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Estupro brutal choca a Índia. De novo

Um novo e selvagem estupro de uma jovem causou comoção na Índia. População foi às ruas protestar contra a atuação das autoridades no caso

Mulher protesta contra estupros na Índia: em 2014, ao menos 310 mulheres indianas sofreram algum tipo de violência. Números são subestimados (Getty Images)

Gabriela Ruic

Publicado em 6 de maio de 2016 às 14h32.

São Paulo – Um novo e selvagem estupro de uma jovem causou comoção na Índia. A vítima da vez foi identificada pelo noticiário local apenas como Jisha, ela tinha 30 anos foi encontrada pela mãe em uma poça de sangue do lado de fora da sua casa. Foi violentada e esfaqueada a ponto de seu intestino estar exposto. A causa da morte? Trauma na cabeça.

Jisha vivia em um bairro pobre e fora abandonada pelo pai ainda na infância. Criada apenas por sua mãe, que teve de ser internada depois do choque de ver o corpo da filha brutalmente violentado, batalhou até conseguir entrar da faculdade de Direito local. Faltava pouco para que ela pudesse mostrar ao mundo o seu diploma de advogada.

O caso aconteceu no último dia 28 de abril em Ernakulam, no estado de Kerala, a cerca de 500 quilômetros de Bangalore, e, de acordo com a agência de notícias Reuters, incendiou os ânimos da população, especialmente as mulheres , cansadas das ameaças e ataques.

Em resposta ao que foi visto como letargia das autoridades, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra a atuação da polícia no incidente. Segundo o jornal Times of India, a cena do crime não foi isolada corretamente, tampouco há pistas sobre o algoz de Jisha.

Nas redes sociais, o clima é de comoção e indignação. No Twitter, a hashtag “ #JusticeforJisha ” (Justiça para Jisha) foi usada por mulheres indianas para cobrar respostas sobre o que aconteceu naquela noite e pedir aos homens que se unissem à luta pelo fim da violência contra as mulheres.

Índia, um país violento para mulheres

Os casos de estupros violentos são frequentes Índia afora. O caso de Jisha é só mais um. Números compilados pela agência indiana de combate ao crime em 2014 revelaram que 310 mil mulheres foram vítimas de algum tipo de violência. 34 mil casos referiam-se ao estupro, enquanto 120 mil eram de violência doméstica. Esses dados, é claro, dizem respeito aos casos denunciados, mas organizações de defesa de direitos humanos acreditam que estão subestimados.

Discriminação por castas

Jisha era uma “dalit” (que é informalmente conhecida como a casta dos intocáveis). Embora a discriminação entre as castas tenha sido proibida na Índia há mais de 50 anos, a prática de segregar a população de acordo com suas heranças familiares continua forte no país.

Casos de violência contra essas pessoas aparecem com frequência nos noticiários. Elas são vistas como inferiores e, portanto, impuras, ainda que representem 16% da população da Índia.

Para as mulheres, essa segregação tem consequências fatais como mostram dados da International Dalit Solidarity Network (IDSN), uma organização internacional que visa atuar em prol dos direitos básicos dessas pessoas.

Estima-se que existam atualmente no país 80 milhões de mulheres que pertencem a esse grupo e uma pesquisa conduzida pela entidade com 500 delas revelou que 62% já haviam sofrido abusos verbais, 43% viveram em situação de violência doméstica e ao menos 23% foram vítimas de estupro.

O caso Jyoti

A brutalidade da morte de Jisha foi comparada a outro caso chocante que aconteceu no país em 2012. Em 16 de dezembro, Jyoti Singh, uma estudante de fisioterapia de 23 anos, voltava para casa com um amigo depois de assistirem ao filme “As Aventuras de Pi”. A dupla decidiu pegar um ônibus. Nele, Jyoti acabou estuprada e torturada por seis homens.

A história de Jyoti virou documentário nas mãos da cineasta Leslee Udwin, o “Filha da Índia”. Para compor o retrato da vida da jovem e dos problemas que a Índia enfrenta hoje com a violência contra a mulher, Leslee entrevistou dezenas de pessoas. Um dos estupradores da jovem, inclusive: Mukesh Sing.

Para surpresa do mundo, a reação de Sing sobre a razão do ataque foi de indignação. Indignação pela repercussão do caso, não pelos atos. Em entrevista ao site G1 na ocasião do lançamento do documentário, Leslee contou que esses homens quiseram ensiná-la uma lição, já que uma moça não deveria estar fora de casa após às 21h. “Ela deveria ter ficado em silêncio durante o estupro”, disse ele.

Mudanças

Desde o caso Jyoti, a Índia vem apertando os cintos quando o assunto é a violência contra a mulher e a igualdade de gênero. Em abril, ativistas intensificaram os esforços para tornar crime o estupro cometido no casamento . Até hoje, o sexo forçado entre marido e esposa não é considerado uma conduta criminosa.

