Legista ucraniano mostra as insígnias encontradas no uniforme de um soldado russo morto em Zavlivka, oeste de Kiev: milhares de russos mortos (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 17 de maio de 2022 às 18h07.
Embora o número exato seja um segredo bem guardado pelo governo, entre os milhares de soldados russos mortos na Ucrânia, muitos são bem jovens, pobres e alguns de minorias étnicas, afirmam especialistas.
O Kremlin não se manifesta sobre o tema desde 25 de março, ou seja, um mês e um dia depois do início do conflito.
Na ocasião, o governo russo havia admitido que 1.351 soldados morreram em combate, enquanto o balanço oficial anterior, de 2 de março, registrou 498 soldados mortos.
Após sete semanas de combates destrutivos e vários vídeos ucranianos mostrando grandes perdas do lado inimigo, o governo ucraniano estima a cifra de mortos em 27.000. Um número elevado, segundo vários militares e analistas ocidentais. Mas as fontes estimam que, apesar disso, as avaliações russas também são muito subestimadas.
"A Rússia sofreu provavelmente perdas que correspondem a um terço da força de combate terrestre enviada em fevereiro", observou no domingo o ministério britânico da Defesa, ou seja, 50.000 soldados russos feridos ou mortos.
À razão de três feridos por morto reconhecida por Moscou no começo de fevereiro, chegaria-se, então, a 12.500 mortos russos em menos de três meses desta "operação especial".
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Ou seja, muito perto dos 15.000 soviéticos mortos em uma década da guerra no Afeganistão (1979-1989), que provocou um trauma nacional e a derrocada da URSS.
"Nós nos inclinamos perante nossos companheiros de armas mortos corajosamente em um combate justo pela Rússia", disse Vladimir Putin, em homenagem prestada em 9 de maio, dia da Vitória.
"A morte de cada soldado ou oficial é causa de pesar para nós e uma perda irreparável para as pessoas próximas", acrescentou, anunciando uma série de medidas para ajudar as famílias dos feridos e mortos.
O site russófono Mediazona reportou ter confirmado a morte de 2.099 soldados russos em combate até 6 de maio, unicamente a partir de fontes abertas. Grande parte deles tinham entre 21 e 23 anos, e 74 nem mesmo 20 anos, destacou o veículo.
Poucos deles são originários de Moscou ou São Petersburgo, duas cidades mais ricas do que a média russa.
A maioria dos mortos provém do sul da Rússia, especialmente da região do Cáucaso Norte, majoritariamente muçulmana, assim como da Sibéria central, segundo a mesma fonte.
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O maior número de mortos (135) foi confirmado entre soldados da região muçulmana do Cáucaso Norte, o Daguestão, seguidos dos buriácios (98), uma minoria mongol proveniente da Buriácia, província da Sibéria.
Dmitro, entrevistado pela AFP em abril em Zaporizhzhia (sul da Ucrânia), depois de viver por mais de um mês a invasão e os bombardeios em Mariupol, falou de "três ondas" de ocupantes em sua cidade.
Os buriácios, que sucederam os separatistas pró-russos do Donbass, "saquearam tudo", depois os chechenos, culpados de fazer uma "caça aos seres humanos", segundo este médico, que deu seu testemunho sob a condição do anonimato.
"A maioria de soldados e oficiais de infantaria do Exército provém de pequenas cidades e povoados da Rússia. Isto está relacionado com a estratificação sócio-econômica (...) e educacional", diz à AFP Pavel Luzin, comentarista do site informativo online Riddle Russia.
A razão, explica, é que "as exigências para o serviço militar nesta força armada são relativamente baixas".
Os melhores soldados e futuros oficiais preferem outras forças como "as aeroespaciais, as forças balísticas estratégicas e a Marinha", acrescentou.
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A mídia local e as redes sociais do Daguestão, uma das regiões mais pobres da Rússia, devastada durante anos por uma insurreição islâmica, estão repletas de imagens de pais enlutados, recebendo as condolências das autoridades.
Kamil Iziiev, chefe do distrito de Buinakski, no Daguestão, publicou em maio um vídeo na rede Telegram, no qual aparece entregando recompensas às famílias de cinco soldados mortos no front, recebidas por viúvas e mães usando o véu muçulmano.
O primeiro soldado russo com a morte confirmada oficialmente pela Rússia foi Nurmagomed Gadzhimagomedov, um jovem daguestanês que, segundo a imprensa estatal, morreu salvando seus camaradas.
Ele foi condecorado em caráter póstumo com a ordem Heróis da Rússia em 4 de março por Vladimir Putin.
Na ocasião, o presidente russo elogiou o desempenho das minorias étnicas na Ucrânia e mostrou-se "orgulhoso de pertencer a este mundo, este povo poderoso, forte e multinacional que é a Rússia".