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Exigência de Estado judaico é inaceitável a palestinos

Controvérsia surge do choque entre duas versões contrárias da História: a "Guerra de Independência de Israel", em 1948, e a "Nakba" (catástrofe) dos palestinos

Primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu: dirigentes palestinos se opõem ao que consideram uma rendição no que é mais sagrado para eles, a recordação da "Nakba" (POOL/AFP/Arquivos)
DR

Da Redação

Publicado em 20 de janeiro de 2014 às 17h27.

Os palestinos rejeitam a reivindicação do primeiro-ministro israelense para que reconheçam Israel como um "Estado judaico", afirmando que, longe de eliminar as causas do conflito, essa postura impossibilita a paz.

Esta controvérsia surge do choque entre duas versões contrárias da História: a "Guerra de Independência de Israel", em 1948, e a "Nakba" (catástrofe) dos 760.000 palestinos obrigados a se exilar.

Netanyahu lamentou que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) tenha decidido adiar uma exposição prevista para começar no dia 21 de janeiro, em Paris, sobre "a relação de 3.500 anos do povo judeu com a Terra Santa", em parceria com a Unesco e o Centro Simon Wiesenthal.

"A explicação dada foi que isso prejudicaria as negociações. Isso não prejudicaria as negociações. As conversas estão baseadas em fatos, na verdade, que jamais prejudica", afirmou domingo o chefe de governo israelense no Conselho de Ministros.

A Unesco anunciou na sexta-feira o adiamento por prazo indeterminado da inauguração, devido a uma carta de 22 integrantes de grupos árabes manifestando sua "preocupação com o possível impacto negativo da exposição sobre o processo de paz e as negociações em andamento no Oriente Médio", referindo-se ao pedido de reconhecimento de Israel como "Estado do povo judaico".

Netanyahu a tornou uma cláusula fundamental de qualquer acordo de paz, alegando que, desde 1948, a raiz do conflito é a negação do direito dos judeus de ocuparem a terra que reivindicam como sua.

Os dirigentes palestinos se opõem ao que consideram uma rendição no que é mais sagrado para eles, a recordação da "Nakba", ressaltando que eles reconheceram Israel em 1993 e que a finalidade de um acordo de paz é "por fim à ocupação que começou em 1967".

"Nós afirmamos nossa rejeição categórica à exigência de reconhecimento de Israel como um Estado judaico", declarou na sexta o presidente da Autoridade Palestina , Mahmud Abbas, em um discurso pronunciado no Marrocos diante do Comitê Al-Qods, que reúne 15 países muçulmanos.

"Por outro lado, nós não aceitaremos ataque algum aos direitos dos refugiados garantidos pela legalidade das resoluções internacionais, nem aos direitos dos cidadãos palestinos de Israel", acrescentou para justificar essa rejeição.

"Nós rejeitamos as tentativas de anular nosso relato histórico e de apagar nossa memória coletiva, assim como de falsificar a história pisoteando os fatos estabelecidos", insistiu o presidente palestino, que é um refugiado da "Nakba".


"Trastorno obsessivo compulsivo"

No dia 29 de novembro, o negociador palestino Saeb Erakat manifestou o desejo de que "Netanyahu encontre forças para pedir desculpas ao povo palestino pela destruição de 418 aldeias em 1948".

Nabil Shaath, um dirigente do Fatah, movimento de Mahmud Abbas, lamentou na semana passada que Israel tenha conseguido impor sua "ordem do dia" ao secretário de Estado americano, John Kerry.

"Trata-se de um problema de narrativa (histórica) que ocupa a maior parte do tempo de Kerry", que retomou as negociações de paz no final de julho passado, destacou Shaath.

"Do ponto de vista israelense, reconhecer Israel como um Estado judaico equivale a impedir o direito ao retorno ou uma solução para o problema dos refugiados baseada na resolução 194" da Assembleia Geral da ONU, explicou, denunciando "uma exigência totalmente nova".

"Existe algum dirigente palestino em sua sã consciência que possa aceitar isso? Ou o objetivo é unicamente tornar impossível a assinatura de um acordo de paz com Israel?", afirmou esse palestino envolvido nas negociações.

Gideon Levy, um analista de esquerda do jornal israelense Haaretz, diagnosticou "sintomas clássicos de trastorno obsessivo compulsivo (TOC) nos incessantes pedidos de Israel de ser reconhecido pelos palestinos como 'o Estado judaico'".

