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Livro do Papa sobre Jesus condena a violência religiosa

O argumento é aplicável tanto para militância islâmica de hoje quanto para a violência que a própria Igreja Católica cometeu no passado

Obra tem 350 páginas e se parece mais com um texto para seminaristas que com um livro para o grande público (Getty Images)

Obra tem 350 páginas e se parece mais com um texto para seminaristas que com um livro para o grande público (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 10 de março de 2011 às 14h58.

Cidade do Vaticano - O papa Bento 16, em seu livro mais recente, lançado na quinta-feira, condena a violência cometida em nome de Deus e exonera pessoalmente os judeus da responsabilidade pela morte de Jesus.

O livro, o segundo de uma série planejada em três partes sobre a vida de Jesus, é um relato detalhado, altamente teológico e acadêmico da última semana da vida de Jesus.

O livro já foi impresso em sete línguas, com 1,2 milhão de cópias ao todo. A publicidade internacional da obra incluiu teleconferências com a mídia em vários países.

A obra, que tem 350 páginas e se parece mais com um texto para seminaristas que com um livro para o grande público, é repleta de citações da Bíblia e referências a outros teólogos, historiadores e autores católicos.

Em uma seção, Bento escreve que não há justificativa possível para a violência cometida em nome de Deus --afirmação tão aplicável à militância islâmica de hoje quanto à violência que a própria Igreja Católica cometeu no passado, no esforço para difundir sua fé.

"A violência não constrói o Reino de Deus, o reino da humanidade," escreve o papa.

A parte do livro que pode ter efeito mais amplo sobre as relações dos católicos com outras religiões é o trecho em que o pontífice detalha os fatos do julgamento de Jesus Cristo perante o governador romano Pôncio Pilatos e sua condenação à morte.

Nesse trecho, o papa repudia o conceito da culpa coletiva dos judeus da época e de seus descendentes pela morte de Jesus, acusação que assombra as relações entre cristãos e judeus há séculos.


Bento diz que foi a "aristocracia do Templo," e não todos os judeus da época, que quis que Jesus fosse condenado à morte, porque ele se declarara rei dos judeus e porque a aristocracia considerava que ele havia violado a lei religiosa judaica.

É a primeira vez em que um papa disseca e compara os vários relatos feitos no Novo Testamento, concluindo que não há base para a acusação contra os judeus, que foi oficialmente repudiada pela primeira vez em um documento da Igreja em 1965.

Líderes judaicos em todo o mundo já saudaram esse trecho do livro.

"Comendo Vossa Santidade por rejeitar terminantemente em seu livro recente uma acusação falsa que tem estado à base do ódio voltado ao povo judaico por muitos séculos," disse o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em carta ao papa.

O rabino Jacob Neusner, eminente estudioso americano do judaísmo e editor da "Enciclopédia do Judaísmo," disse: "Isto representa uma avaliação baseada em estudos... ele (o papa) fala da verdade, e não sobre o que é conveniente."

Eleito em 2005, Bento já teve problemas com as relações entre cristãos e judeus.

Em 2009 muitos judeus e outros sentiram-se ultrajados quando ele revogou a excomunhão do bispo tradicionalista Richard Williamson, que provocou furor internacional ao negar a extensão total do Holocausto e afirmar que judeus não foram mortos nas câmaras de gás.

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