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Holanda, especialista em proteção contra a ameaça da água

Após séculos de luta contra os mares, hoje a Holanda exporta seu conhecimento para todo o mundo, de Nova Orleans à Austrália

O dique de Oosterscheldekering, em Oosterschelde, Holanda (Bas Czerwinski/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 27 de outubro de 2015 às 17h59.

Zelândia - Após séculos de luta contra os mares, hoje a Holanda exporta seu conhecimento para todo o mundo, de Nova Orleans à Austrália, passando pelo delta do Mekong.

Sem seus 17.500 quilômetros de diques, dunas e barreiras, a Holanda seria um pântano gigante, e não a quinta economia da zona do euro .

Atualmente, mais da metade da população vive em terras situadas abaixo do nível do mar ou sob risco de inundação.

Num momento em que as alterações climáticas implicam um aumento do nível do mar e um número crescente de tempestades devastadoras, a proteção das zonas costeiras tornou-se uma necessidade. E aí, a Holanda surge como o peso pesado do setor.

"Devemos isso a nossa história", conta à AFP Melanie Schultz van Haegen, ministra holandesa de Infraestruturas. "Levamos séculos lutando contra o avanço das águas".

Prova dessas habilidades é que as empresas de dragagem holandesas são responsáveis ​​por 40% do volume de negócios global no setor.

"A água não só é um perigo, é também uma oportunidade. É possível construir pontes entre a economia e a ecologia", explica Henk Ovink, representante especial dos Países Baixos para as questões relacionadas à água.

Tendo em conta que 70% do PIB do país é produzido em áreas de risco, o fato de armar-se com tantos dispositivos não é nenhum luxo. O aeroporto de Schiphol, quinto maior da Europa, por exemplo, está sob o nível do mar.

Trauma de 1953 ao furacão Katrina

A relação da Holanda com a água teve uma reviravolta em 1953, quando inundações causaram 1.835 mortes e deixaram 72.000 desabrigados no sudoeste do país. Traumatizados, os holandeses trabalharam duro para melhorar suas defesas.

"O nível de proteção que a Holanda se impõe atualmente é de entre 100 e 1.000 vezes maior do que muitos outros países se impõem", observou Bart Schultz, pesquisador do Instituto da Unesco para a Educação sobre a Água, com sede em Delft.

E é que os holandeses vão além da simples construção de diques. Um exemplo é o Oosterscheldekering, um dispositivo temporário contra 9 km de comprimento e equipado com 64 portões de metal, capaz de fechar a embocadura de um estuário em caso de perigo.

De acordo com uma projeção do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), o nível do mar subiu 19 centímetros entre 1901 e 2010. Entre agora e 2100, espera-se um aumento entre 26 e 82 centímetros a partir do final do século XX.

Nesse sentido, os deltas, que geralmente são áreas ricas a nível económico e ambiental, onde vivem 10% da população mundial, de acordo com o instituto Aliança Delta, estão na linha de frente.

Cerca de 2.500 empresas holandesas operam no setor da água e somam um faturamento anual de 17.000 milhões de euros, segundo Lennart Silvis, diretor da Associação Holandesa de Água Empresas de dragagem, institutos de pesquisa e assessorias trabalham assim sobre o acesso à água ou saneamento.

Após o devastador furacão Katrina em 2005 no estado norte-americano de Louisiana, a Holanda participou da reconstrução de diques e barreiras da cidade de Nova Orleans.

Soluções a longo prazo

"Após uma catástrofe, geralmente há interesse na questão, mas nós defendemos um trabalho preventivo (...) e advogamos por programas que protejam no longo prazo", observa a ministra Melanie Schultz van Haegen.

No sudeste da Ásia, onde costumam haver inundações com muitas mortes, a Holanda participa de planos de desenvolvimento de longo prazo, especialmente em Jacarta e no Delta do Mekong.

Lennart Silvis salienta que nesse tipo de trabalho "leva-se em conta a proteção contra a água. Mas existem outros aspectos de planejamento urbano como purificação e acesso à água potável, ou infra-estruturas viárias".

O know-how holandês nesta área não se limita apenas na proteção contra inundações. Empresas do país têm trabalhado na recuperação das zonas úmidas no Quênia e em Uganda, e na construção de plataformas flutuantes nas Filipinas.

