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Ex-ditador filipino pode ser enterrado como herói da nação

Ferdinand Marcos é considerado o segundo governante mais corrupto de todos os tempos pela organização Transparência Internacional

Ferdinand Marcos: Duterte sempre afirmou que Ferdinand Marcos foi o melhor presidente da história das Filipinas (Wikimedia Commons)

Ferdinand Marcos: Duterte sempre afirmou que Ferdinand Marcos foi o melhor presidente da história das Filipinas (Wikimedia Commons)

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AFP

Publicado em 8 de novembro de 2016 às 10h47.

O ex-ditador filipino Ferdinand Marcos pode ser enterrado no cemitério reservado aos heróis da nação, anunciou nesta terça-feira a Suprema Corte das Filipinas, em uma decisão polêmica pelos crimes de guerra atribuídos ao falecido governante.

A principal jurisdição do país aprovou por grande maioria a decisão do presidente filipino Rodrigo Duterte de permitir o traslado do caixão de Ferdinand Marcos (1917-1989) ao "Cemitério dos Heróis" de Manila, anunciou o porta-voz da Corte, Theodore Te.

O corpo embalsamado de Marcos se encontra atualmente em uma cripta na residência da família na província de Ilocos Norte, região norte das Filipinas.

"Nenhuma lei proíbe este enterro", afirmou Te ao ler um resumo da decisão, que provocou cenas de comemoração entre centenas de simpatizantes de partidários de Marcos reunidos diante da sede da Suprema Corte.

Ferdinand Marcos, eleito presidente em 1965 e reeleito em 1969, decretou lei marcial em 1972, alegando o perigo de uma rebelião comunista.

A partir de então governou o país com mão de ferro até a revolução 1986, que o obrigou a deixar o poder e fugir para os Estados Unidos com a família.

Com o apoio dos Estados Unidos, Marcos reprimiu com violência a oposição, inclusive a moderada, simbolizada pelo senador Benigno Aquino, cujo assassinato em 1983, quando retornava do exílio nos Estados Unidos, provocou a mobilização que culminou com o fim da ditadura.

Ao mesmo tempo, os meios de comunicação davam espaço ao culto à personalidade do ditador e de sua esposa Imelda, conhecida pela vida luxuosa e extravagante em um país de extrema pobreza.

"O governo de Marcos foi de uma excepcional violência", escreveu o pesquisador americano Alfred McCoy.

Durante o governo de Ferdinand Marcos, as forças de segurança mataram 3.257 pessoas. Muitas vezes os corpos eram deixados nas ruas para aterrorizar a população.

Além disso, 35.000 pessoas foram torturadas e 70.000 sofreram com a prisão arbitrária, destacou McCoy.

Marcos, também acusado de ter se apropriado de 10 bilhões de dólares pertencentes ao Estado, faleceu três anos mais tarde, em 28 de setembro de 1989, no Havaí.

Depois da morte de Ferdinand Marcos, a família foi autorizada a retornar às Filipinas e anos depois retomou as atividades políticas.

Imelda Marcos, viúva de ex-ditador, nascida em 1929, foi eleita deputada em 1995. Depois de uma pausa foi eleita novamente deputada em 2010 e reeleita em maio passado para um terceiro mandato.

Imee Marcos, filha do casal, foi eleita governadora de Ilocos Norte. O filho, Ferdinand Marcos Jr., foi deputado e senador.

Há vários anos a família Marcos organiza uma campanha para que o patriarca seja enterrado no cemitério dos heróis da nação, pedido rejeitado pelos presidentes anteriores.

Mas a situação mudou com o novo presidente, Rodrigo Duterte, eleito em maio com o apoio político e financeiro do clã Marcos.

Apesar de seus discursos contra a corrupção, Duterte sempre afirmou que Ferdinand Marcos foi o melhor presidente da história das Filipinas.

Ferdinand Marcos é considerado o segundo governante mais corrupto de todos os tempos pela organização Transparência Internacional.

Em agosto, a Comissão Histórica Nacional das Filipinas, um organismo governamental, se pronunciou contra a ideia do traslado.

"Marcos mentiu sobre as medalhas americanas que dizia ter recebido e seu expediente militar está repleto de mitos e incoerência", afirmou a Comissão.

"Um expediente controverso não pode servir de fundamento a nenhum reconhecimento histórico, nem para falar de um enterro em um local reservado, como o nome indica, aos heróis", argumentou a Comissão.

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