O governo também vem apostando na tecnologia para proteger melhor suas mulheres, mães e filhas. A partir de 2017, os celulares na Índia passarão a contar com uma espécie de botão de pânico, por meio do qual uma pessoa poderá alertar amigos e familiares previamente designados sobre situações de perigo.

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São Paulo – Um novo e selvagem estupro de uma jovem causou comoção na Índia. A vítima da vez foi identificada pelo noticiário local apenas como Jisha, ela tinha 30 anos foi encontrada pela mãe em uma poça de sangue do lado de fora da sua casa. Foi violentada e esfaqueada a ponto de seu intestino estar exposto. A causa da morte? Trauma na cabeça.

Jisha vivia em um bairro pobre e fora abandonada pelo pai ainda na infância. Criada apenas por sua mãe, que teve de ser internada depois do choque de ver o corpo da filha brutalmente violentado, batalhou até conseguir entrar da faculdade de Direito local. Faltava pouco para que ela pudesse mostrar ao mundo o seu diploma de advogada.

O caso aconteceu no último dia 28 de abril em Ernakulam, no estado de Kerala, a cerca de 500 quilômetros de Bangalore, e, de acordo com a agência de notícias Reuters, incendiou os ânimos da população, especialmente as mulheres , cansadas das ameaças e ataques.

Em resposta ao que foi visto como letargia das autoridades, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra a atuação da polícia no incidente. Segundo o jornal Times of India, a cena do crime não foi isolada corretamente, tampouco há pistas sobre o algoz de Jisha.

Nas redes sociais, o clima é de comoção e indignação. No Twitter, a hashtag “ #JusticeforJisha ” (Justiça para Jisha) foi usada por mulheres indianas para cobrar respostas sobre o que aconteceu naquela noite e pedir aos homens que se unissem à luta pelo fim da violência contra as mulheres.

Índia, um país violento para mulheres

Os casos de estupros violentos são frequentes Índia afora. O caso de Jisha é só mais um. Números compilados pela agência indiana de combate ao crime em 2014 revelaram que 310 mil mulheres foram vítimas de algum tipo de violência. 34 mil casos referiam-se ao estupro, enquanto 120 mil eram de violência doméstica. Esses dados, é claro, dizem respeito aos casos denunciados, mas organizações de defesa de direitos humanos acreditam que estão subestimados.

Discriminação por castas

Jisha era uma “dalit” (que é informalmente conhecida como a casta dos intocáveis). Embora a discriminação entre as castas tenha sido proibida na Índia há mais de 50 anos, a prática de segregar a população de acordo com suas heranças familiares continua forte no país.

Casos de violência contra essas pessoas aparecem com frequência nos noticiários. Elas são vistas como inferiores e, portanto, impuras, ainda que representem 16% da população da Índia.

Para as mulheres, essa segregação tem consequências fatais como mostram dados da International Dalit Solidarity Network (IDSN), uma organização internacional que visa atuar em prol dos direitos básicos dessas pessoas.

Estima-se que existam atualmente no país 80 milhões de mulheres que pertencem a esse grupo e uma pesquisa conduzida pela entidade com 500 delas revelou que 62% já haviam sofrido abusos verbais, 43% viveram em situação de violência doméstica e ao menos 23% foram vítimas de estupro.

O caso Jyoti

A brutalidade da morte de Jisha foi comparada a outro caso chocante que aconteceu no país em 2012. Em 16 de dezembro, Jyoti Singh, uma estudante de fisioterapia de 23 anos, voltava para casa com um amigo depois de assistirem ao filme “As Aventuras de Pi”. A dupla decidiu pegar um ônibus. Nele, Jyoti acabou estuprada e torturada por seis homens.

A história de Jyoti virou documentário nas mãos da cineasta Leslee Udwin, o “Filha da Índia”. Para compor o retrato da vida da jovem e dos problemas que a Índia enfrenta hoje com a violência contra a mulher, Leslee entrevistou dezenas de pessoas. Um dos estupradores da jovem, inclusive: Mukesh Sing.

Para surpresa do mundo, a reação de Sing sobre a razão do ataque foi de indignação. Indignação pela repercussão do caso, não pelos atos. Em entrevista ao site G1 na ocasião do lançamento do documentário, Leslee contou que esses homens quiseram ensiná-la uma lição, já que uma moça não deveria estar fora de casa após às 21h. “Ela deveria ter ficado em silêncio durante o estupro”, disse ele.

Mudanças

Desde o caso Jyoti, a Índia vem apertando os cintos quando o assunto é a violência contra a mulher e a igualdade de gênero. Em abril, ativistas intensificaram os esforços para tornar crime o estupro cometido no casamento . Até hoje, o sexo forçado entre marido e esposa não é considerado uma conduta criminosa.

O governo também vem apostando na tecnologia para proteger melhor suas mulheres, mães e filhas. A partir de 2017, os celulares na Índia passarão a contar com uma espécie de botão de pânico, por meio do qual uma pessoa poderá alertar amigos e familiares previamente designados sobre situações de perigo.

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