O chanceler alemão, Olaf Scholz, gesticula após discursar no Bundestag (Câmara Baixa do Parlamento) em Berlim, em 16 de dezembro de 2024 (Tobias SCHWARZ/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 16 de dezembro de 2024 às 11h31.
Última atualização em 16 de dezembro de 2024 às 13h03.
O primeiro-ministro da Alemanha, o social-democrata Olaf Scholz, perdeu um voto de confiança no Parlamento nesta segunda-feira, 16. O resultado já era esperado e abrirá caminho para a convocação de eleições antecipadas em 23 de fevereiro.
Scholz teve 207 votos a seu favor, 394 contra e 116 abstenções. Ele convocou um voto de confiança no Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento, onde perdeu maioria, após a implosão da aliança entre social-democratas (SPD), ecologistas e liberais (FDP) que governava o país desde 2021.
Com o resultado da votação, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, terá três semanas para dissolver a Câmara e convocar novas eleições. Um acordo entre os partidos prevê que a votação será feita em 23 de fevereiro.
O premiê alemão queria perder o voto de confiança para poder antecipar as eleições e, assim, retomar ao poder com mais força em seguida, caso consiga boa votação. Ele fica no cargo até a eleição, mas com poderes limitados.
A maior economia europeia enfrenta uma grave crise política, assim como sua vizinha França - e principal aliada na União Europeia -, cujo governo também enfrenta um cenário instável.
O governo da Alemanha atualmente é formado por uma coalizão, apelidada de semáforo, que une o SPD (Partido Social Democrata), conhecido pela cor vermelha, o FDP (Democratas Livres), amarelo, e o Partido Verde.
Esta coalizão sofreu um colapso em 6 de novembro, após a demissão de Christian Lindner como ministro das Finanças. A saída do governo do político do partido liberal do FDP por divergências sobre o orçamento deixou Scholz em minoria no Bundestag, o que paralisou qualquer iniciativa legislativa.
A crise foi o resultado de meses de disputas entre os três partidos do governo sobre a política econômica, questões como migração e confrontos pessoais. As divergências sobre o plano orçamentário para 2025, que deveria ser concluído em novembro, acabaram derrubando a aliança.
A crise política na Alemanha se soma à freada na economia. O país deve fechar 2024 com o segundo ano consecutivo de queda no PIB: houve encolhimento de 0,3% em 2023 e o governo prevê queda de 0,2% neste ano.
Ao mesmo tempo, a Alemanha enfrenta inflação alta, que somou 5,9% em 2023 e deve atingir 2,2% no final de 2024.
"A Grécia vai crescer mais do que a Alemanha. Se alguém dissesse isso cinco anos atrás, seria um disparate", diz Daniel Celano, country head da Schroders, gestora de investimentos sediada em Londres.
Celano destaca dois problemas alemães: o avanço da China em produtos industriais cada vez mais complexos, como os carros, e a alta do preço de energia após a Guerra da Ucrânia. "O custo de energia está muito alto. É três ou quatro vezes maior do que nos Estados Unidos", compara.
No começo de dezembro, funcionários da Volkswagen entraram em greve contra um corte de 10% nos salários e o risco de fechamento de fábricas, em análise pela empresa, que enfrenta queda nas vendas.
Neste cenário, o partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha) tem ganhado espaço. Um agregador de pesquisas do Financial Times aponta que a legenda está em segundo lugar, com 18,1% das intenções de voto, quase o dobro do que teve nas últimas eleições, em 2021 (10,3% dos votos).
O bloco CDU/CSU (Democratas Cristãos), da ex-chanceler Ângela Merkel, lidera as pesquisas, com 32,4%. O SPD, vermelho, do atual chanceler Olaf Scholz, tem 15,8% de preferência.
Com AFP.