Mundo

Lancôme é ameaçada de boicote em Hong Kong por cancelar show

Figura do movimento pró-democracia do outono de 2014, Denise Ho deveria cantar em um evento promocional em 19 de junho em Hong Kong


	Denise Ho: "Quando uma marca mundial como a Lancôme se ajoelha ante um poder hegemônico e intimidante, devemos enfrentar o problema de frente"
 (Lucas Schifres / Getty Images)

Denise Ho: "Quando uma marca mundial como a Lancôme se ajoelha ante um poder hegemônico e intimidante, devemos enfrentar o problema de frente" (Lucas Schifres / Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 7 de junho de 2016 às 10h04.

A empresa francesa de cosméticos Lancôme era alvo de pedidos de boicote em Hong Kong por ter cancelado o show de uma cantora de Hong Kong criticada em Pequim por seu compromisso político.

Figura do movimento pró-democracia do outono de 2014, Denise Ho deveria cantar em um evento promocional em 19 de junho em Hong Kong.

A famosa marca do grupo L'Oréal publicou dois comunicados no domingo, o primeiro informando que a cantora não era uma de suas porta-vozes, e o segundo, horas depois, para anunciar o cancelamento do show "por razões de segurança", sem fornecer mais detalhes.

Em uma cidade conhecida por sua segurança, muitos internautas interpretaram a decisão como reação a uma publicação, no sábado, do jornal estatal chinês em inglês Global Times.

Este órgão dependente do Partido Comunista chinês acusou nas redes sociais a Lancôme de cooperar com "um veneno honconguês" e com "um veneno tibetano", em referência ao apoio da cantora ao Dalai Lama.

Mais de 24.000 pessoas reagiram com irritação na manhã desta terça-feira no Facebook ao controverso comunicado da Lancôme anunciando o cancelamento do show.

Alguns comentários anunciavam um boicote.

"É brincadeira? Estão dizendo que Hong Kong não é um lugar seguro? Se for assim, aconselho fortemente a Lancôme a parar suas atividades em Hong Kong", reagiu Winnie Leung, uma internauta.

"Este incidente é um bom exemplo de 'desastre de relações públicas'".

"Castigada por tomar a palavra"

O projeto de show havia sido criticado anteriormente na China, onde alguns internautas acusaram a marca francesa de utilizar os lucros gerados na China continental para promover as causas independentistas de Hong Kong e Tibete.

Em virtude do acordo chinês-britânico que articulou a retrocessão de 1997, Hong Kong goza de liberdades desconhecidas em outras partes da China continental, em virtude do princípio "Um país, dois sistemas".

Diversos incidentes, e sobretudo o desaparecimento de livreiros críticos a Pequim, reforçaram na ex-colônia o sentimento de que estas liberdades estão diminuindo e de que Pequim aumenta seu controle.

Por sua vez, a própria Denis Ho criticou a decisão da Lancôme.

"Não é justo que me castiguem por tomar a palavra, por enfrentar, por ter buscado estes direitos que consideramos direitos humanos essenciais", denunciou no Facebook Denise Ho, que em maio publicou uma foto com o Dalai Lama.

"Quando uma marca mundial como a Lancôme se ajoelha ante um poder hegemônico e intimidante, devemos enfrentar o problema de frente, porque isso significa que os valores universais foram gravemente desvirtuados", acrescentou a cantora.

Acompanhe tudo sobre:ArteHong KongIndústria da músicaMetrópoles globaisMúsicaShows-de-música

Mais de Mundo

Trump ameaça retomar o controle do Canal do Panamá

Biden assina projeto de extensão orçamentária para evitar paralisação do governo

Com queda de Assad na Síria, Turquia e Israel redefinem jogo de poder no Oriente Médio

MH370: o que se sabe sobre avião desaparecido há 10 anos; Malásia decidiu retomar buscas