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Lagarde reconhece que não avaliou riscos de fraude

Lagarde se mostrou firme em suas convicções de que atuou com honestidade e ficou com a voz embargada ao falar sobre o "sofrimento" que enfrentou ali

Lagarde: "Estes cinco dias de audiência acabam com cinco anos de sofrimento para mim, meu marido, meus filhos e meus irmãos, que estão na sala" (/Charles Platiau/Reuters)

Lagarde: "Estes cinco dias de audiência acabam com cinco anos de sofrimento para mim, meu marido, meus filhos e meus irmãos, que estão na sala" (/Charles Platiau/Reuters)

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EFE

Publicado em 16 de dezembro de 2016 às 16h36.

Paris - A diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, defendeu nesta sexta-feira em Paris sua inocência no julgamento por negligência, mas reconheceu que não avaliou os riscos de fraude no caso que terminou em uma indenização milionária ao empresário Bernard Tapie.

Em sua declaração final aos juízes e parlamentares da corte especial que julga o caso desde a segunda-feira passada, ela se mostrou firme em suas convicções de que atuou com honestidade e ficou com a voz embargada ao falar sobre o "sofrimento" que teve que enfrentar nesse julgamento.

"Estes cinco dias de audiência acabam com cinco anos de sofrimento para mim, meu marido, meus filhos e meus irmãos, que estão na sala", afirmou ela, que substituiu Dominique Strauss-Kahn à frente do FMI.

Lagarde, que é acusada de "negligência" no exercício de suas funções em 2007 e 2008 quando era ministra da Economia da França, conhecerá na segunda-feira que vem a decisão da Corte de Justiça da República, constituída por três juízes e 12 parlamentares que julgam ministros por crimes cometidos.

Tudo leva a crer que a responsável pelo FMI sairá absolvida - teoricamente poderia ser condenada a até um ano de prisão e pagar multa de 15 mil euros -, principalmente depois que a Promotoria insistiu ontem que não existem elementos para declará-la culpada.

A ex-ministra, de 60 anos, assumiu suas decisões na gestão do caso com Tapie, em particular optar pelo procedimento controverso da arbitragem em vez de continuar a via dos tribunais, embora, ao mesmo tempo, tenha ressaltado que não acompanhava o dia a dia das discussões, dedicada a outros aspectos de sua missão à frente do departamento de Finanças.

No final, o resultado foi favorável ao empresário pela venda da Adidas, que teve que traspassar o então banco público Crédit Lyonnais, e o custo para os cofres públicos foi de 403 milhões de euros, incluindo uma verba particularmente polêmica de 45 milhões de indenização por danos morais para Tapie e sua esposa.

Ninguém a avisou, disse em sua alegação final, da possibilidade de que nessa arbitragem houvesse desvios e reconheceu que não levou em conta "o risco de fraude".

Foi o único erro que admitiu. Nas demais declarações ela se dedicou a insistir em que tinha atuado "em consciência" e confiando em seus assessores, com "o único objetivo de defender o interesse geral".

Mantendo a mesma linha de defesa, garantiu que as negociações com Tapie levaram seus subordinados, em particular seu chefe de gabinete, o atual presidente da France Télécom, Stéphane Richard, a serem processados pelo caso, que será julgado como os demais acusados por um tribunal comum.

A então ministra afirmou na audiência desconhecer os meandros dessa arbitragem, cancelada agora pela justiça depois de ser descoberto que um dos árbitros privados escolhidos tinha relações contratuais com o advogado de Tapie.

Os advogados da diretora do FMI, da mesma forma que a Promotoria, sustentaram que a negociação foi feita no Eliseu, ou seja, pelos colaboradores do então presidente, Nicolas Sarkozy, e que a decisão de recorrer a uma arbitragem privada não pode ter consequências penais.

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