EUA, possível 'mão amiga' do Equador para evitar outro 'narcoestado'
A situação no país latino-americano é extrema, com "níveis atrozes de violência e terrorismo", advertiu o Departamento de Estado em um comunicado divulgado nesta quinta-feira, 11
Agência de notícias
Publicado em 12 de janeiro de 2024 às 14h41.
Os Estados Unidos podem oferecer "uma mão amiga" ao Equador contra o narcotráfico, sobretudo nos portos, para evitar que se torne o primeiro "narcoestado" da América do Sul, disseram analistas à AFP.
A situação no país latino-americano é extrema, com "níveis atrozes de violência e terrorismo", advertiu o Departamento de Estado em um comunicado divulgado nesta quinta-feira, 11.
A preocupação de Biden
O governo do presidente Joe Biden está preocupado e com razão. Desde domingo, o país está dominado pelo medo espalhado pelas gangues de narcotraficantes. Até a tarde de quinta-feira, Washington ainda não havia detalhado como será a cooperação com o novo presidente equatoriano, Daniel Noboa, de direita, mas a ideia é fazer isso em várias frentes.
Enviará ao país funcionários de alto escalão, como a chefe do Comando Sul, general Laura Richardson, e o subsecretário do Escritório Internacional de Narcóticos e Aplicação da Lei, Todd Robinson, além de policiais, para ajudar "nas investigações criminais".
A cooperação contra o crime organizado é "muito conveniente", depois de ter sido afetada por decisão do então presidente equatoriano de esquerda, Rafael Correa (2007-2017), de expulsar uma base militar americana, afirmou Vanda Felbab-Brown, diretora da Iniciativa sobre Atores Armados Não Estatais da Brookings Institution, "think tank" com sede em Washington.
O esforço deverá se concentrar na "infiltração do crime organizado em duas instituições", portos e aeroportos; no "fortalecimento dos controles, na reforma das prisões para torná-las muito mais seguras e no desenvolvimento de capacidades de investigação", explica.
Will Freeman, pesquisador para a América Latina do "think tank" americano Council on Foreign Relations, também destaca a importância do controle dos portos. O Equador precisa de pequenas embarcações para patrulhar as águas ao largo de sua costa e de radares e equipamentos de detecção de contêineres, enumera.
"Os Estados Unidos podem oferecer uma mão amiga nessas frentes", mas a Europa também deve participar da luta, diz ele à AFP.
Felbab-Brown concorda e lança uma ideia no ar: criar "um organismo internacional anticorrupção que fortalecerá o poder judicial", semelhante à Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG).
A armadilha
Ele adverte, no entanto, contra a armadilha da "má cooperação internacional".
"A China está exportando de maneira muito ampla e muito ativa suas abordagens anticorrupção e anticrime, muitas das quais se concentram no Estado de vigilância", afirma o especialista.
"Muitos governos latino-americanos estão interessados nessas" tecnologias inteligentes que prometem todo tipo de vigilância, mas que trazem "muitos riscos", como a "falta de respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades civis" e seu possível uso "para espionar escondido", alerta.
No nível doméstico, os Estados Unidos podem se beneficiar, se a luta contra o crime organizado for bem-sucedida.
Em 2023, as autoridades americanas interceptaram mais de 107.000 vezes migrantes equatorianos que cruzaram ilegalmente a fronteira com o México, muito mais do que no ano anterior. Trata-se de questão especialmente relevante em um ano eleitoral.
De qualquer maneira, o tempo urge.
"O Equador já se tornou um centro logístico para traficantes de drogas que enviam cocaína para Estados Unidos e Europa e, se nada mudar, caminha para ser o primeiro narcoestado em plena atividade da América do Sul", diz Freeman.
O escritor e jornalista italiano Roberto Saviano, um especialista em máfias que vive há anos sob proteção policial, fala de um "golpe do narcotráfico".
"O objetivo do narcogolpe não é tomar o poder, não é administrar com seus homens, nem controlar o Estado. Longe disso. O narcogolpe quer aterrorizar o país, restabelecer sua supremacia sobre o governo e obrigá-lo a negociar", escreve ele no jornal italiano Corriere della Sera.