Os holandeses também estão investigando o uso da água do mar na agricultura, ou a produção de energia graças à mistura de água salgada e água doce.

No programa também há espaço para excentricidades como as ilhas em forma de palmeiras de Dubai, projeto da empresa holandesa de dragagem Van Oord.

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Sem seus 17.500 quilômetros de diques, dunas e barreiras, a Holanda seria um pântano gigante, e não a quinta economia da zona do euro .

Atualmente, mais da metade da população vive em terras situadas abaixo do nível do mar ou sob risco de inundação.

Num momento em que as alterações climáticas implicam um aumento do nível do mar e um número crescente de tempestades devastadoras, a proteção das zonas costeiras tornou-se uma necessidade. E aí, a Holanda surge como o peso pesado do setor.

"Devemos isso a nossa história", conta à AFP Melanie Schultz van Haegen, ministra holandesa de Infraestruturas. "Levamos séculos lutando contra o avanço das águas".

Prova dessas habilidades é que as empresas de dragagem holandesas são responsáveis ​​por 40% do volume de negócios global no setor.

"A água não só é um perigo, é também uma oportunidade. É possível construir pontes entre a economia e a ecologia", explica Henk Ovink, representante especial dos Países Baixos para as questões relacionadas à água.

Tendo em conta que 70% do PIB do país é produzido em áreas de risco, o fato de armar-se com tantos dispositivos não é nenhum luxo. O aeroporto de Schiphol, quinto maior da Europa, por exemplo, está sob o nível do mar.

Trauma de 1953 ao furacão Katrina

A relação da Holanda com a água teve uma reviravolta em 1953, quando inundações causaram 1.835 mortes e deixaram 72.000 desabrigados no sudoeste do país. Traumatizados, os holandeses trabalharam duro para melhorar suas defesas.

"O nível de proteção que a Holanda se impõe atualmente é de entre 100 e 1.000 vezes maior do que muitos outros países se impõem", observou Bart Schultz, pesquisador do Instituto da Unesco para a Educação sobre a Água, com sede em Delft.

E é que os holandeses vão além da simples construção de diques. Um exemplo é o Oosterscheldekering, um dispositivo temporário contra 9 km de comprimento e equipado com 64 portões de metal, capaz de fechar a embocadura de um estuário em caso de perigo.

De acordo com uma projeção do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), o nível do mar subiu 19 centímetros entre 1901 e 2010. Entre agora e 2100, espera-se um aumento entre 26 e 82 centímetros a partir do final do século XX.

Nesse sentido, os deltas, que geralmente são áreas ricas a nível económico e ambiental, onde vivem 10% da população mundial, de acordo com o instituto Aliança Delta, estão na linha de frente.

Cerca de 2.500 empresas holandesas operam no setor da água e somam um faturamento anual de 17.000 milhões de euros, segundo Lennart Silvis, diretor da Associação Holandesa de Água Empresas de dragagem, institutos de pesquisa e assessorias trabalham assim sobre o acesso à água ou saneamento.

Após o devastador furacão Katrina em 2005 no estado norte-americano de Louisiana, a Holanda participou da reconstrução de diques e barreiras da cidade de Nova Orleans.

Soluções a longo prazo

"Após uma catástrofe, geralmente há interesse na questão, mas nós defendemos um trabalho preventivo (...) e advogamos por programas que protejam no longo prazo", observa a ministra Melanie Schultz van Haegen.

No sudeste da Ásia, onde costumam haver inundações com muitas mortes, a Holanda participa de planos de desenvolvimento de longo prazo, especialmente em Jacarta e no Delta do Mekong.

Lennart Silvis salienta que nesse tipo de trabalho "leva-se em conta a proteção contra a água. Mas existem outros aspectos de planejamento urbano como purificação e acesso à água potável, ou infra-estruturas viárias".

O know-how holandês nesta área não se limita apenas na proteção contra inundações. Empresas do país têm trabalhado na recuperação das zonas úmidas no Quênia e em Uganda, e na construção de plataformas flutuantes nas Filipinas.

Os holandeses também estão investigando o uso da água do mar na agricultura, ou a produção de energia graças à mistura de água salgada e água doce.

No programa também há espaço para excentricidades como as ilhas em forma de palmeiras de Dubai, projeto da empresa holandesa de dragagem Van Oord.

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