"Ninguém sabe definir exatamente o que é um 'Estado judaico', nem em que consiste seu 'caráter judaico'", destacou, "mas faz todo o possível para alcançar um objetivo cumprido há muito tempo".

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Os palestinos rejeitam a reivindicação do primeiro-ministro israelense para que reconheçam Israel como um "Estado judaico", afirmando que, longe de eliminar as causas do conflito, essa postura impossibilita a paz.

Esta controvérsia surge do choque entre duas versões contrárias da História: a "Guerra de Independência de Israel", em 1948, e a "Nakba" (catástrofe) dos 760.000 palestinos obrigados a se exilar.

Netanyahu lamentou que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) tenha decidido adiar uma exposição prevista para começar no dia 21 de janeiro, em Paris, sobre "a relação de 3.500 anos do povo judeu com a Terra Santa", em parceria com a Unesco e o Centro Simon Wiesenthal.

"A explicação dada foi que isso prejudicaria as negociações. Isso não prejudicaria as negociações. As conversas estão baseadas em fatos, na verdade, que jamais prejudica", afirmou domingo o chefe de governo israelense no Conselho de Ministros.

A Unesco anunciou na sexta-feira o adiamento por prazo indeterminado da inauguração, devido a uma carta de 22 integrantes de grupos árabes manifestando sua "preocupação com o possível impacto negativo da exposição sobre o processo de paz e as negociações em andamento no Oriente Médio", referindo-se ao pedido de reconhecimento de Israel como "Estado do povo judaico".

Netanyahu a tornou uma cláusula fundamental de qualquer acordo de paz, alegando que, desde 1948, a raiz do conflito é a negação do direito dos judeus de ocuparem a terra que reivindicam como sua.

Os dirigentes palestinos se opõem ao que consideram uma rendição no que é mais sagrado para eles, a recordação da "Nakba", ressaltando que eles reconheceram Israel em 1993 e que a finalidade de um acordo de paz é "por fim à ocupação que começou em 1967".

"Nós afirmamos nossa rejeição categórica à exigência de reconhecimento de Israel como um Estado judaico", declarou na sexta o presidente da Autoridade Palestina , Mahmud Abbas, em um discurso pronunciado no Marrocos diante do Comitê Al-Qods, que reúne 15 países muçulmanos.

"Por outro lado, nós não aceitaremos ataque algum aos direitos dos refugiados garantidos pela legalidade das resoluções internacionais, nem aos direitos dos cidadãos palestinos de Israel", acrescentou para justificar essa rejeição.

"Nós rejeitamos as tentativas de anular nosso relato histórico e de apagar nossa memória coletiva, assim como de falsificar a história pisoteando os fatos estabelecidos", insistiu o presidente palestino, que é um refugiado da "Nakba".


"Trastorno obsessivo compulsivo"

No dia 29 de novembro, o negociador palestino Saeb Erakat manifestou o desejo de que "Netanyahu encontre forças para pedir desculpas ao povo palestino pela destruição de 418 aldeias em 1948".

Nabil Shaath, um dirigente do Fatah, movimento de Mahmud Abbas, lamentou na semana passada que Israel tenha conseguido impor sua "ordem do dia" ao secretário de Estado americano, John Kerry.

"Trata-se de um problema de narrativa (histórica) que ocupa a maior parte do tempo de Kerry", que retomou as negociações de paz no final de julho passado, destacou Shaath.

"Do ponto de vista israelense, reconhecer Israel como um Estado judaico equivale a impedir o direito ao retorno ou uma solução para o problema dos refugiados baseada na resolução 194" da Assembleia Geral da ONU, explicou, denunciando "uma exigência totalmente nova".

"Existe algum dirigente palestino em sua sã consciência que possa aceitar isso? Ou o objetivo é unicamente tornar impossível a assinatura de um acordo de paz com Israel?", afirmou esse palestino envolvido nas negociações.

Gideon Levy, um analista de esquerda do jornal israelense Haaretz, diagnosticou "sintomas clássicos de trastorno obsessivo compulsivo (TOC) nos incessantes pedidos de Israel de ser reconhecido pelos palestinos como 'o Estado judaico'".

"Ninguém sabe definir exatamente o que é um 'Estado judaico', nem em que consiste seu 'caráter judaico'", destacou, "mas faz todo o possível para alcançar um objetivo cumprido há muito tempo".

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