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Guerra na Ucrânia: mais de 1.200 pessoas são detidas em protesto na Rússia

A Rússia iniciou, na madrugada desta quinta-feira, 24, uma invasão da Ucrânia, com ataques aéreos em todo o país, incluindo a capital Kiev

Protesto em São Petersburgo. (Anton Vaganov/Reuters)
Drc

Da redação, com agências

Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 15h50.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2022 às 17h22.

A polícia russa deteve nesta quinta-feira (24) em várias cidades cerca de 1.400 pessoas por participarem de manifestações contra a guerra na Ucrânia, segundo a ONG de direitos humanos OVD-info.

A organização afirma que pelo menos 1.391 pessoas foram detidas em 51 cidades, 719 delas em Moscou, onde a AFP testemunhou dezenas de detenções na praça Puskhin, no centro da capital russa.

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A Rússia possui uma legislação severa para o controle das manifestações, que costumam culminar com muitas detenções.

As autoridades russas ameaçaram nesta quinta-feira reprimir qualquer manifestação "não autorizada" relacionada à "situação tensa sobre política externa".

Vários ativistas pediram à população nas redes sociais para desafiar essa ordem e tomar as ruas, depois que o presidente russo Vladimir Putin lançou sua ofensiva contra a Ucrânia na madrugada de hoje.

Cerca de 2.000 pessoas se reuniram na praça central Pushkin em Moscou e cerca de 1.000 na antiga capital imperial São Petersburgo, segundo correspondentes da AFP.

Os manifestantes na praça Pushkin gritavam: "Não à guerra!".

"Estou em choque. Meus familiares vivem na Ucrânia", contou Anastasia Nestulya, em Moscou.

"O que posso dizer a eles por telefone? Se vão ficar lá?", acrescentou esta mulher russa de 23 anos que, como muitos, afirma ter medo de protestar.

As mesmas reações foram ouvidas em São Petersburgo.

"Tenho a sensação de que as autoridades ficaram loucas", afirmou Svetlana Volkova, de 27 anos, que considera que poucas pessoas estão dispostas a se manifestarem na Rússia.

"Foram enganados pela propaganda".

Um jovem gritava enquanto era detido: "Contra quem vocês lutam? Prendam Putin".

O opositor Alexei Navalny, preso desde janeiro de 2021, disse no tribunal, durante um novo julgamento que começou na semana passada, que rejeita a invasão.

A invasão da Ucrânia pela Rússia não foi bem recebida por todos os cidadãos russos. Diversos protestos contra a ofensiva foram convocados nas redes sociais, mas a resposta veio logo, com autoridades ameaçando reprimir quaisquer manifestações 'não autorizadas'. Durante audiência judicial, o opositor Alexei Navalny também se posicionou contra a invasão do país vizinho.

"Esta guerra entre a Rússia e a Ucrânia está sendo travada para encobrir o roubo de cidadãos russos e desviar a atenção dos problemas que existem dentro do país, da deterioração da economia", disse ele, segundo um vídeo publicado pelo canal opositor Dojd.

Protestos na Europa

Grupos de manifestantes gritando palavras de ordem contra a guerra tomaram nesta quinta-feira, 24, as ruas de diversas capitais europeias, como Berlim, Paris, Varsóvia e Haia, em protesto contra a invasão russa da Ucrânia.

"Parem esta loucura, salvem vidas, sem mais mentiras", diz o cartaz de um manifestante em frente à embaixada russa em Berlim. Muitos dos presentes no protesto levam as cores da bandeira ucraniana, o azul e o amarelo. Alguns deles são russos que vivem na Alemanha.

"Todo o mundo deveria vir hoje aqui e apoiar a Ucrânia. Dizer que a guerra deve terminar", disse à AFP Olga Kupricina, de 32 anos, originária de Kaliningrado, mas que vive na Alemanha desde outubro.

