Farc avançam em "última marcha" rumo a zonas de desarmamento
A concentração das tropas da maior e mais antiga guerrilha do país estava prevista para 31 de dezembro, como estipulava o acordo de paz
AFP
Publicado em 31 de janeiro de 2017 às 17h02.
As Farc avançam nesta terça-feira em sua "última marcha", como o governo da Colômbia classificou a transferência dos guerrilheiros às zonas onde em até seis meses deverão deixar as armas após mais de meio século de conflito armado.
"No dia de hoje (terça-feira) terão entrado 4.329 homens das Farc nas zonas e esperamos que entre hoje e amanhã (quarta-feira) seja concluída a transferência de 2.000 homens restantes", disse em coletiva de imprensa o Alto Comissário para a Paz, Sergio Jaramillo.
Ele esclareceu que 6.300 guerrilheiros e não 5.800, como o grupo insurgente havia estimado antes, são esperados nas 26 zonas em todo o país, onde, sob a supervisão da ONU, deverão se desarmar e se preparar para a reinserção na vida civil.
Em botes e canoas que navegam por rios que conectam remotos portos da Colômbia, assim como a pé ou em caminhões que transitam por regiões inóspitas, os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas) carregam seus pertences, em muitos casos, acompanhados de animais de estimação.
A concentração das tropas da maior e mais antiga guerrilha do país estava prevista para 31 de dezembro, como estipulava o acordo de paz assinado em novembro, mas esta data foi adiada até esta terça-feira por problemas logísticos.
O presidente Juan Manuel Santos, ganhador do Nobel da Paz por impulsionar o acordo de paz, reconheceu o desafio que representa a adequação dos lugares, devido à dificuldade de acesso pela distância e falta de infraestrutura.
Inclusive, o chefe das Farc, Rodrigo Londoño ("Timochenko"), propôs na semana passada remarcar novamente a data de chegada das Farc aos 26 pontos porque em ao menos três deles ainda não havia nada de infraestrutura e outros três careciam de instalações elétricas ou de água.
Um passo "extraordinário"
As mobilizações, realizadas com acompanhamento da ONU e do escritório do Alto Comissariado para a Paz, começaram no sábado e se espera que terminem nos próximos dias.
"Não tivemos um único incidente grave, não tivemos um único caso de membros das Farc que digam: 'Nós não vamos nos mover'", assegurou Jaramillo, ao comemorar este avanço como um passo extraordinário na implementação da paz.
O funcionário, plenipotenciário nas negociações de paz realizadas durante quatro anos em Cuba, reiterou que por enquanto não está contemplada a chegada às zonas de concentração de milicianos das Farc que, segundo estimativas oficiais, seriam entre um e três por combatente.
Também detalhou que os guerrilheiros presos que estão recebendo anistias e indultos por estes dias também poderão ir às zonas de desarmamento, se for de sua vontade, para se beneficiar dos projetos previstos.
Disse também que os que não receberem anistias serão posicionados em "zonas especiais", dentro dos pontos de concentração, enquanto seus casos se definirem na justiça especial, acordada no pacto de paz.
Soldado nas mãos do ELN
Após o fim do conflito com as Farc, o governo confia agora em conseguir a "paz completa" com um pacto com o Exército de Libertação Nacional (ELN, guevarista), que se insurgiu contra o Estado em 1964 e é hoje a última guerrilha ativa no país.
Para tanto, as duas partes se preparam a lançar negociações formais em 7 de fevereiro, em Quito, depois de mais de três anos de conversações confidenciais.
Antes, acordaram que nesta quinta-feira, 2 de fevereiro, o ELN porá em liberdade o ex-congressista Odín Sánchez, a quem mantém como refém desde abril passado, e simultaneamente, o governo vai indultar dois combatentes, após nomear facilitadores de paz outros dois guerrilheiros presos.
No entanto, o ELN anunciou nesta terça-feira que tem em seu poder um soldado que o Exército reportou como desaparecido dias atrás por estar "desenvolvendo trabalhos de espionagem" no departamento (estado) de Arauca (leste), na fronteira com a Venezuela, informou em um comunicado.
O governo ainda não se pronunciou sobre o tema. Mas no sábado, após uma visita a Arauca, o chefe negociador do governo com o grupo rebelde, Juan Camilo Restrepo, reportou em sua conta no Twitter que "a imensa maioria da martirizada comunidade araucana quer paz e deseja uma negociação com o ELN".
A Colômbia soma 260 mil mortos em meio século de uma guerra civil que confrontou guerrilhas, paramilitares e agentes da força pública.