Jovens parlamentares tomam frente de protestos na Venezuela
Diariamente nas ruas liderando os manifestantes, os membros enérgicos da Assembleia Nacional são heróis para muitos apoiadores da oposição
Reuters
Publicado em 26 de junho de 2017 às 14h27.
Caracas - Um foi derrubado por um canhão de água. Outro foi empurrado em um fosso. A maioria foi alvo de spray de pimenta, gás lacrimogêneo, cassetetes e balas de chumbo.
Um grupo de jovens parlamentares da Venezuela tem se destacado na linha de frente dos protestos violentes contra o governo que vêm abalando o país sul-americano há três meses e já causaram 75 mortes.
Diariamente nas ruas liderando os manifestantes , repelindo barricadas de segurança e às vezes pegando cilindros de gás lacrimogêneo para atirá-los de volta contra policiais e soldados, os membros enérgicos da Assembleia Nacional são heróis para muitos apoiadores da oposição.
Mas para o governo socialista do presidente venezuelano, Nicolás Maduro , eles são os principais "terroristas" de um complô golpista apoiado pelos Estados Unidos cujo objetivo é controlar a vasta riqueza petroleira do país-membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Cerca de uma dúzia de parlamentares, todos entre cerca de 25 e 35 anos, pertencem majoritariamente aos partidos Primeiro Justiça e Vontade Popular, que estão incentivando a desobediência civil contra um presidente que classificam de ditador.
Eles marcham sem equipamento de proteção - ao contrário dos jovens com máscaras e escudos ao seu redor -, embora apoiadores e assessores às vezes formem círculos para blindá-los.
Eles não recebem salários desde que os recursos para a Assembleia Nacional foram limitados, vivendo da bondade de parentes e amigos. E alguns ainda moram na casa dos pais.
Um dos mais conhecidos, Juan Requesens, de 28 anos, já sofreu mais do que a maioria. Ele tem uma cicatriz na cabeça por causa de um pedaço de pau atirado por apoiadores do governo, feridas de chumbinho e de latas de gás lacrimogêneo em todo o corpo e hematomas por ter sido atirado por soldados da Guarda Nacional dentro de um fosso.
"A pior coisa para mim é quando camaradas morrem, quando tombam ao meu lado", disse Requesens à Reuters, contando que esteve perto de nove fatalidades desde abril.
Os manifestantes estão exigindo eleição presidencial e soluções para a escassez de alimentos e remédios. Os mortos não foram só oposicionistas, mas também defensores de Maduro, transeuntes e membros das Forças de Segurança.
Milhares de pessoas também ficaram feridas e quase 1.500 continuam presas depois de serem detidas em todo o país, de acordo com grupos de direitos humanos locais.
Requesens admite abertamente seu papel de "agitador" da oposição -mas mesmo com a imagem de durão obedeceu uma ordem de sua mãe e ficou em casa depois de sofrer o ferimento na cabeça.
"Por quatro dias, ela não me deixou sair - mas isso foi bom porque eu descansei e me recuperei mais rápido. Depois eu voltei, é claro", disse ele.
Alguns apelidaram o grupo de parlamentares de"a turma de 2007" por suas raízes em um movimento estudantil há uma década que ajudou a oposição em uma rara vitória contra o popular antecessor de Maduro, Hugo Chávez, em um referendo.
"É um grupo nascido na rua durante os protestos de 2007. Estamos nos reunindo novamente 10 anos depois, fazendo o mesmo", disse Juan Mejía, de 31 anos, educado em Harvard.
Mejía, parlamentar pelo Estado de Miranda, que inclui parte da capital Caracas, perdeu um amigo em protesto e outro em um acidente a caminho de uma manifestação.
"Para nós, esta é uma luta existencial", acrescentou, dizendo que sua geração cresceu sob o domínio socialista e está cansada de dificuldades econômicas, crime e repressão política.
Autoridades acusam os parlamentares de pagar jovens e crianças de até 12 anos para atacar forças de segurança, bloquear estradas e destruir propriedades, e ameaçam prendê-los.
As companhias aéreas estatais se recusam a vender bilhetes, e as privadas estão sob pressão para fazer o mesmo, o que significa que não podem voar dentro do país, dizem os parlamentares. Alguns também tiveram passaportes confiscados ou anulados, impossibilitando viagens ao exterior.