Negociações de paz: Petro inicia diálogo com a dissidência das Farc para desescalar o conflito armado (Agence France-Presse/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 22 de junho de 2024 às 14h10.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, dará um novo passo para tentar cumprir sua promessa de paz total: delegados do governo começarão a negociar na segunda-feira (24) em Caracas com representantes da dissidência das Farc conhecida como 'Segunda Marquetalia'.
Os diálogos com o grupo liderado por Iván Márquez, ex-número dois da guerrilha extinta e um dos maiores líderes ideológicos da organização rebelde, são a terceira aposta de paz do presidente de esquerda. Petro considera que a solução para o conflito armado de seis décadas na Colômbia está nos acordos.
Colômbia anuncia suspensão de venda de carvão para IsraelEm 2022, o governo Petro iniciou negociações com o Exército de Libertação Nacional (ELN) em Caracas, Cidade do México e Havana. Além disso, estabeleceu uma mesa de diálogo com o Estado Maior Central (EMC), outra facção de desertores do acordo de paz com as Farc, assinado em 2016.
Não foram divulgados detalhes da agenda da reunião em Caracas com a 'Segunda Marquetalia', apenas um documento assinado em 5 de junho na capital venezuelana que destaca a necessidade de "promover mudanças e reformas democráticas para a paz em que as populações e territórios sejam a prioridade, fortalecendo a mobilização social", segundo o governo.
O documento cita a criação de comissões de negociação para obter uma "desescalada do conflito, a construção de territórios de paz", assim como o atendimento das vítimas.
Segundo Francisco Javier Daza, pesquisador da Fundação Paz e Reconciliação (PARES), "Não se identifica que o pseudônimo Iván Márquez ou a Segunda Marquetalia estejam buscando uma via para a política". Esta instância "busca uma desescalada da violência nos territórios em que opera."
Antes do início do diálogo, o comandante das Forças Militares da Colômbia, general Helder Giraldo, antecipou "aproximações" para alcançar um cessar-fogo bilateral. Em 1º de janeiro de 2023, Petro, um ex-guerrilheiro da extinta M-19, anunciou uma trégua por parte das forças do Estado que durou seis meses.
O documento de Caracas tem a assinatura de Iván Márquez, que era o segundo homem mais importante das Farc quando esta guerrilha assinou a paz para virar um partido político. Luciano Marín, seu nome verdadeiro, foi o principal negociador dos rebeldes e permaneceu no processo por alguns anos após a assinatura, mas desertou e em 2019 reapareceu em um vídeo no qual anunciou uma nova revolução armada.
Em 2023, a imprensa local especulou sobre sua morte na Venezuela após um atentado. O governo Petro anunciou que ele estava no país se recuperando dos ferimentos. No dia 11 de maio, Márquez reapareceu em um vídeo e expressou apoio a Petro, com quem acertou em fevereiro o início das negociações.
Daza destaca que Márquez é "um dos poucos chefes da velha guarda que restam, com fortes bases ideológicas", o que pode contribuir para que a negociação seja mais rápida e eficaz do que as abertas com o ELN e o EMC.
A 'Segunda Marquetalia' tem quase 1.660 combatentes, segundo cálculos da inteligência militar. Analistas consideram que é uma guerrilha frágil em comparação com as dissidências do Estado Maior Central e com o Exército de Libertação Nacional.
A estratégia de Petro é alvo de críticas. "É interpretado como um sinal de que o governo está sendo permissivo com os grupos armados ou com os desertores da paz", afirmou Daza.
Entre os céticos está o senador Humberto de la Calle, principal negociador do governo do ex-presidente Juan Manuel Santos no acordo de 2016. Durante a semana, ele destacou a possibilidade de Márquez voltar a não cumprir sua palavra, como aconteceu após a assinatura do acordo de paz com as Farc.