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Inundação ameaça diques na Europa; mortes na Alemanha chegam a 126

Grande parte do território holandês está abaixo do nível do mar, protegido por um sistema complexo de diques antigos e barreiras de cimento modernas, que agora está ameaçado pelas chuvas

Alemanha: número de mortos chega a 126 e há centenas de pessoas desaparecidas (Wolfgang Rattay/Reuters)
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Thiago Lavado

Publicado em 17 de julho de 2021 às 08h09.

Última atualização em 19 de julho de 2021 às 12h43.

Milhares de pessoas fugiram ontem de suas casas no sul da Holanda em meio à ameaça de rompimento de um dique por causa da chuva torrencial que afeta a Europa Ocidenta l nos últimos dias e provocou inundações na Alemanha , onde há 126 mortos, Bélgica, Suíça e em Luxemburgo.

Soldados trabalharam freneticamente para reforçar o dique que protege a localidade holandesa de Meerssen das águas do Rio Meuse. Apesar do órgão de segurança regional anunciar que a ameaça estava contida, a ordem de retirada permaneceu em vigor para 10.700 moradores em razão da elevação do rio. "É assustador. Eu nunca vi a água subir tanto", disse Ton Linssen, de 69 anos, morador de Wessen.

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Grande parte do território holandês está abaixo do nível do mar, protegido por um sistema complexo de diques antigos e barreiras de cimento modernas que retêm a água do mar e dos rios. Em Valkenburg, perto da fronteira belga e alemã, as inundações engolfaram o centro da cidade, danificando muitas casas e outras propriedades e destruindo pelo menos uma ponte.

Os níveis das águas no Mosa e no Rur atingiram níveis recordes na quinta-feira, superando aqueles que levaram a grandes enchentes em 1993 e 1995, disseram as autoridades locais. Não houve relatos de vítimas.

Na Alemanha e na Bélgica, à medida que as devastadoras inundações começaram a diminuir ontem, a extensão da destruição foi lentamente revelada: enormes poças de água barrenta onde antes havia casas, carros destruídos ou soterrados por montes de terra e escombros por todas as partes nas ruas que em muitas cidades pareciam rios na quinta-feira.

Foram registrados 20 mortos na Bélgica e 106 na Alemanha. E as autoridades advertiram que há muitos desaparecidos e o número de mortos deve aumentar à medida que a terra e os destroços forem sendo removidos.

A tempestade — provocada por um grande sistema de baixa pressão que se estendeu da Alemanha à França — trouxe um dilúvio na quinta-feira que rapidamente fez com que rios transbordassem. As autoridades temem um saldo de vítimas muito maior por causa das dezenas de desaparecidos, tanto na Renânia-Palatinado como na vizinha Renânia do Norte-Vestfália, as duas regiões mais afetadas pelas piores enchentes na Alemanha desde 1962, quando a subida do nível do Mar do Norte inundou as regiões costeiras e deixou 315 mortos.

"Estimamos que pode haver 40, 50, ou 60 desaparecidos. Quando há pessoas que não dão sinais de vida por muito tempo, teme-se pelo pior", disse o ministro do Interior de Renânia-Palatinado, Roger Lewentz, à emissora de televisão SWR. Inicialmente, reportou-se 1,3 mil desaparecidos. Pelo Twitter, funcionários alemães disseram que várias pessoas desapareceram após um deslizamento de terra em Erftstadt-Blessem perto de Colônia. Segundo eles, as casas ruíram ou foram arrastadas e o resgate será um desafio.

As autoridades comemoraram o fato de as chuvas terem parado e o fluxo dos rios começado a diminuir. Mais de mil operações de resgate estavam em andamento ontem nas áreas mais afetadas. Em alguns lugares, os helicópteros eram o único meio para retirar as pessoas que haviam ficado ilhadas nos tetos ou andares superiores de suas casas.

"Vivemos aqui por mais de 20 anos e nunca vimos algo assim", disse à AFP Hans-Dieter Vrancken, um morador de 65 anos de Schuld, uma cidade do Estado de Renânia-Palatinado que foi muito afetada pelo temporal. As redondezas desta cidade, localizada no Distrito de Arhweiler, mostravam uma imagem de desolação. "É como a guerra", dizia Vrancken.

As ruas de Ahrwiler pareciam terem sido varridas por um tsunami. "Em poucos minutos, a casa foi inundada", disse Cornelia Schlösser, uma padeira que perdeu sua loja centenária em Schuld. "O forno estragou", afirmou a mulher de cabelos grisalhos, após retornar ontem ao local do desastre. A vitrine, que exibia pães, doces e bolos apenas dois dias atrás, foi destruída: pilhas de sucata, vidro, madeira e cimento se amontoaram ao redor da fachada.

Como ela, vários moradores desta cidade de cerca de 700 habitantes caminhavam entre as ruínas do que foi um popular ponto de excursão, perto de Bonn, no verde Vale do Ahr. No entanto, Schuld não contabilizou nenhum morto até agora, um milagre, como comentam seus moradores: a água do rio, que costuma passar de um metro de altura quando há enchentes, chegou a 8 metros.

Na vizinha Bélgica, foram registradas 20 mortes e 20 desaparecidos. Centenas de pessoas continuam ilhadas em suas cassas e 21 mil estão sem energia elétrica. O Exército foi enviado a quatro das dez províncias do país para participar das operações de resgate. "Essas são as inundações mais catastróficas que nosso país já vivenciou", disse o premiê belga Alexander De Croo. As regiões do Estado da Valônia, em especial as províncias de Liége e Limburgo, foram as mais afetadas.

Ativistas ambientais e os políticos rapidamente traçaram paralelos entre as enchentes e os efeitos das mudanças climáticas. Em meio às cenas de destruição na Alemanha, a mudança climática virou o principal tópico de debate em meio à campanha para as eleições legislativas de 26 de setembro - que decidem o sucessor de Angela Merkel como chanceler.

Armin Laschet, o líder do Estado da Renânia do Norte-Vestfália, disse em uma entrevista coletiva ontem: "Precisamos tornar o Estado mais à prova de clima (...) Temos de tornar a Alemanha neutra para o clima ainda mais rápido", disse Laschet, apontado pelas pesquisas de intenção de voto como favorito para as eleições nacionais. (Com agências internacionais)

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