"Ucranianos e russos são irmãos e irmãs. Todos os meus amigos estão comovidos e não querem uma guerra. Queremos mostrar que somos contra a guerra. Somos russos e viemos da Rússia. A Ucrânia sempre foi um país muito amistoso conosco e um país próximo", comenta Ekaterina Studnitzky, de 40 anos, que vive na Alemanha desde os 16.

Em outra manifestação, aos pés do emblemático Portão de Brandemburgo, a estudante ucraniana Sofia Avdeeva faz acusações contra Vladimir Putin: "Ele roubou minha casa porque sou de Donetsk e minha família e eu tivemos de sair por causa da guerra."

https://twitter.com/joeyayoub/status/1496914390498562057

"Não quero que toda a Ucrânia tenha o mesmo destino. Já disse adeus à minha casa, mas não quero que todo o país viva o inferno que vivemos", frisou Avdeeva.

Em Paris, centenas de pessoas também se reuniram em frente à embaixada russa, entre eles vários candidatos na eleição presidencial francesa de abril. Outra grande mobilização estava prevista para o fim do dia na Praça da República, no coração da capital francesa.

Já na Polônia, país vizinho à Ucrânia, um manifestante queimou uma bandeira da Rússia em frente à embaixada do país em Varsóvia.

Anteriormente, também ocorreram manifestações em Beirute, no Líbano, e em Tóquio, no Japão.

Além disso, em Dublin, na Irlanda, e nas cidades holandesas de Haia e Amsterdã, centenas de pessoas participaram de protestos em frente às representações diplomáticas russas nesta quinta-feira.

Já na própria Rússia, as autoridades advertiram que reprimiriam qualquer manifestação "não autorizada" contra a guerra na Ucrânia.

Protesto pró-Ucrânia em Paris, França (Sarah Meyssonnier/Reuters)

Repercussão internacional

O ataque russo, após meses de tensão e esforços diplomáticos para evitar uma guerra, provocou uma torrente de condenação internacional.

"Presidente Putin, em nome da humanidade, leve suas tropas de volta à Rússia!", pediu o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, visivelmente exausto, durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, denunciou um "ataque injustificado". "O presidente Putin escolheu uma guerra premeditada que trará perdas catastróficas de vidas e sofrimento humano", afirmou em um comunicado.

"Apenas a Rússia é responsável pela morte e a destruição que este ataque provocará", insistiu, depois de destacar que "o mundo fará com que a Rússia preste contas".

Ele também conversou com o presidente ucraniano, prometendo seu apoio.

Além disso, Bidenconvocou uma reunião do Conselho de Segurança Nacional para a manhã desta quinta-feira para discutir os últimos desdobramentos na Ucrânia, disse uma autoridade da Casa Branca em meio á invasão em escala total da Ucrânia pela Rússia.

O presidente francês, Emmanuel Macron, atual presidente do Conselho da União Europeia, pediu aos europeus "unidade" e convocou um conselho de segurança no Palácio do Eliseu.

"Os líderes russos enfrentarão um isolamento sem precedentes", alertou Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE.

Os 27 países da UE, que se reúnem em uma cúpula excepcional nesta quinta-feira à noite em Bruxelas, preparam um novo conjunto de sanções que serão "as mais severas já implementadas", acrescentou.

O presidente da Lituânia declarou estado de emergência nesta quinta-feira, dizendo ao Exército do país, que é membro da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte ( Otan ), para se deslocar ao longo de suas fronteiras em resposta a "possíveis distúrbios e provocações devido a grandes forças militares concentradas na Rússia e em Belarus".

O estado de emergência, declarado horas depois que as forças russas invadiram a Ucrânia, será válido por duas semanas. O Parlamento se reunirá ainda nesta quinta-feira para votar se confirma ou cancela a decisão do presidente Gitanas Nauseda.

Governada por Moscou no passado, mas agora parte da Otan e da União Europeia, a Lituânia faz fronteira com Belarus e com o enclave russo de Kaliningrado. (Com AFP e Agência Brasil)

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