“Go Kane”: Piadinha gera crise diplomática entre Reino Unido e Colômbia
Em capa, jornal inglês brincou com um problema sério da Colômbia: o narcotráfico. Inglaterra joga contra a Colômbia na Copa do Mundo
Gabriela Ruic
Publicado em 3 de julho de 2018 às 11h33.
Última atualização em 3 de julho de 2018 às 12h05.
São Paulo – Mais um jogo decisivo da Copa do Mundo da Rússia acontece nesta terça-feira, Inglaterra e Colômbia, e que vem acompanhado de uma crise diplomática depois que um tabloide britânico fez uma brincadeira com um dos problemas mais sérios do país latino-americano: a luta contra o narcotráfico.
Conhecido por suas manchetes sensacionalistas, o tabloide britânico “The Sun” causou polêmica com a capa da sua edição desta terça-feira, que dizia: “Enquanto os 3 leões enfrentam a nação que nos deu Shakira, café e outras coisas, nós dizemos: GO KANE”. A pronúncia da frase que exalta o craque da seleção inglesa, Harry Kane, é semelhante à pronúncia da droga "cocaína" em inglês. Veja a capa abaixo:
O que era para ser uma piada, no entanto, virou uma crise diplomática. Em Londres, capital da Inglaterra, o embaixador da Colômbia no país, Néstor Osório Londoño, em declarações publicadas pelo jornal The Guardian, lamentou a associação feita pelo The Sun com a substância.
“É triste que usem um ambiente festivo e amigável como a Copa do Mundo para atacar um país e estigmatizá-lo”, disse o diplomata, que organiza um evento em um pub inglês para fãs da Colômbia. “Respeito, fair play e alegria pelo jogo é o que importa hoje”, continuou.
Na Colômbia, a atitude do The Sun também foi criticada. O jornal El Espectador, um dos maiores do país, chamou a capa de ofensiva e lembrou que a resposta virá no campo.
A publicação latina é historicamente conhecida por suas reportagens contra o narcotráfico, o que a tornou alvo de ataques por parte dos carteis. Em 17 de dezembro de 1986, Guillermo Cano, diretor do periódico, foi morto em um crime na época associado ao traficante Pablo Escobar.
O narcotráfico na Colômbia
O país é um dos maiores produtores de cocaína no mundo, um problema com o qual luta há décadas e que foi, inclusive, um tema amplamente debatido no âmbito das eleições presidenciais que aconteceram no país a poucas semanas.
Um dos principais pilares do acordo de paz firmado entre o governo do ex-presidente, Juan Manuel Santos, e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), era a previsão de incentivos para que produtores de coca, principal matéria prima da cocaína, pudessem substituir esse plantio. Com isso, esperavam que os níveis de plantação diminuíssem, dificultando a ação de narcotraficantes.
Agora, no entanto, o acordo com os guerrilheiros enfrenta um momento de incerteza após a eleição do conservador Ivan Duque para a presidência. Discípulo do ex-presidente, Álvaro Uribe, Duque sempre criticou as negociações e disse que uma de suas missões será a de rever os termos das tratativas.
A Colômbia tem pressa para resolver o problema, que não dá sinais de desaceleração. No ano passado, um estudo da UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime) revelou que, apesar dos esforços do governo, o país está produzindo cada vez mais cocaína. Em 2016, 866 toneladas saíram de laboratórios clandestinos no interior da Colômbia. Em 2015, essa quantidade era de 649 toneladas.