Jenna Miscavige, a sobrinha do atual líder da Cientologia, descreve em um livro o terrível cotidiano das crianças educadas nesta seita (Edward Linsmier/AFP)
Da Redação
Publicado em 16 de março de 2013 às 20h42.
Trabalho forçado, lavagem cerebral, punições frenéticas, distanciamento da família: Jenna Miscavige, a sobrinha do atual líder da Cientologia, descreve em um livro o terrível cotidiano das crianças educadas nesta seita da qual "fugiu" aos 21 anos.
Karin Pouw, porta-voz da Cientologia, dirigida por David Miscavige e cujo membro mais conhecido é o ator Tom Cruise, chamou o livro - "Beyond Belief" ("Além da Crença", em tradução livre) - de "revisionismo" escrito por uma "apóstata", em um e-mail enviado à AFP.
Em seu livro, Jenna Miscavige, que hoje tem 29 anos, descreve as duras tarefas que ela e outras crianças deviam cumprir nos anos 1990 no "Ranch", um internato afastado de tudo, localizado no deserto californiano, quase 150 km ao sudeste de Los Angeles.
"A igreja é uma organização perigosa, cujas crenças autorizam crimes contra a humanidade e violação dos direitos mais fundamentais", escreveu a jovem que vê na Cientologia "uma experiência de lavagem cerebral": "a Cientologia é um sistema que torna quase impossível pensar por si mesmo".
No Ranch - "um campo de treinamento militar de rotinas extenuantes e de inspeções desgastantes" -, as crianças podem ver seus pais apenas poucas horas por semana. Sem receber educação no sentido clássico da palavra, são obrigadas a realizar trabalhos duros de construção, lembra Miscavige, que passou seis anos neste campo, até os 12 anos de idade.
Até o ano 2000, este internato recebia os filhos dos membros da "Sea Org" - o "clero" da Cientologia -, que trabalhavam 14 horas por dia, sete dias da semana por um salário semanal de 45 dólares, descreve. A mesma situação é citada em outro livro, lançado em janeiro nos Estados Unidos, "Going clear", do jornalista Lawrence Wright - um livro "ridículo", segundo os membros da Cientologia.
As atividades que as crianças eram obrigadas a fazer no internado incluíam arrastar enormes pedras para construir um muro e cavar canais de irrigação sob um sol escaldante.
"As condições nas quais nós trabalhávamos seriam difíceis até mesmo para um adulto, e quando alguém reclamava, protestava ou questionava, era imediatamente punido", conta.
Os atores Tom Cruise, John Travolta e Juliette Lewis, o cantor Beck estão entre os cientologistas mais conhecidos. Contudo, "eles não corriam nenhum risco de ver seus filhos trabalhando ou fazendo qualquer outra coisa que a igreja não quisesse que vissem", ressalta Jenna Miscavige.
A jovem, assim como Lawrence Wright e outros ex-cientologistas, como o diretor e roteirista canadense Paul Haggis - autor de uma carta aberta quando deixou a seita -, também criticam a política de "desconexão" promovida pela Cientologia, que proíbe seus membros de falar com outras pessoas ou questionar sua doutrina.
"A igreja não compactua com nenhuma atividade que maltrata crianças ou as obriga a fazer trabalhos manuais, (...) e respeita todas as leis que protegem as crianças", escreveu Pouw.
"Afirmações que dizem o contrário são falsas", completou.
Protegida nos Estados Unidos pela Constituição, que garante a liberdade de culto, a Cientologia é considerada em muitos países como uma seita.
Na França, ela foi condenada há um ano por fraude e formação de quadrilha.