que 5% das emissões totais de carbono no Peru estão relacionadas ao turismo, o que reforça a importância do compromisso ambiental da indústria do setor no país.
Além de contribuir com a estratégia nacional frente às mudanças climáticas e preservar uma das maravilhas do mundo, a redução das emissões de gases de efeito estufa beneficiará o país em 98 bilhões de dólares até 2050. A projeção é do “Estudo técnico rumo à neutralidade de carbono no Peru no longo prazo”, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente.
“Acreditamos firmemente que a transição para um futuro descarbonizado é uma grande oportunidade para maximizar os benefícios nacionais para um desenvolvimento competitivo, rentável e eficiente para o país”, afirmou a Diretora Geral de Mudanças Climáticas e Desertificação, Laura Secada, em nota oficial do governo peruano.