Militares e policiais enfrentaram ameaças e maus-tratos, e paradoxalmente, o assédio das forças de segurança, que nunca descartaram a possibilidade do resgate (Luis Acosta/AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de abril de 2012 às 21h10.
Bogotá - Os dez militares e policiais colombianos que foram libertados na segunda-feira pelas Farc expuseram os maus-tratos aos quais foram submetidos durante seu longo cativeiro, acorrentados durante anos, e relataram uma fracassada tentativa de fuga que por pouco não custou a vida de alguns deles.
''Todos os dias nossas vidas corriam perigo'', afirmou o policial Wilson Rojas Medina em entrevista à imprensa em Bogotá, onde se encontra desde a segunda-feira à noite junto com os outros libertados.
Rojas, intendente chefe da Polícia Nacional, resumiu dessa forma os perigos que os agora ex-reféns enfrentaram durante o tempo em que estiveram nas mãos das Farc, alguns até mais de 14 anos, já que todos eles foram sequestrados entre 1998 e 1999 em diferentes regiões da Colômbia.
''Era um perigo diário'', disse o intendente, que em uma ocasião se salvou junto com outros três sequestrados de morrer vítima de um raio que matou o guerrilheiro que atuava como carcereiro.
Mas além disso, estes militares e policiais enfrentaram ameaças e maus-tratos, e paradoxalmente, o assédio das forças de segurança, que nunca descartaram a possibilidade do resgate.
''Estivemos acorrentados por longos oito anos (...), e mais, acorrentados por casais, 24 horas do dia, em algumas ocasiões estivemos acorrentados pelos pés, e em outras pelas mãos'', denunciou Luis Alberto Arcia, sargento do Exército Nacional, também aos jornalistas.
Arcia, que ficou mais de 14 anos no cativeiro, observou que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) sempre tiveram expectativas sobre uma possível operação de resgate militar, situação na qual não permitiriam que os cativos saíssem com vida.
Uma das piores experiências foi vivida pelos policiais Jorge Trujillo Solarte e José Libardo Forero, que em uma noite chuvosa escaparam dos rebeldes e permaneceram em fuga durante um mês.
''Nesse dia renunciamos à vida, tínhamos que sair, viver ou morrer, e saímos'', disse Solarte, enquanto seu companheiro Forero afirmou: ''Pedia a Deus que me desse algo para iluminar e apareceu um vaga-lume; o Senhor tinha nos indicado e a partir daí sobrevivemos com sete pacotes de bolachas e duas broas''.
O cativeiro também teve seus paradoxos, como expôs o intendente-chefe da Polícia Wilson Rojas Medina: ''Sentir o assédio das tropas quando você pertence às instituições, sentir o assédio dos aviões e ter que fugir é algo duro demais''.
Os seis policiais libertados na segunda-feira se mostraram dispostos a continuar no serviço ativo da Polícia Nacional, após a emissão de relatórios médicos pelos hospitais da Polícia e do Exército sobre a sua saúde.
Os relatórios disseram que os libertados estão ''estáveis'' e apresentam ''boas condições gerais e mentais''.
Alguns morreram de malária e leishmaniose, doenças tropicais comuns, enquanto outros perderam peso e contraíram males digestivos, segundo os mesmos relatórios, que indicaram que vários ex-reféns devem receber assistência em saúde mental.
No caso dos militares, a subdiretora do Hospital Militar, coronel Clara Galvis, detalhou que os ex-sequestrados ''estão em fase de adaptação, (pois) vêm de um estresse de muitos anos, de estar fora de sua realidade, de sua família''.
''Estão estáveis, estão se adaptando a esta nova realidade'', acrescentou, para admitir que a ênfase no atendimento destes ex-sequestrados é na saúde mental.
O estado dos militares e policiais tinha sido previamente constatado pelo presidente Juan Manuel Santos, que os visitou separadamente em seus hospitais.
''Vê-los livres (...) é um motivo muito grande de alegria'', expressou Santos, que reiterou avaliar em sua dimensão esta atitude das Farc, apesar de considerar insuficiente, porque os rebeldes ainda devem dar ''mostras mais indubitáveis'' de sua vontade de paz.